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'Partygate': Boris Johnson diz que não vai renunciar e se agarra com unhas e dentes ao cargo

26/01/2022 17h44

Em meio ao escândalo causado pelas festas privadas realizadas em Downing Street enquanto o país estava sob restrições da pandemia, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson respondeu energicamente às questões dos parlamentares nesta quarta-feira (26) e voltou a dizer que não renunciará ao cargo.

Com informações de Daniel Vallot, da RFI, e de Sébastien Seibt, da France24.

A sessão de perguntas ao premiê começou sob a expectativa da publicação do relatório de Susan Gray, funcionária encarregada de investigar internamente mais de uma dezena de festas organizadas na sede do governo britânico durante períodos de lockdown.

Enquanto Boris Johnson tentava responder às críticas da oposição trabalhista com ataques diretos e virulentos, por vezes de cunho pessoal, contra os deputados, não houve notícias sobre a investigação. No entanto, uma nova denúncia foi publicada na imprensa.

Desta vez, o tema não eram as festas clandestinas, mas e-mails que sugerem que o premiê teria autorizado pessoalmente a evacuação aérea de animais de um refúgio no Afeganistão enquanto milhares de pessoas faziam filas desesperadas diante do aeroporto de Cabul para tentar fugir do domínio do Talibã.

As mensagens, reveladas pela comissão que investiga a retirada de pessoas do Afeganistão, contrariam diversas declarações de Boris Johnson e de outros ministros, que negam a implicação do premiê no caso. Este é apenas mais um ingrediente no cadeirão da crise.

Renúncia não é opção para o premiê

Diante do Parlamento britânico, Boris Johnson renovou sua intenção de se agarrar ao cargo de primeiro-ministro com unhas e dentes, em resposta à insistente pergunta do líder do Partido Trabalhista Keir Starmer sobre se ele iria se demitir.

"Nós amamos este país e estamos fazendo tudo o que podemos para ajudá-lo. Mantivemos nossas promessas sobre o Brexit, sobre as vacinas, sobre a criminalidade e também sobre a economia. Com isso quero dizer: tomamos as decisões difíceis, fizemos as escolhas certas nos momentos certos e pretendemos continuar esse trabalho, eu em especial", afirmou.

Nesta semana, o premiê não pediu desculpas nem mostrou qualquer arrependimento diante do Parlamento. Seu mantra era o de que há uma investigação em andamento e ele não deve tecer comentários.

A estratégia do governo Johnson é claramente de tentar mudar de assunto, falando sobre a pandemia ou a crise da Ucrânia, e deixar a poeira baixar enquanto não são divulgados os resultados dos dois inquéritos, o interno feito pela funcionária do gabinete do primeiro-ministro, e aquele aberto pela polícia de Londres.

Investigações serão decisivas

O resultado destas investigações provavelmente será decisivo para o futuro do premiê. A investigação policial pode resultar na imposição de multas por violação das regras sanitárias -mas o efeito político da condenação seria devastador.

A investigação interna também é vista como crucial. Susan Gray, que é chamada pelos britânicos de "a mulher mais poderosa de quem nunca ninguém ouviu falar, passou as últimas semanas analisando e-mails, mensagens de texto trocadas em Downing Street, assistindo horas de filmagem de segurança e entrevistando policiais que trabalharam na segurança da residência oficial de Boris Johnson.

Espera-se que o relatório responda a uma pergunta central: Boris Johnson mentiu ao Parlamento britânico ao dizer que não estava ciente da natureza festiva destas reuniões?

Se o relatório indicar que ele tinha consciência dos eventos e mentiu, é improvável que o conservador consiga permanecer no cargo.