Em busca de reeleição, Macron lança plano de € 30 bilhões para descarbonizar economia francesa
O presidente francês, Emmanuel Macron, provável candidato à reeleição em abril de 2022, anunciou nesta terça-feira (12) um plano de investimentos de € 30 bilhões em cinco anos, com o objetivo de aumentar a competitividade industrial do país, apoiar a inovação tecnológica e, simultaneamente, combater as mudanças climáticas. A ambição do pacote "França 2030" é descarbonizar a economia francesa, apostando em uma reindustrialização com menor emissão de gás carbônico.
Em cerimônia para 200 empresários e estudantes no Palácio do Eliseu, Macron afirmou que é necessário "aumentar a capacidade de crescimento da economia francesa pela inovação, para que o país possa continuar a financiar seu modelo de proteção social".
Uma grande fatia do plano, € 8 bilhões, será investida no setor de energia. Desse total de recursos, € 1 bilhão será aplicado no desenvolvimento de tecnologias inovadoras na área nuclear.
A operadora francesa de energia EDF estuda uma mudança de estratégia com a construção de pequenos reatores modulares (Small Modular Reactor, SMS), de potência menor que os instalados atualmente, porém dez vezes mais baratos do que os chamados EPR de nova geração, que podem custar de € 3 bilhões a € 19 bilhões. Ao mesmo tempo em que prolonga o investimento na energia nuclear, considerada uma fonte limpa, o governo quer otimizar a gestão dos dejetos radioativos que perduram enterrados no solo por séculos.
Em 2019, 80% da produção francesa de eletricidade de origem nuclear era garantida por usinas instaladas em quatro regiões do país: Auvergne-Rhône-Alpes (22,4%), Grande Leste (21,8%), Centro-Vale do Loire (19,2%) e Normandia (17,6%).
Em meio à atual crise energética provocada pela alta nos preços do gás, Macron quer fazer da França um "líder em hidrogênio verde", com a construção de duas fábricas de produção de hidrogênio sustentável, por meio do processo de eletrólise. "Devemos investir maciçamente para ajudar a descarbonizar" a economia, insistiu o chefe de Estado. Ele mencionou os setores de produção de aço, cimento e produtos químicos, que poderão usar o hidrogênio verde para substituir os combustíveis fósseis, bem como "abastecer caminhões, ônibus, trens e aviões".
Outros € 4 bilhões serão direcionados ao desenvolvimento de novos meios de transporte. A meta é produzir 2 milhões de carros híbridos ou elétricos até 2030, e desenvolver um avião de baixo carbono, um projeto de engenharia francesa, mas que deverá contar com o apoio de parceiros europeus.
Robótica para aumentar produtividade na agricultura
O setor agrícola deve absorver € 2 bilhões em inovações, como o uso da robótica, gestão digital e aperfeiçoamento genético. Os objetivos, nesse caso, são reduzir o uso de agrotóxicos, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade da alimentação e a competitividade da produção agrícola francesa, reduzindo as emissões de gases que elevam a temperatura da atmosfera.
Depois das lições da pandemia de coronavírus, € 3 bilhões serão destinados ao setor de saúde. O governo tem um projeto para produzir vinte biomedicamentos contra vários tipos de câncer, doenças emergentes e patologias crônicas relacionadas com o envelhecimento. Os biomedicamentos reúnem uma grande variedade de terapias - celulares, genéticas e hormonais.
Por fim, Macron anunciou investimentos de € 6 bilhões para duplicar a produção de chips eletrônicos até 2030.
O líder centrista ainda afirmou que a França precisa reduzir sua dependência na área de reciclagem e incentivou a criação de uma empresa especializada em reciclagem química por meio de enzimas.
Energia nuclear não é consensual
Apesar de Macron afirmar que a experiência acumulada pelos franceses no desenvolvimento da tecnologia nuclear "representa uma oportunidade" para o país, prolongar a produção de eletricidade por via nuclear é tema de forte controvérsia. O tema deve ser um dos principais da campanha às eleições presidenciais.
A imprensa local observa, nesta terça-feira, que pelo menos dois candidatos ao Palácio do Eliseu, o ecologista Yannick Jadot e o radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon, consideram essa tecnologia cara e perigosa, devido à perenidade dos dejetos radioativos.
Ex-diretor da ONG Greenpeace, Jadot defende a diversificação das fontes de energia limpa, com mais investimentos na construção de parques eólicos offshore, exploração da energia geotérmica, ainda incipiente na França, entre outras fontes renováveis.
Contra o argumento da independência energética, Mélenchon lembra que o urânio, utilizado nas usinas nucleares, provém de países como Níger ou Cazaquistão. Enquanto presidenciáveis de esquerda e verdes são contra a concentração de investimentos neste setor, concorrentes de centro e de direita são favoráveis.
O Instituto de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN) publicou recentemente uma nota alertando contra a tentação do low-cost, ou seja, os riscos que implicam a construção de reatores de baixo custo.
Quanto aos franceses, uma pesquisa Odoxa realizada em março de 2021 mostrou que 59% da população continua apoiando esse tipo de energia. O percentual caiu em relação a uma sondagem de 2013, que apontava 67% de apoio.
Nas páginas do jornal Le Parisien, a analista Céline Bracq, diretora do Odoxa, lembra que os franceses sempre apreciaram a eletricidade produzida por reatores nucleares. Eles consideram que os acidentes são raros, apesar do cocorrido em Fukushima (2011), no Japão. Além disso, o custo final da energia para o consumidor é menor na França do que em outros países europeus.
(RFI e agências)
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