Gigantes TotalEnergies e Chevron anunciam sua saída de Mianmar após pressão de ONGs
A francesa TotalEnergies e a americana Chevron anunciaram, nesta sexta-feira (21), sua saída de Mianmar, onde atuavam no projeto de gás natural de Yadana. A decisão das duas gigantes da exploração de combustíveis foi anunciada após os pedidos de ONGs de direitos humanos, como protesto à repressão militar na antiga Birmânia.
Quase um ano após o golpe de Estado de 1º de fevereiro de 2021, que derrubou a líder birmancesa Aung San Suu Kyi e encerrou um parêntese democrático de dez anos, Mianmar continua mergulhado no caos. Porém, são raras as empresas estrangeiras que deixaram o país, apesar dos apelos das ONGs diante da sangrenta repressão aos protestos e das advertências de analistas que evocam um ambiente "tóxico" para investimentos.
"O contexto, que continua a piorar em Mianmar em termos de direitos humanos, levou-nos a reavaliar a situação e já não permite que a TotalEnergies dê uma contribuição positiva suficiente neste país", explicou o grupo francês nesta manhã.
O processo de retirada "previsto nos contratos do campo de Yadana e da empresa de transporte MGTC em Mianmar" foi iniciado "sem qualquer compensação financeira para a TotalEnergies", especificou a gigante francesa do setor da energia, estabelecida desde 1992 no país.
Logo depois, foi a vez de a Chevron, americana que atua no mesmo mercado, seguir o exemplo. "Reavaliamos nosso interesse no projeto de gás natural de Yadana para permitir uma transição planejada e ordenada que levará à retirada do país", disse um porta-voz da companhia, Cameron Van Ast.
Ambiente "tóxico" para investimentos
A retirada da TotalEnergies será efetivada em seis meses. Sua participação e as operações do campo serão divididas entre os demais sócios.
A TotalEnergies é sócia (31,24%) e operadora do campo Yadana (blocos M5 e M6) ao lado das americanas Unocal-Chevron (28,26%), PTTEP (25,5%), subsidiária da companhia nacional tailandesa, e da empresa estatal birmanesa MOGE (15%), controlada pelo Exército.
A decisão "reflete o quão tóxico Mianmar se tornou como ambiente para investir", avalia o analista Richard Horsey, do International Crisis Group.
Em entrevista à RFI, a diretora do escritório francês da Human Rights Watch, Bénédicte Jeannerod, indicou "a importância de evitar qualquer cumplicidade nas atrocidades cometidas pela junta militar da Birmânia". A ONG faz parte de um grupo que pressiona há meses as multinacionais a deixarem o país.
A Human Rights Watch também vem pedindo aos Estados Unidos e à União Europeia que derterminem sanções para cortar o financiamento do regime birmanês. O diretor-presidente da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, afirmou em uma carta que apoia "a instauração de medidas direcionadas" à junta.
"Agora a bola está no campo dos governos, para trabalhar sobre essas sanções, com o objetivo que o dinheiro do gás não vá para os bolsos dos militares e não financie crimes contra a humanidade", declarou Bénédicte Jeannerod à RFI. Segundo ela, são os lucros do gás que financiam a junta em moeda estrangeira. "É neste setor que se precisa interferir e sancionar", defende.
Raras multinacionais encerraram atividades em Mianmar
Além da TotalEnergies e da Chevron, outras empresas estrangeiras já haviam feito as malas, como o grupo norueguês de telecomunicações Telenor e a francesa de energia renovável Voltalia. A distribuidora de energia francesa EDF decidiu suspender sua atividade temporariamente no país. Já as marcas de moda H&M e a Benetton bloquearam as encomendas.
A própria TotalEnergies já havia encerrado um projeto de desenvolvimento de um novo campo, interrompido suas campanhas de perfuração e suspendido os pagamentos aos acionistas de um gasoduto, incluindo uma empresa controlada pelo exército birmanês. Sozinho, o grupo francês pagou cerca de US$ 230 milhões às autoridades birmanesas em 2019, e algo em torno de US$ 176 milhões, em 2020, na forma de impostos e "direitos de produção".
O campo de Yadana produz cerca de 6 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. Deste total, cerca de 70% são exportados para a Tailândia, e 30% são fornecidos à empresa birmanesa MOGE para o mercado interno.
(RFI com agências)
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