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OMC e IFC: dois africanos tomam posse em prestigiosas instituições internacionais

01/03/2021 16h12

A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala assumiu as rédeas da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra, na Suíça, nesta segunda-feira (1°), em plena discussão sobre a quebra de patentes das vacinas contra a Covid-19. Já o senegalês Makhtar Diop assumiu como diretor executivo da IFC, a empresa financeira internacional, filial do Banco Mundial. Veja as trajetórias destas duas figuras brilhantes.

Se sua origem continental os aproxima, muitas coisas, por outro lado, separam a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala e o senegalês Makhtar Diop. Vinda de uma família de chefes tradicionais e pais de professores, a primeira estudou nos Estados Unidos e, em particular, nas prestigiosas universidades de Harvard e MIT. Já o segundo, filho de advogado, aprendeu a manejar os negócios na França, na Normandia (norte), antes de continuar seus estudos no Reino Unido.

Makhtar Diop há muito é influenciado pela escola de pensamento trabalhista inglesa e pelo keynesianismo americano, enquanto Ngozi Okonjo-Iweala é mais liberal na versão de "finanças públicas". Ambos ocuparam o cargo de Ministros das Finanças em seus respectivos países e são especialistas em políticas de desenvolvimento. É verdade que eles acumulam 45 anos de atividade dentro do Banco Mundial. A instituição que, de certa forma, os forjou e os trouxe à luz.

Aos 66 anos, Ngozi Okonjo-Iweala sem dúvida tem mais experiência governamental do que o senegalês de 60 anos, que por outro lado faz pesquisas na África, Ásia e América Latina há muito tempo. Os dois enfrentaram um desafio que conhecem bem por terem dedicado grande parte de suas vidas a isso: o combate à pobreza, que aumentou novamente no mundo devido à pandemia de Covid-19.

Primeiro dia intenso na OMC

A nova chefe da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, defendeu nesta segunda-feira (1°) o desbloqueio das negociações sobre os subsídios à pesca, no primeiro dia de um mandato histórico à frente de uma instituição em crise, e em plena pandemia.

"Chego a uma das instituições mais importantes do mundo e temos muito trabalho. Sinto-me pronta", disse Ngozi ao chegar, cedo, na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.

Primeira mulher e primeira africana a liderar a OMC, ela não perdeu um minuto e inaugurou pela manhã uma escultura de gelo representando peixes, instalada por ONGs, na companhia do embaixador da Colômbia, Santiago Wills, presidente das negociações sobre subsídios à pesca.

"Realmente sentimos que a sobrepesca, a sobrecapacidade e a pesca ilegal são fatores que prejudicam a sustentabilidade. Por isso é importante que concluamos as negociações o mais rapidamente possível", afirmou, indicando que a sua presença servia para apoiar Wills para "tentar desbloquear a situação".

Ela também reservou o dia à escuta, pois presidirá a primeira reunião do Conselho Geral e encontrará os vice-diretores gerais, que pilotaram a instituição durante os seis meses de vacância do poder e parte de sues equipes.

Duas vezes ministra das Finanças e chefe da diplomacia da Nigéria por dois meses, Ngozi, de 66 anos, substitui o brasileiro Roberto Azevedo, que deixou o cargo em agosto, um ano antes do final de seu mandato.

Rumo à quebra de patentes para as vacinas?

Em plena pandemia, Ngozi, que foi presidente da GAVI Alliance até o ano passado, pediu recentemente à OMC que se concentrasse nesta crise de saúde, já que os países estão divididos a respeito de uma isenção - proposta pela Índia e África do Sul - de direitos de propriedade intelectual sobre tratamentos e vacinas contra a Covid-19 para maximizar a produção global. O assunto será debatido nos próximos dois dias na OMC, mas nenhuma decisão é esperada sem consenso.

O Grupo de Ottawa, que reúne a UE e 12 países, entre eles Brasil, Canadá e Suíça, exigirá, por sua vez, que os países se comprometam, durante a pandemia, a não atrapalhar o comércio de medicamentos e eliminar tarifas sobre produtos considerados essenciais.

Além das discussões sobre a ajuda à pesca, que ela espera concluir na próxima conferência ministerial, vários outros grandes projetos aguardam a nova chefe da OMC, incluindo a resolução de conflitos entre a organização e os Estados Unidos.

Ela assume a chefia de uma instituição atacada, em particular, pela administração de Donald Trump, que era abertamente hostil à organização e havia até bloqueado o funcionamento do órgão de solução de controvérsias.

Nesta segunda-feira, Ngozi pediu aos membros da OMC para estabelecer um "plano para a reforma do sistema de solução de controvérsias" e para preparar um programa de trabalho sobre este tema. Diante de tantas tarefas, "o tempo é curto", alertou e propôs reuniões com os delegados "individualmente e em grupo" a partir desta semana.

(Com informações da AFP)