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Combustível caro veio para ficar: veja como os países enfrentam a alta do petróleo

21/01/2022 14h20

Os preços exorbitantes dos combustíveis estão longe de causar preocupação só no Brasil. Com a redução da produção mundial de petróleo, decidida pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), e tensões internacionais em países como Cazaquistão, Líbia e Ucrânia, a alta do valor dos combustíveis leva os governos mundo afora a analisar medidas para atenuar o impacto no bolso dos consumidores.

As perspectivas não são boas. O preço do barril de brent no mercado internacional deve se aproximar do patamar de US$ 100 em 2022, segundo analistas. No Brasil, porém, o aumento é acentuado pelo câmbio desfavorável - na última vez que o barril era cotado a este valor, o dólar valia R$ 2, mas hoje está em R$ 5,42.

"Não houve investimentos em petróleo nos últimos cinco anos, por causa da transição energética, e agora não tem oferta para atender a demanda que está forte, com a retomada econômica mundial", explica o especialista em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, em entrevista à RFI. "Fatores econômicos e geopolíticos levam a uma tempestade perfeita. E, no Brasil, o câmbio não deve retroceder porque é ano de eleição, com muita polarização política."

Para enfrentar o problema, o presidente Jair Bolsonaro almeja derrubar impostos federais sobre os combustíveis para minimizar o problema - uma medida já adotada em países como Portugal, desde novembro. "O governo está preparando uma PEC para zerar impostos federais e prevendo a criação de um fundo de estabilização de preços. Só que o Ministério da Economia se opõe a esse fundo", nota Pires. "Se vier só os impostos, é muito pouco. Eles não chegam a 10% dos preços do combustível."

Risco de caos social

O especialista avalia que o país perdeu a oportunidade de "criar um colchão" quando o petróleo estava a US$ 20, no início da pandemia. Agora, a nove meses das eleições presidenciais, qualquer intervenção de emergência será vista como populista.

"Por mais que seja acusado de ser medida eleitoreira, tem que fazer alguma coisa, para não resultar em caos social. Nós estamos em uma pandemia. O nível de pessoas desempregadas, dormindo na rua, sem renda, é absurdo", frisa Pires.

"No governo Dilma, a gente teve caos social por 20 centavos de aumento nas passagens de ônibus. Agora, a gente está prevendo que o aumento deve ser de 80 centavos, por causa do preço do petróleo. O governo tem que tomar uma providência", diz o especialista, que defende uma política pública para evitar que a volatilidade dos preços repercuta imediatamente no bolso do consumidor.

Pires alega que o Brasil foi "o único país no mundo" a não se preparar melhor para se proteger das flutuações no exterior. "Até nos Estados Unidos, a meca do capitalismo, o presidente Biden usou reservas de petróleo americano para jogar no mercado e tentar baixar o preço da gasolina e do diesel. Portugal criou uma espécie de voucher, em que você coloca tantos litros de gasolina ou diesel e recebe a devolução de uma parte", exemplifica. "Sou contra intervencionismos e acho que subsídios são uma prática que deve ser feita com muito cuidado. Mas não pode ser radical. O nosso país é pobre."

Na França, o difícil equilíbrio entre custo elevado e transição ecológica

Na França, 2022 também é ano eleitoral - em que a tomada de iniciativas mais contundentes para frear os preços se torna tentadora, de olho nas urnas. Mas a equação é delicada. O governo francês dispõe na manga da carta da redução de um imposto sobre os combustíveis fósseis, de mais de 60%, para incentivar a transição energética. A medida, entretanto, vai de encontro à imagem "verde" que o provável candidato à reeleição Emmanuel Macron se esforça para transmitir.

Em plena corrida presidencial para o pleito de abril no país, vários candidatos, como a da extrema direita, Marine Le Pen, e a socialista, Anne Hidalgo, propõem a redução da TVA, o imposto sobre valor agregado, para baixar alguns centavos o preço do litro da gasolina, que já chega a € 1,7. Essa solução é descartada por Macron, que evoca um custo de no mínimo € 8 bilhões aos cofres públicos para financiar o rombo.

O governo francês estuda atualmente a adoção de novas medida para atenuar os preços nos postos, mas mantém a cautela, em um contexto de explosão do orçamento pelos custos da pandemia. Em outubro, um "cheque-energia" de € 100 foi oferecido para as seis milhões de famílias mais modestas, e em dezembro foram distribuídos mais € 100 para compensar a disparada da inflação para mais de metade da população.