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"Ghosting": a arte de "sumir" sai dos aplicativos de paquera e entra no mundo corporativo

24/09/2021 15h16

A revista M do jornal francês Le Monde traz uma reportagem sobre as novas formas do ghosting, o fenômeno que, originalmente, consiste em "desaparecer" no ambiente digital, principalmente das redes sociais. Muito praticado nos aplicativos de paquera, o ghosting começa a ser visto também no mundo do trabalho, por pessoas que não respondem aos e-mails profissionais ou aquelas que simplesmente somem sem dar explicação em pleno processo seletivo para uma vaga. 

A revista do jornal francês Le Monde traz uma reportagem sobre as novas formas do ghosting, o fenômeno que, originalmente, consiste em "desaparecer" no ambiente digital, principalmente das redes sociais. Muito praticado nos aplicativos de paquera, o ghosting começa a ser visto também no mundo do trabalho, por pessoas que não respondem aos e-mails profissionais ou aquelas que simplesmente somem sem dar explicação em pleno processo seletivo para uma vaga. 

Segundo a reportagem, deixar de responder e-mails ou mensagens de áudio tem se tornado um fenômeno generalizado. Uma pesquisa realizada em seis países (Alemanha, Coreia do Sul, Dinamarca, França, Reino Unido e Estados Unidos) constatou que 72% das pessoas ouvidas têm o hábito de ignorar alguns e-mails profissionais. 

De acordo com Malene Rydahl, autora de um livro sobre assunto entrevistada pela revista, em dois terços dos casos a falta de resposta não está ligada a nenhum motivo pessoal e sim ao acúmulo de mensagens, que gera uma espécie de "sobrecarga mental". "Ou não temos tempo, ou esquecemos de responder, ou temos muitas mensagens", insiste a autora. 

No entanto, aponta a reportagem, essa nova versão do ghosting tem ganhado uma forma mais inusitada: a dos profissionais que, em pleno processo seletivo, desaparecem. Segundo o texto, isso acontece com mais frequência nos setores mais dinâmicos da economia, como nas profissões ligadas às novas tecnologias, onde a procura de trabalhadores é grande e os candidatos não querem mais esperar muito tempo antes de assinar um contrato. 

Um engenheiro na área da informática francês ouvido pela revista relatou que é muito solicitado via LinkedIn, mas que se o processo de recrutamento leva mais de duas semanas, ele perde a motivação e começa a negociar com outras empresas. Outra entrevistada admite que com o "ghosting profissional", ela se vinga daqueles que, no passado, não respondiam às suas candidaturas ou não davam retorno após as entrevistas de emprego. Esse comportamento mostra uma inversão no equilíbrio de poder entre candidatos e empregadores, adubada pela retomada econômica pós-pandemia, frisa a revista.

Mudar de emprego e "esquecer" de avisar o patrão 

Já a versão mais extrema do ghosting são aqueles contratados que não aparecem no primeiro dia de trabalho. Ou, pior ainda, os que assumem o cargo e, depois de alguns dias, abandonam o emprego sem dar satisfações. O texto explica que isso sempre ocorreu em setores como construção civil ou restaurantes, onde existe uma certa precariedade nos contratos oferecidos e, ao mesmo tempo, a facilidade de encontrar novas oportunidades. Porém, o fenômeno começa a ser cada vez mais frequente em cargos de responsabilidade, nos quais o funcionário encontra um novo emprego e abandona o anterior, mas "esquece" de avisar o patrão. 

"O excesso de escolhas, o fato de estar em um setor dinâmico ou de ter um perfil bastante procurado não são as únicas explicações para esse comportamento desrespeitoso", sentencia a revista. Segundo o texto, o "ghosting profissional" poderia estar ligado um fenômeno geracional, com pessoas que se acostumaram a "swiper" os perfis nos sites de relacionamento e acabam fazendo o mesmo no mundo do trabalho.

"Em busca de um sentido [para a vida] e cada vez mais distantes do mundo corporativo, muita gente não hesita mais na hora de sumir, sem explicação", resume a reportagem. Uma das entrevistadas explica que "os candidatos querem evitar os conflitos e o constrangimento, então acham mais fácil desaparecer do que enviar uma mensagem explicando suas razões". 

Entretanto, os especialistas ouvidos lembram que essa estratégia é arriscada para a reputação daquele que desaparece. "O mundo profissional é pequeno: o responsável pelo recrutamento de hoje pode se tornar o seu diretor de recursos humanos amanhã". Nesse caso, o "ghosting profissional" pode se tornar um verdadeiro fantasma e assombrar durante muito tempo, conclui ironicamente a reportagem da revista M.