EUA: fotógrafa brasileira mostra como imigrantes superaram violência de gênero
O poder transformador da escuta de qualidade e o respeito às mulheres que sofrem violência de gênero são as principais mensagens transmitidas nas imagens da fotógrafa brasileira Luiza Tojer, exibidas em seu projeto multimídia online "The Power in You" ("O Poder em Você", em tradução livre).
Paula Moura, correspondente da RFI em Nova York
O trabalho traz fotos de quatro imigrantes brasileiras nos Estados Unidos que vivem na cidade de Nova York: Denisia Days, Nina Marqueti, Aline Estefam e Nicole Batista. As imagens são acompanhadas de textos com as histórias das mulheres, que contam como superaram a violência com terapia, arte e ativismo.
O projeto também oferece uma cartilha com informações de como apoiar qualquer mulher que esteja vivendo uma situação abusiva. A própria Luiza foi vítima de violência de gênero e também foi fotografada por uma das participantes, Nicole.
Natural de Salvador, Denisia, 44, conta que enfrentou racismo e descrédito no Brasil para denunciar a violência em delegacias e na Justiça. Depois de terminar um relacionamento, ela chegou até a recitar poesias em ônibus na capital baiana para conseguir sustentar sua família.
Hoje, trabalha como terapeuta holística em Nova York e acredita que a fotografia é capaz de empoderar as mulheres. "A fotografia é uma forma também de mostrar o quanto você está se sentindo bem com você mesma, independentemente das marcas internas", diz.
Depois de superar o relacionamento violento, casou-se com um americano e passou a enfrentar abuso emocional. Apesar disso, ela diz que não se sente vítima e está conquistando seu espaço para manter sozinha seu apartamento e suas filhas de 11 e 9 anos, mas a pandemia atrasou seus planos de independência financeira, como os de muitas mulheres.
Denisia considera que o mais importante é o apoio da comunidade, principalmente quando as mulheres são imigrantes e não dominam a língua do país. "É dar apoio para essas mulheres para que não se sintam sozinhas, não tenham medo de expor e falar e entendam que, se um cara está sendo abusivo, não é culpa delas", diz. "Acho que muitas mulheres acabam se sentindo culpadas, que não são suficientes para o cara, principalmente se é uma brasileira com um americano." A terapeuta foi fotografada dançando à luz do sol em sua sala com suas plantas, o que para ela representa amor-próprio e conexão espiritual.
Poder das mulheres
Para Luiza, fotógrafa autora do projeto, é importante focar não apenas nos abusadores, mas no poder das mulheres. "A fotografia e a contação da história dessas mulheres é para mostrar o quão forte nós somos, o que muitas vezes a gente não percebe, não consegue enxergar," diz. "A gente conta a história sobre a violência que essas mulheres sofreram, mas no final sempre conta como superaram a violência."
Luiza morou em Nova York por cinco anos e meio, mas decidiu voltar ao Brasil durante a pandemia e concluiu o trabalho à distância, fotografando de forma inovadora por meio de uma ferramenta do aplicativo Facetime. Ela clicou as mulheres em suas casas, em locais que refletem suas personalidades e sua força. O trabalho foi reconhecido pela prefeitura da cidade de Nova York e recebeu um incentivo para sua divulgação por sua relevância.
Michelle Viana, advogada brasileira em Nova York especializada em violência de gênero, diz que vem observando um aumento alarmante do número de ligações de mulheres brasileiras casadas com estrangeiros, buscando informação sobre seus direitos por sofrerem violência física e psicológica durante a pandemia.
Ela diz que o medo de perder a guarda dos filhos, o greencard (visto de permanência americano), ser deportada, ou não ter como pagar as contas são preocupações frequentes. Ao mesmo tempo, como possuem uma ligação emocional com os agressores, "elas não querem que o pai de seus filhos seja preso ou perca o emprego como consequência da tentativa delas de sair dessa situação de violência que sofrem", diz.
Informações práticas
O projeto The Power in You também traz informações em português e inglês sobre onde denunciar abuso, acesso a advogados e locais em que mulheres podem se refugiar tanto em Nova York quanto em Nova Jersey. Para Luiza, a falta de escuta de qualidade amplia o isolamento. "Estar numa situação de violência acaba muitas vezes nos isolando e as pessoas não entendem como a gente pensa e age, e nos deixam de lado. Então eu ensino como você pode dar esse acolhimento para a pessoa", diz.
Luiza diz que um dos maiores sofrimentos que passou foi não ter sido ouvida quando contou sobre o abuso que sofria. E acredita que, se as mulheres se informarem e se apoiarem, podem construir uma rede de apoio que impedirá o sofrimento de muitas. "Sabe aquele papo de sentar na sala, pegar um vinho e trocar uma ideia ou então tipo um café da tarde? 'Vamos conversar sobre a violência de gênero?' Acho que a partir daí é tanta coisa que vai ser abrir, pessoas que vão se educar, que vão falar, que vai começar a transformar toda a sociedade", diz.
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