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COP26: mais de 80 países se comprometem a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030

02/11/2021 16h53

Preservar florestas e reduzir as emissões de metano: os líderes mundiais vieram em auxílio do clima nesta terça-feira (2) na COP26 com dois grandes acordos que visam conter a emissão de gases muito prejudiciais do efeito estufa. Com a meta de um aquecimento global de +1,5°C, líderanças de todo o mundo estão sob pressão para fazer mais contra as mudanças climáticas, durante a conferência do clima da ONU, em Glasgow (Escócia).

Mais de 80 países, incluindo a União Europeia e os Estados Unidos, se comprometeram em reduzir drasticamente as emissões de metano em pelo menos 30%, até 2030, em relação aos níveis de 2020. "O metano é um dos gases que podemos reduzir mais rapidamente. Com isso, ele irá desacelerar imediatamente a mudança climática", declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, observando que esse gás é responsável por "cerca de 30%" do aquecimento global, desde a Revolução Industrial.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar "cautelosamente otimista". Apesar do anúncio de pactos globais para conter o desmatamento e as emissões do gás metano, "ainda há um longo caminho a percorrer" para conseguir isso, acrescentou.

"É um dos gases de efeito estufa mais poderosos", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, garantindo que os signatários desse compromisso representaram 70% do PIB global. O governo americano divulgou nesta terça-feira uma série de regulamentações destinadas a reduzir "significativamente" as emissões de metano da indústria de petróleo e gás no país.

As novas regulamentações propostas pelos Estados Unidos "reduziriam as emissões de metano em 41 milhões de toneladas, entre 2023 e 2035", informou a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA). Isso é o equivalente a "920 milhões de toneladas" de CO2, acrescentou a agência, "mais do que a quantidade de dióxido de carbono emitida por todos os passageiros americanos em veículos e aviões comerciais, em 2019".

"É um momento histórico, é grandioso", comentou o chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, estimando que se o objetivo for alcançado, a redução seria equivalente a todas as emissões do transporte terrestre, marítimo e aéreo. Isso "poderia reduzir o aumento da temperatura em cerca de um terço de grau até 2045", acrescentou Joanna Haigh, professora do Imperial College London, saudando "uma importante contribuição para limitar o aquecimento global".

Efeito de aquecimento até 29 vezes maior

Menos conhecido que o CO2, o metano (CH4) é o segundo gás do efeito estufa ligado à atividade humana, principalmente pecuária, combustíveis fósseis e resíduos. É importante ressaltar que seu efeito de aquecimento é cerca de 29 vezes maior por quilograma do que o CO2, em cem anos, e cerca de 82 vezes, em um período de 20 anos.

Para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), reduzir essas emissões é, portanto, uma oportunidade importante para desacelerar o aumento das temperaturas no curto prazo e ajudar a reduzir a lacuna entre as trajetórias atuais de emissões de gases de efeito estufa, de 2,7°C, e aquelas que seriam compatíveis com um mundo a +1,5°C ou +2°C em comparação com a era pré-industrial, os objetivos do Acordo de Paris.

"Os líderes mundiais estão certos em combater as emissões de metano, mas os anúncios de hoje ficam aquém da redução de 45% que a ONU diz ser necessária para limitar o aquecimento a +1,5°C", comentou Murray Worthy, da ONG Global Witness. "Uma queda de 30% é um começo, mas não é suficiente para 1,5°C", acrescentou Dave Jones, do think tank Ember, referindo-se aos grandes ausentes do acordo: China, Índia, Austrália e Rússia. "Os super emissores das minas de carvão devem dar o primeiro passo e reconhecer a escala do problema", insistiu.

Os Estados Unidos e a UE haviam anunciado em meados de setembro que trabalhariam juntos neste acordo, com a participação de dezenas de outros países, incluindo Canadá, Brasil, Coreia do Sul, Japão, Vietnã, Colômbia e Argentina. Ao todo, a iniciativa, chamada de "Global Methane Pledge", reúne os cem países que representam 40% das emissões globais de metano.

O comprometimento do governo brasileiro, no entanto, inspira dúvidas por parte dos ambientalistas. "É importante lembrar que, no caso brasileiro, o metano está muito ligado à atividade pecuária. É muito difícil que o governo Bolsonaro queira implementar qualquer restrição nesse sentido. Mas o governo que está aí passará, e nós discutiremos como implementar o que foi estabelecido na COP26 no próximo governo", alerta Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima.

Pulmões do planeta

Emitir menos, mas também eliminar mais. Pulmões do planeta junto com os oceanos, as florestas desempenham um papel essencial no combate às mudanças climáticas, absorvendo uma parcela significativa dos bilhões de toneladas de gases do efeito estufa lançados na atmosfera a cada ano pelas atividades humanas.

É por isso que os líderes de mais de cem países que abrigam 85% das florestas do mundo, incluindo o Brasil, muito criticado por sua política ambiental, prometeram nesta terça-feira parar sua degradação e restaurar essas "catedrais da natureza".

O Brasil publicou nesta segunda-feira (1º) no site do Ministério do Meio Ambiente um documento em que oficializa a meta de terminar o mandato de Jair Bolsonaro com o desmatamento na Amazônia 16% superior ao de 2018, último ano antes do novo governo. Ao mesmo tempo, assinou nesta terça-feira em Glasgow, com outros 104 países, uma Declaração sobre Florestas que se compromete a "parar e reverter" a perda florestal no mundo, até 2030. "A declaração nós temos, o que falta agora é governo", afirma Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

(Com informações da AFP)