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Condenado à prisão perpétua, Carlos, 'o Chacal', enfrenta novo julgamento na França

20/09/2021 16h58

O venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido como Carlos "o Chacal", enfrenta a partir desta quarta-feira (22) seu terceiro julgamento por um atentado em uma galeria comercial de Paris em 1974. O terrorista já tem duas condenações à prisão perpétua.

O novo julgamento, ordenado em novembro de 2019 pelo Tribunal de Cassação, vai durar três dias. As audiências serão apenas para analisar a duração da pena, visto que a culpa do réu já foi estabelecida pela Justiça.

Figura da luta armada "anti-imperialista" dos anos 1970-1980, o Chacal, que hoje está com 71 anos, foi condenado em março de 2017 à prisão perpétua, uma sentença confirmada em um tribunal de apelação um ano depois, por ter lançado uma granada na galeria Drugstore Publicis de Paris. O atentado deixou dois mortos e 34 feridos.

Mas o Tribunal de Cassação anulou parcialmente a segunda sentença, que declarava o venezuelano culpado de assassinatos e tentativas de assassinato por "efeito de uma potência explosiva", mas também de transportar "um artefato explosivo sem motivo legítimo". Este tribunal, a mais alta instância judicial da França, considerou que o transporte da granada era "uma operação preliminar necessária para que ele cometesse outros crimes" e estimou que Carlos foi condenado duas vezes pelo mesmo ato criminoso.

Advogada virou sua namorada

"Um julgamento apenas para consertar a sentença não é sério. Ou fazemos um julgamento, ou não fazemos nada", declarou a advogada de Carlos, Isabelle Coutant Peyre, que durante sua prisão se tornou sua namorada. Ela também critica "os atrasos irracionais" do procedimento.

Preso na França desde sua captura em 1994, no Sudão, o venezuelano já foi condenado duas vezes à prisão perpétua pela Justiça francesa: por um assassinato triplo em 1975, em Paris; e por quatro atentados a bomba cometidos na França, em 1982 e 1983, que deixaram 11 mortos e 191 feridos.

O ataque na Drugstore Publicis aconteceu em 15 de setembro de 1974, na capital francesa. Por volta das 17h10, uma granada explodiu em um restaurante da popular galeria comercial, na esquina do boulevard Saint-Germain com a rue de Rennes, no bairro turístico de Saint-Germain-des-Prés

Segundo a acusação, o atentado buscava facilitar a libertação de um japonês detido em Orly, membro do Exército Vermelho japonês, um grupo armado de extrema esquerda que, simultaneamente, sequestrou reféns na embaixada francesa em Haia.

Uma vida de crime e perseguição

Ilich Ramírez Sánchez nasceu em Caracas, filho de um advogado marxista que escolheu para seus dois irmãos os nomes Lenin e Vladimir. Aos 15 anos, ingressou no Partido Comunista Venezuelano, então clandestino, antes de ir estudar em Moscou.

No início dos anos 1970 e depois de passar por um campo de treinamento na Jordânia, ingressou na Frente de Libertação da Palestina (FPLP). Foi nesse momento que ganhou seu nome de guerra, 'Carlos', a quem o jornal britânico The Guardian acrescentou o apelido de 'o Chacal'.

Os serviços franceses encarregados de investigar as atividades da FPLP na França descobriram Carlos em 27 de junho de 1975 em Paris, quando invadiram o apartamento de uma venezuelana por indicação de um informante libanês. Em sua fuga, Carlos matou dois policiais parisienses e o libanês que o havia delatado.

Naquela época, ele esteve envolvido em uma série de ações. Além do ataque na Drugstore Publicis, participou da tomada de reféns na embaixada da França em Haia e, posteriormente, de um ataque com mísseis ao aeroporto parisiense de Orly, em janeiro de 1975. Ele também supervisionou o espetacular sequestro de ministros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em Viena, em dezembro de 1975. Entre 1982 e 1983, "o Chacal" esteve por trás de outros quatro atentados a bomba na França, que deixaram 11 mortos e 191 feridos.

Depois de passar por vários países árabes e do Leste Europeu sob regime comunista, Carlos se estabeleceu em Damasco, em 1983. Onze anos depois, em agosto de 1994, foi capturado por agentes secretos franceses no Sudão e levado para a França. Desde então, os julgamentos se seguiram um após o outro.

(Com informações da AFP)