Parisienses protestam contra "destruição" estética da cidade
Centenas de moradores de Paris fizeram uma manifestação na noite de terça-feira (6) em frente à prefeitura da capital, onde ocorria uma reunião do conselho municipal. A maior parte dos manifestantes eram membros de um coletivo reunido nos últimos meses nas redes sociais pela hashtag #saccageparis (com um ou dois "c"), que em tradução livre significa algo semelhante a "destruição de Paris".
Este coletivo de cidadãos denuncia a sujeira persistente nas ruas da cidade, o estado de abandono do mobiliário urbano, parcialmente substituído por uma linha mais simples e contemporânea - que acham horrorosos -, além da péssima gestão da crise do crack, que atormenta moradores do norte da capital. Críticos à gestão da prefeita socialista Anne Hidalgo, reeleita com quase 50% dos votos no ano passado, eles publicam diariamente fotos e vídeos nas redes sociais mostrando os problemas que encontram no espaço público.
O movimento acaba de conseguir uma vitória: a prefeitura desistiu do projeto de "nova estética parisiense", que previa a instalação de bancos feitos com restos de troncos de árvores em substituição aos bancos Davioud, criados na época do Segundo Império, em 1852.
Do ponto de vista ecológico, o novo mobiliário é compatível com as necessidades climáticas. Mas, do ponto de vista estético, muitos parisienses veem a mudança para um visual mais rústico como uma agressão ao patrimônio histórico.
Quem já visitou Paris deve se lembrar dos bancos pintados de verde da série Davioud, símbolo de elegância e estilo na opinião de seus admiradores.
Os novos bebedouros públicos em alumínio e design contemporâneo, que fazem concorrência com o modelo Wallace, em escultura de época criada pelo britânico Richard Wallace, também causam consternação nas redes.
Soluções rudimentares irritam moradores
Na manifestação desta terça-feira, relata o jornal Le Parisien, os criadores da hashtag #saccageparis também reclamaram dos cones amarelos do tipo barril, usados pela prefeitura nas chamadas "coronapistas", as ciclovias abertas durante a pandemia.
Outra "monstruosidade estética" citada por eles são as barreiras de concreto que pipocaram nas calçadas desde a onda de atentados de 2015.
Isso tudo sem falar na sujeira e no enorme problema que se tornou o tráfico de crack na zona norte da cidade. Há anos, traficantes e consumidores de crack ocupam praças e jardins públicos do 19° distrito de Paris, principalmente no bairro de Porte de la Chapelle. Os dependentes químicos assaltam moradores em busca de dinheiro para comprar a droga, protagonizam brigas que impedem as pessoas de dormir e deixam lixo espalhado nas ruas, provocando a desvalorização dos imóveis na região, afirmam.
A lista de reclamações do coletivo é longa. Muitos parisienses se exasperam com o trânsito infernal provocado pelas obras para extensão das linhas do metrô.
A pandemia trouxe outra novidade para as ruas de Paris: os cercadinhos de madeira do tipo parklet, instalados por restaurantes em antigas vagas de estacionamento a fim de evitar que as pessoas fiquem em ambiente fechado. Essa evolução urbanística acrescenta uma impressão de desordem e interfere no visual da "cidade museu", consideram os críticos.
Nessa terça, a polícia tentou manter os manifestantes distantes da entrada da prefeitura, o que provocou mais revolta entre os participantes. De megafone em punho, um dos organizadores gritava "parisienses revoltados", "chega de destruição em Paris". Um habitante do 18° distrito disse à reportagem do Le Parisien ter a impressão de que a prefeitura só limpava o seu bairro na véspera da eleição.
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