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Handebol: Seleção brasileira feminina termina fase de treinos em Portugal visando as Olimpíadas

21/03/2021 15h08

A seleção brasileira feminina de handebol termina nesta domingo (21) em Portugal uma nova fase de treinamentos visando as Olimpíadas de Tóquio. Foram 15 meses de espera para as atletas voltarem a treinar juntas, principalmente por causa da pandemia da Covid-19, que provocou o cancelamento de muitas atividades e comprometeu o calendário esportivo da modalidade.   

Durante esta semana, 19 atletas sob o comando do treinador Jorge Dueña e de seu auxiliar se dedicaram aos treinos no Complexo Desportivo de Alto Rendimento e de Preparação Olímpica de Rio Maior (DESMOR), em Portugal. 

Por causa das restrições provocadas pela pandemia, como a obrigatoriedade de respeitar uma quarentena na chegada ao país, duas atletas e seis oficiais não puderam deixar o Brasil. Mas a delegação brasileira, formada por muitas atletas que atuam em diversos países europeus, puderam se dedicar à preparação depois de um longo período sem atuar juntas pela seleção. 

"Estamos muito felizes de poder treinar para as Olimpíadas depois de 15 meses e em condições seguras. Já é uma situação favorável para a gente ter encontrado um local para treinar e nos sentimos em segurança para trabalhar", comemora  a goleira Bárbara Arenhart.  

"Todas as seleções estão passando pelas mesmas dificuldades, que é de encontrar locais seguros, a questão da adaptação com testes e os cuidados. Temos que nos acostumar. O ponto mais importante é que conseguimos nos encontrar para dar prosseguimento aos treinamentos para as Olimpíadas", acrescenta Baby, atleta gaúcha que atua em um clube de Montenegro.

A armadora Duda Amorim lembrou ainda que até os problemas internos da Confederação Brasileira de Handebol (CBHd), que passou por um período tumultuado envolvendo denúncias de corrupção e até assédio sexual de ex-dirigentes, dificultaram ainda mais um planejamento de treinos já bastante impactado pela pandemia mundial de Covid. 

"É muito mais complicado se reunir com a seleção durante a pandemia. Temos muitas situações de flexibilidade, com muitos testes, ficar no quarto e sair apenas para os treinos. Nos nossos clubes tem a questão de ganhar ritmo, muitas vezes nos nossos clubes quando alguém testa positivo tem que parar para ficar em quarentena. É uma sensação que estamos em pré-temporada o tempo todo", diz a atleta que joga na liga húngara. Ela ainda vê diferenças quando compara com a prepação de outras equipes nacionais.

"Certamente tem diferença entre uma seleção e outra. Algumas conseguiram se reunir em todas as fases e semanas (de jogos)  internacionais. Infelizmente o Brasil não conseguiu porque tivemos problemas e não necessariamente por causa do Covid, mas com a direção da Confederação. Mas agora finalmentre conseguimos nos reunir depois de 15 meses e estamos bem felizes com isso", comemora Duda.

Para a pivô Elaine Gomes, a atual preparação da seleção conta também com o desempenho individual das atletas em seus próprios clubes. "A nossa preparação está sendo forte, principalmente individual, com cada uma nos seus clubes tentando dar o seu melhor. Até porque nos prejudicamos bastante por não ter a oportunidade de ter outras fases de treinamento. Inclusive uma em novembro foi cancelada e isso é o que mais prejudica: não podermos estar juntas", diz a atleta que joga atualmente na Espanha, depois de uma temporada na França. "Mas o aspecto favorável é o sonho olímpico, essa vaga para as Olimpíadas e essa medalha tão sonhada", completa. 

A fase de treinos em Portugal contou com atividades físicas, treinos táticos e jogos contra a equipe portuguesa, que permitiram, segundo o treinador Jorge Dueñas, definir objetivos claros para esta equipe."Depois de 15 meses sem treinar, precisávamos  reunir todas essas meninas para ter muito claro os objetivos para os Jogos Olímpicos. Esta primeira atividade em Portugal está sendo muito positiva porque podemos fixar objetivos. A situação devido à pandemia é muito difícil porque temos que ter cuidados com a saúde, mas nesta primeira semana tudo ocorreu bem e é importante ter todas elas prontas para as Olimpíadas", disse em entrevista à RFI Brasil.

Potencial para subir no pódio

Classificada para as Olimpíadas desde a conquista do Pan Americano de Lima em 2019, a  seleção feminina de handebol espera voltar ao topo e conquistar uma inédita medalha para o país na modalidade. Oito anos depois de surpreender com a conquista do título mundial, a expectativa das jogadoras mais experientes é voltar a subir no pódio.

Potencial esta seleção tem, como lembra a goleira Baby, relativizando o 18° lugar no Mundial de 2017 e o 17° no Mundial seguinte, de 2019. "Eu acredito sim, que temos condições de subir no pódio. Cada vez que nos encontramos, percebemos uma melhora. Os nossos resultados nos dois últimos mundiais não foram os desejados, mas fizemos jogos bons, perdidos nos pequenos detalhes, que estamos trabalhando para melhorar. Acredito no potencial do nosso grupo e tenho certeza que a gente vai chegar preparada para bater de frente contra todas as equipes nos Jogos Olímpicos. Tenho muita fé nesse grupo e estamos trabalhando para chegar nas melhores condições possíveis". 

Duda Amorim, melhor jogadora do Mundial de 2013, também tem expectativas positivas para uma boa participação em Tóquio, apesar das dificuldades. "Nossa seleção está evoluindo bastante. Foi um ciclo muito complicado desde as Olimpíadas do Rio, com a troca de atletas e da comissão técnica. Já começou um ciclo com complicações, demorou oito meses até o técnico principal assumir. Depois teve várias fases que a gente não conseguiu se reunir, seja por falta de organização da Confederação, mas a gente tenta evoluir. Não temos o mesmo nível da equipe que ganhou o Mundial, mas é uma equipe bastante ambiciosa e dentro de uma Olimpíada, pode fazer um bom trabalho. No handebol feminino, o nível é bastante disputado, tem 10 equipes que podem chegar ao pódio, mas vamos lutar", afirma.

Planejamento até os Jogos

Neste final de semana a realização de vários torneios pré-olímpicos vão definir mais seis equipes classificadas para Tóquio. Os resultados devem permitir à comissão técnicar ter melhor visibilidade das futuras adversárias e afinar o planejamento. A menos de cinco meses para o início dos Jogos o treinador Jorge Dueñas espera ter pelo menos mais uma fase de treinamentos em abril, antes de começar a preparação final, em junho, com um trabalho mais focado na competição. 

"Penso que seria importante ter de três a cinco jogos antes de começar as Olimpíadas para ter a equipe bem ajustada logo no início da competição e ter bons resultados. Por isso é preciso ter uma bom planejamento de treinos e alguns jogos antes", defende o treinador.

Certo por enquanto, é que os Jogos de Tóquio vão acontecer sem a participação do público estrangeiro, conforme decisão anunciada pela organização do evento neste sábado (20). Longe do entusiasmo da torcida nas arquibancadas, as atletas se resignaram às restrições impostas pelo contexto sanitário. 

"É a melhor forma, a mais segura para todos nós não ter estrangeiros (no evento). O sentimento talvez vá ser o mesmo de um ginásio totalmente lotado com amigos ou fãs presentes. Mas só de estar jogando uma Olimpíadas, este é o sentimento mais incrível e gostoso que você possa ter", afirma a pivô Elaine. 

Para a goleira Bárbara, que não esconde um certo receio de participar do evento diante da propagação da pandemia, jogos sem público já são uma realidade e para as atletas o mais importante é a concentração dentro da quadra: "Querendo ou não tivemos que nos adaptar a jogar sem a autorização para a participação do público. Tivemos que nos acostumar com essa realidade. Está sendo diferente, mas o mais importante neste momento é focar no nosso trabalho". 

Duda Amorim, uma das mais experientes atletas da seleção, lamenta que os Jogos de Tóquio também vão se realizar sem a vibração dos torcedores ns arquibancadas. "Ainda é estranho jogar sem público. Quando tem jogos pela tevê colocam sons da torcida no fundo. Em alguns momentos até engana que é a torcida , mas quando os jogos estão empatados ou com um ou dois gols de diferença, realmente a torcida faz falta. É um cenário totalmente novo para a gente, mas desde julho que é assim e a gente já está acostumando um pouco. Mas, claro, a gente preferia que a torcida estivesse junto", diz.