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Eurocopa 2020 celebra 60 anos da competição, sob o risco de amargar retomada da pandemia

11/06/2021 07h16

Nesta sexta-feira (11), a bola finalmente começa a rolar nos gramados dos 11 países que recebem a Eurocopa 2020. Esta edição celebra os 60 anos da criação do campeonato, mas foi adiada por um ano, pela pandemia. A competição marca a reabertura dos estádios europeus para o público, com no mínimo 25% da capacidade, apesar de os números da vacinação e recuo da doença ainda não serem ideais na Europa.

É fato que, para muitos torcedores, a Euro simboliza a volta à uma vida normal com a qual o mundo inteiro sonha, desde o aparecimento do coronavírus. O técnico da França, Didier Deschamps, não esconde a satisfação: "O verdadeiro futebol é com os torcedores e estádios lotados. É uma fonte de motivação, mas também de adrenalina", disse. "O esporte, o futebol, também é esse compartilhamento de emoções. Acho que os torcedores também sentiram muita falta de estarem presentes. É um primeiro passo importante."

O historiador especialista em futebol Paul Dietschy assinala que não é a primeira vez que a competição marca história - tensões entre os países extrapolaram os limites diplomáticos e pararam no gramado na primeira edição, quando a Espanha se recusou a enfrentar a antiga União Soviética, uma situação que repetiu em 1964, entre Grécia e Albânia. Na edição de 1976, a Euro na ex-Iugoslávia marcava a abertura para o leste europeu.

"Com frequência, as edições da Euro acabam tendo um papel de renovação. Na Euro 1996, na Inglaterra, o futebol inglês estava de volta como protagonista depois da tragédia de Heysel e o dramático episódio dos hooligans", relembra. "Outro evento marcante é a Euro 2012, na Ucrânia e a na Polônia, quando dissemos que a Euro representava a paz. Agora, estamos numa configuração bastante nova."

Organização em diversos países causa polêmica desde o princípio

Desta vez, há uma série de "primeiras vezes": a primeira que será realizada em vários países, pelo aniversário de 60 anos, a primeira em que foi adiada, e a primeira em que ocorrerá sem estádios lotados. Essa organização descentralizada, aliás, causa dor de cabeça desde o princípio, recorda-se Loïc Ravenel, pesquisador e cofundador do Observatório do Futebol.

"A verdade é que é uma Euro mal-amada desde o início, coitada. Desde a escolha das cidades-sede, em 2012, já havia um monte de críticas ao fato de que ela não aconteceria em apenas um ou dois países", disse. "A ideia de fazer em 12 lugares diferentes já levantava problemáticas muito complexas desde o início, que causavam polêmica."

A pandemia de coronavírus só piorou esse contexto. Não à toa, a Irlanda abriu mão de sediar as partidas, por considerar a presença de público, obrigatória aos olhos da UEFA, uma abertura precipitada diante das condições sanitárias atuais no bloco: somente 30% dos europeus tomaram ao menos uma dose da vacina contra a Covid.

Apesar das rígidas medidas sanitárias, a verdade é que ninguém pode excluir o risco de que os jogos se transformarem em novos focos de contaminação, adverte Paul Dietschy. "Podemos compreender quem não quer porque, evidentemente, os estádios são lugares de promiscuidade. O distanciamento não é exatamente respeitado, que seja no estádio ou depois do jogo", frisa. "Portanto podemos temer, sim, que, assim como na Idade Média os exércitos transportavam com eles a peste, esses exércitos de torcedores poderiam relançar a epidemia de Covid."

Cada país com suas restrições

Ravenel lembra que a União Europeia não adotou uma política comum de combate ao vírus - portanto, cada país estabelece as próprias regras em relação à realização da Euro. Desta forma, no primeiro embate entre França e Alemanha, em Munique, são esperados 14 mil torcedores. Já na partida seguinte dos franceses, contra a Hungria em Budapeste, até 60 mil espectadores poderão estar presentes.

A UEFA tem pressa em recuperar os prejuízos do adiamento da competição: o cancelamento do evento causaria um prejuízo de cerca de € 2 bilhões. "Temos de ver que todos os ingressos para a Euro já foram vendidos há muito tempo. Teve uma demanda extraordinária desta vez, e a UEFA se encontrou diante deste problema: o que fazer com isso? Reembolsá-los? Nos organizarmos para que as pessoas possam utilizá-los? Permitir a troca entre aqueles que não querem ou não podem mais ir e os que querem?", observa.

Resta saber se as partidas estarão à altura para compensar tantos riscos. Entre as 24 seleções em campo, as favoritas para o troféu são as da França, Inglaterra, Bélgica e Portugal, atual campeã.