Topo

Biden aposta na diversidade, com mulheres, negros e latinos no gabinete

09/12/2020 08h53

Joe Biden já divulgou seus nomeados para alguns dos principais cargos do seu governo e o que fica claro é que há muito mais diversidade, com mulheres e membros de minorias em cargos chave. Nesta semana, ele ainda deve oficialmente nomear o general aposentado Lloyd Austin como secretário de Defesa. Se confirmado pelo Senado, ele será o primeiro negro a comandar o departamento de Defesa dos Estados Unidos.

 

Por Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Outras nomeações pioneiras são a de Xavier Becerra como secretário de Serviços de Saúde e Humanos, que pode ser o primeiro latino a ocupar o posto, além de Janet Yellen, como secretária do Tesouro, e Avril Haines, como diretora de Inteligência Nacional, sendo elas as primeiras mulheres a ocuparem esses postos.

Além disso, Biden deve nomear a deputada Marcia Fudge como secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano e, assim, ela pode vir a ser a primeira mulher negra na chefia desse departamento.

A expectativa é que o presidente eleito deve se distanciar da política com foco em colocar os Estados Unidos em primeiro lugar, considerada isolacionista. Essa foi a posição que mais marcou o governo de Donald Trump, sendo, nos últimos quatro anos, alvo de constante críticas dos democratas.

Os nomes selecionados por Biden são para segurança nacional e política externa. Não há dúvida de que os escolhidos por Biden deixam a elite política de Washington respirar aliviada, na esperança de um retorno à normalidade. São atores bem conhecidos na capital americana, além de todos terem feito parte do governo de Barack Obama.

Como secretário de Estado, o nomeado é Antony Blinken. Blinken foi secretário adjunto de Estado e consultor adjunto de segurança nacional de Obama. Além disso, foi consultor de Biden quando o presidente-eleito era senador e foi quem o aconselhou a votar pela guerra no Iraque.

Jake Sullivan, que foi chefe de gabinete de Hillary Clinton quando ela era secretária de Estado, foi escolhido para ocupar o cargo de consultor de segurança nacional.

Assuntos climáticos

Uma novidade é o recém criado posto, dentro do âmbito de segurança nacional, para mais um veterano democrata, o ex-senador John Kerry. Kerry foi escolhido para atuar como Enviado Especial para Assuntos Climáticos.

Como embaixadora para a ONU, a escolhida é Linda Thomas-Greenfield, que também fez parte do governo Obama como secretária de estado assistente para assuntos africanos e que, depois de uma longa carreira no departamento de Estado, aos 68 anos, já estava aposentada.

Política pré-Trump

A ala mais progressista do partido democrata não ficou muito satisfeita ao ver que o status quo parece continuar inabalado. Mas há uma certa diversidade representada por Alejandro Mayorkas, cubano de nascimento, que foi escolhido para encabeçar o departamento de Segurança Interna e será o primeiro latino nesse posto.

Os nomeados de Biden ainda precisam ser aprovados pelo Senado.

A nomeação de membros do establishment de Washington sinaliza a intenção de uma volta à política pré-Trump, com visão globalista e mais focada em diplomacia. Mas isso pode não ser possível nos dias de hoje.

Muito mudou desde que Trump assumiu a presidência, em janeiro de 2017. Uma retomada à política do governo Obama pode agora não ser possível nem atraente.

China vista como ameaça

Uma nova realidade é que hoje a China é de fato vista como uma ameaça à liderança dos Estados Unidos, tanto por democratas quanto por republicanos no Congresso. Além disso, o cenário geopolítico passou por uma transformação no Oriente Médio. A equipe de Obama, que tanto se orgulhou do acordo nuclear com o Irã - que foi depois eliminado por Trump - pode agora concluir que retomar tal acordo pode ser algo hoje inviável.

Kerry deve ter como prioridade que os EUA voltem a fazer parte do Acordo de Paris. No entanto, hoje ele pode encontrar bem menos apoio interno para isso.

Um certo saudosismo pode, no início, estar guiando o governo Biden, mas terá de ser calibrado para a nova realidade, tanto no que diz respeito ao ânimo dos americanos quanto ao que se trata do cenário global que passou por uma grande transformação nos últimos anos. Outro indício de como as coisas mudaram, é que Biden divulgou seus nomeados no estilo Trump, pelo Twitter.

Na noite de segunda (23), Trump tuitou que estava autorizando Emily Murphy, a chefe do General Services Admnistration (GSA), órgão encarregado pelo processo de transição presidencial, a oferecer o suporte necessário à equipe de Biden.

O presidente disse que fazia isso porque Murphy estava sendo vítima de ameaças de democratas à sua segurança pessoal e de sua família. Mesmo assim, Trump afirmou que continuaria a contestar a eleição na Justiça e acreditava que por fim sairia vitorioso. Mas a decisão é um forte sinal de que o presidente está aceitando a derrota, especialmente porque seus advogados até agora não tiveram sucesso algum ao recorrer à justiça.

É improvável que Trump acabe por admitir claramente que perdeu a eleição, portanto, a decisão de liberar o GSA para dar início à transição pode ser o mais próximo que o republicano chegue de aceitar a vitória de seu rival.  Pessoas próximas a Trump dizem que ele já fala em continuar atuante na política americana ao se comunicar com seus eleitores pelo Twitter e também pensa em se aventurar no ramo de notícias. Além de, em breve, começar a fazer campanha para a eleição presidencial de 2024.