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"Eu amo o grupo Estado Islâmico", diz Salah Abdeslam em julgamento sobre atentados de 13 de novembro

09/02/2022 11h21

A afirmação foi feita nesta quarta-feira (9) pelo principal acusado dos atentados terroristas de 13 de novembro de 2015 na capital francesa e seus arredores, durante seu primeiro interrogatório desde o início do processo, no Palácio de Justiça de Paris, nesta quarta-feira (9). 
 

"Não matei e nem feri ninguém. Desde o início do caso, fui alvo de calúnias o tempo todo", disse Abdeslam, o único membro vivo do grupo de terroristas que cometeu a série de ataques na capital parisiense e região em 2015. Os atentados deixaram 130 mortos .

"Para mim, o Ocidente impõe sua ideologia e seus valores para o resto do mundo. Vemos que em muitos países árabes e muçulmanos, os valores ocidentais se sobrepõem aos valores islâmicos. Para nós, muçulmanos, é uma humilhação", declarou. "Eu apoio o grupo Estado Islâmico e os amo, porque eles estão presentes no cotidiano, combatem, e se sacrificam", insistiu, repetindo palavras que já haviam chocado os familiares dos sobreviventes dos ataques de 13 de novembro no início do processo, em setembro.

"Vejo como Bashar Al-Assad trata seu povo, mata crianças e inocentes. Como membro do grupo Estado Islâmico, eles têm meu apoio e meu amor", declarou, vestindo uma camisa branca, com as mãos cruzadas.

"Atentados foram operação militar"

 O jihadista também criticou as penas "extremamente severas" determinadas em casos de terrorismo. "No futuro, quando alguém entrar em um metrô com uma mala cheia de 50 kg de explosivos, e decidir voltar atrás no último minuto, saberá que não tem essa possibilidade, senão será preso ou morto", falou Abdeslam, que ainda não esclareceu seu papel na noite de 13 de novembro.

Ele afirma ter jurado obediência ao grupo Estado Islâmico apenas 48 horas antes dos ataques, que, de acordo com ele, foram uma "resposta militar aos bombardeios da coalizão internacional no Iraque e na Síria. "Os atentados foram, antes de tudo, operações militares que tinham por objetivo cessar os bombardeios da coalizão", repetiu. "Os autores dos ataques responderam às agressões da França e do Ocidente, e se mataram civis, foi para impressionar", explicou.

O interrogatório de Salah Abdeslam deve durar dois dias. Sua mãe, irmã e ex-namorada, que também deviam prestar depoimento, não participarão das audiências, segundo o presidente do Tribunal de Justiça de Paris, Jean-Louis Périès. A Justiça também busca esclarecer como o francês de 32 anos, fã de cassinos e boates, converteu-se ao islamismo radical. Ele foi preso em 18 de março de 2016, na Bélgica, após mais de quatro meses foragido. Muitas questões ainda continuam em aberto, como seu papel no ataque e se carregava ou não um cinturão de explosivos.

A Justiça francesa ainda não sabe, por exemplo, se ele decidiu não usá-lo na última hora. A perícia mostrou que o equipamento não foi ativado. No interrogatório desta quarta-feira, tais perguntas continuarão sem resposta, já que vão se concentrar no período anterior a setembro de 2015. 

Um dos pontos cruciais para reconstruir a trajetória de Abdeslam e a organização do atentado é entender como foi sua estadia na Síria, no início de 2015. A Justiça também busca entender a participação de seu irmão, Brahim, que atuou do ataque a áreas externas de Paris, e de seu amigo, Abdelhamid Abaaoud que coordenou os atentados. O tribunal também tentará esclarecer os motivos de uma misteriosa viagem que ele fez à Grécia.

(Com informações da AFP)