Guias virtuais brasileiros levam turistas a conhecer o mundo - à distância
Entre riscos de contaminação e restrições, a pandemia do novo coronavírus fez do turismo uma das suas maiores vítimas. Um ano antes da crise, o setor movimentou US$ 8,9 trilhões, 10,3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Criou 330 milhões de postos de trabalho, ou um em cada 10. Com cidades vazias, voos cancelados, hotéis e restaurantes fechados, a situação é sombria. Mas as restrições não significam que as pessoas tenham que parar de viajar, nem que os turísticos fiquem sem trabalho.
Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres
As viagens virtuais são uma nova tendência, ao matar a vontade dos curiosos e criar uma oportunidade valiosa para quem não quer ou não pode sair de casa, por motivos financeiros ou de saúde. A advogada Sayuri Koshima, há 10 anos no ramo, leva seus clientes estrangeiros para passeios por Salvador.
"Algumas empresas estão se especializado em turismo virtual. Não é à toque a Amazon fez um braço para o turismo virtual. Hoje, 50% do meu trabalho é turismo real e 50%, virtual", contou.
Conversa ao vivo durante o passeio
Antes da pandemia, as visitas virtuais se focalizavam em dar um gostinho do que os turistas iriam ver antes de viajar para o Brasil. Sayuri trabalha para algumas agências estrangeiras e criou um mutirão com outras três guias brasileiras em cidades diferentes para proporcionar uma experiência ainda mais completa sobre o país, a "Brazil Grand Tours".
"Muitas vezes eu mando um pacote de digital, lista de músicas do Brasil e a gente pode ir moldando de acordo com você. É bem diferente da experiência de Youtube, em que você só recebe a informação e não interage", compara. "Eu estou fazendo um tour virtual com você no centro histórico e eu passo por uma baiana. Eu te mostro a baiana, mas eu posso te perguntar: você gostaria de perguntar alguma coisa para essa baiana?", conta.
Hoje, Sayuri faz passeios para empresas, estudantes e famílias que estão distante e gostam de viajar juntas. Essa semana, ela fez um tour para brasileiros que reuniu mais de 200 pessoas.
"É uma hora em que não vão falar sobre problemas e vão interagir. Conhecer uma cultura é muito mais diversão do que qualquer outra coisa", disse.
Mês passado, Sauyri levou duas amigas, uma no Texas e outra em Londres, a um passeio pela comunidade Solar do Unhão, em Salvador. Ela visitou o restaurante da D. Suzana, prestigiada num programa sobre streetfood da Netflix. O tour terminou com um belo por do sol, que a dupla pediu para registrar em uma foto de recordação.
Mais fácil para ir à Rússia
Roteiros de quem viaja pela internet vão longe. Há quase uma década na Rússia, o historiador Rodrigo Ianhez, especialista em União Soviética, organizava a visita presencial de brasileiros. Com a pandemia, as viagens virtuais o mantiveram trabalhando.
Os roteiros vão do básico aos mais incrementados, como os passeios pelo realismo socialista. As visitas por Moscou ou pela antiga capital imperial São Petersburgo são conduzidas por ele, que ainda traduz o roteiro de Iacútia, na Sibéria, feito ao vivo por um guia local, em trajetos de três a quatro horas de duração.
Pode-se parar, perguntar e até pedir para que ele volte a um ponto de interesse para um rápido "print screen" - tudo para aproximar a experiência virtual da real. "Como as fronteiras da Rússia ainda estão fechadas, não consegui avaliar se vou receber mais turistas a partir de agora do que recebia antes. Acredito que eu teria de voltar ao Brasil se não tivesse encontrado essa alternativa, porque não recebo nenhum turista desde fevereiro do ano passado", afirmou Rodrigo, que indica ter ganho mais seguidores na internet, depois de seus passeios, cada um com cerca de 15 a 20 turistas.
Agora, Ianhez espera que a tendência continue mesmo depois da pandemia. "Muitas pessoas que vêm passear virtualmente conosco não poderiam vir presencialmente por várias razões. Mesmo em condições normais, pode se tratar de uma viagem distante e custosa, como essas da Rússia. Não tem voos diretos. É uma viagem bem cansativa", disse.
Nem sempre dá para filmar
O historiador ainda precisa driblar algumas restrições tipicamente russas. É preciso ter autorização para filmar certos lugares por questões, supostamente, de segurança nacional. Há 10 anos, o metrô era um desses locais: era proibido fotografar ou filmar as belas estações russas sem autorização expressa, cheia de carimbos oficiais.
"Achei que teria maiores problema para fazer as filmagens do que eu tive. A gente acaba dando preferência a lugares abertos, inclusive por questões de conexão", aponta. "Aqui em Moscou, por exemplo, a gente tem o famoso metrô, sem dúvida o mais bonito do mundo. Mas a profundidade das estações varia de 60 a 80 metros. A gente achava que teria dificuldades técnicas com maior frequência. Mas, no metrô, a gente consegue fazer passeios de mais de três horas, com pouquíssimas interrupções e a conexão boa", explica Rodrigo.
Opções por todo o mundo
Rodrigo trabalha com Alexandre Disaró, que comanda a Viajardecasa.com. Fotógrafo, apaixonado por viagens, ele decidiu criar a possiblidade de os turistas fazerem roteiros tão inusitados quanto esses da Rússia ou os da Tailândia, Nepal e Uzbequistão. Nesse último, o turista viaja pela vida de tecelão local que Disaró conheceu em uma de suas viagens, com quem se hospedou.
Há também os trajetos mais conhecidos como Paris, Roma, Florença e Veneza. Os roteiros são ensaiados meses antes de ir para o ar. E, de vez em quando, eles ainda oferecem vagas gratuitas para quem não pode pagar. Em geral, o passeio custa R$ 150 por pessoa (mais R$ 100 dos acompanhantes em um mesmo computador). Já os roteiros que existem tradução para o português (Yakutcha e Uzbequistão) custam R$ 200.
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