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Desmond Tutu, ícone da luta contra o apartheid na África do Sul, morre aos 90 anos

26/12/2021 07h43

O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz e ícone da luta contra o apartheid, faleceu neste domingo (26), aos 90 anos. O religioso lutava contra um câncer de próstata desde o final dos anos 90 e, nos últimos tempos, seu estado de saúde se agravou. 

Em comunicado, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, expressou tristeza e saudou a "inteligência extraordinária" de Desmond Tutu, "uma figura essencial da história do país", que fez parte de uma geração de cidadãos que libertaram a África do Sul do apartheid". O chefe de Estado também lembrou a luta do religioso "pelos oprimidos do mundo inteiro".

"The Arch", como era carinhosamente chamado pela população, foi o primeiro arcebispo negro da igreja anglicana na África do Sul. Ele ficou célebre no país na época em que era padre e liderou a resistência dos piores momento do apartheid. Corajoso e incansável, ele organizou marchas pacíficas contra a segregação e denunciou o regime racista de Pretória.

Seu combate não-violento lhe valeu o prêmio Nobel da Paz, em 1984. Após a instituição da democracia na África do Sul, em 1994, e a eleição de Nelson Mandela, de quem era amigo, Tutu liderou a Comissão da Verdade de Reconciliação, com o objetivo de virar a página do ódio racial no país. 

Na instituição, ele coordenou as investigações sobre as violações dos direitos humanos cometidas entre março de 1960 e dezembro de 1993. A comissão conseguiu realizar um minucioso trabalho de recolhimento de depoimentos e dados sobre os massacres cometidos pelo regime racista. No entanto, um comitê especial encarregado de anistias permitiu a troca de informações pelo perdão a alguns autores das atrocidades, o que gerou uma enxurrada de críticas da comunidade negra contra Tutu.

O arcebispo estava enfraquecido há vários meses, após décadas de luta contra o câncer. Ele não se pronunciava mais publicamente, mas sempre saudava as mídias durante seus deslocamentos, como no evento religioso que celebrou seus 90 anos na Cidade do Cabo, em outubro, ou quando foi a um hospital recentemente se vacinar contra a Covid-19. 

Onda de comoção 

A morte de Tutu gerou uma onda de comoção no país. A Fundação Mandela classificou o falecimento do religioso como "imensurável". "Ele era maior do que a natureza (...), um ser humano extraordinário. Um pensador. Um líder. Um pastor".

Em sinal de luto, os jogadores sul-africanos de cricket utilizaram uma braçadeira preta no primeiro dia do campeonato da modalidade. "Choramos sua morte", reagiu o arcebispo angliano do Cabo, Thabo Makgoba. "Como cristãos e fiéis, devemos celebrar a vida de um homem profundamente espiritual", reiterou.

Após o presidente sul-africano, o primeiro líder a reagir sobre a morte de Tutu foi o premiê britânico Boris Johnson. No Twitter, ele se disse "profundamente entristecido". "Vamos lembrar dele por sua liderança espiritual e seu bom humor inabalável", escreveu.

(RFI com agências