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Humorista francês poderá desembolsar R$ 200 mil por comentários negacionistas

05/07/2021 12h34

Uma multa de € 33 mil, cerca de R$ 200 mil, foi solicitada contra o polêmico humorista francês Dieudonné, que compareceu ao tribunal policial de Genebra nesta segunda-feira (5) por comentários negacionistas que teria feito durante shows na Suíça em 2019.

Dieudonné M'Bala M'Bala, 55, está sendo processado pelos tribunais de Genebra por "discriminação racial" por comentários que ele supostamente fez sobre "as câmaras de gás [nazistas]" entre 4 e 6 de janeiro de 2019, no teatro Marens, em Nyon, e em 28 e 29 de junho de 2019, no Centro de Animação Cinematográfica Voltaire, em Genebra.

Ele também está sendo processado por "insultar" a Coordenação Intercomunitária da Suíça contra o Antissemitismo e a Difamação (Cicad), por comentários feitos sobre esta associação sem fins lucrativos durante esse show na cidade suíça.

Dieudonné também é acusado de "difamação" por comentários feitos em 22 de novembro de 2019 em relação ao secretário-geral do Cicad, Johanne Gurfinkiel, durante entrevista concedida a um canal do YouTube em Genebra.

No final da audiência, na qual Dieudonné respondeu a perguntas do tribunal, o procurador Stéphane Grodecki, pediu a sentença de "180 dias de multa, a 200 francos suíços por dia, sem suspensão", que totaliza 36.000 francos suíços. Ele também exigiu que o humorista fosse condenado a pagar as custas do julgamento.

O promotor acusou-o de ter "minimizado o Holocausto ao negar a existência das câmaras de gás nazistas" e de ter, portanto, violado o artigo 261 bis, sobre "Discriminação e incitamento ao ódio", do Código Penal, argumentando que a "interferência na liberdade de expressão" não é proibida sob certas condições, incluindo o interesse público.

"Este julgamento é sobre antissemitismo, não sobre liberdade de expressão", disse Philippe Grumbach, advogado do Cicad. Ao que Me Pascal Junod, defensor de Dieudonné respondeu: "Estamos punindo o riso, estamos punindo o humor".

"Surpreso"

Dieudonné chegou ao julgamento pela manhã sorrindo e aparentemente relaxado, usando óculos escuros, tênis e uma longa túnica azul estampada com um distintivo verde que reproduz a forma do continente africano.

Questionado sobre essas afirmações negacionistas pelo presidente do tribunal, ele explicou que "absolutamente não nega a existência das câmaras de gás, que certamente foram desprezadas pelo horror desta guerra".

Ele ressaltou que é um dos personagens do show que profere a frase a que se refere a acusação, e que a frase negacionista foi escrita pelo coautor do programa.

Ele também disse que ficou "realmente surpreso" ao ser convocado pelo tribunal de Genebra, brincando sobre o fato de que esta é a primeira vez que um de seus personagens é julgado.

Dieudonné foi condenado na França em várias ocasiões por insultos raciais ou incitação ao ódio. Na sexta-feira (2), ele foi condenado em três processos distintos a quatro meses de prisão e duas multas de € 10.000 e 5.000, considerado culpado de "insulto público" e "incitação ao ódio".

O humorista também condenado através de recurso, no final de maio, a três anos de prisão, dois dos quais em regime fechado, e a uma multa de € 200 mil, por ter desviado mais de € 1 milhão em receitas não contabilizadas com seus espetáculos.

Questionado sobre essas muitas condenações, ele lançou nesta segunda-feira a jornalistas em Genebra: "Mandela foi condenado e foi presidente. Talvez eu me torne presidente".

(Com AFP)