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Guerra na Ucrânia: bombardeio a hospital infantil em Mariupol choca comunidade internacional

10/03/2022 07h46

'Bárbaro', 'imoral', 'crime de guerra': o bombardeio, na quarta-feira (9), a um hospital infantil pelas forças russas na cidade sitiada de Mariupol provocou indignação de autoridades ucranianas e ocidentais. O ataque deixou três mortos, incluindo uma criança, e 17 feridos, informou a prefeitura local nesta quinta-feira (10). 

O Kremlin anunciou nesta quinta-feira que vai pedir ao exército russo "informações" sobre o bombardeio ao hospital pediátrico na Ucrânia.

O ataque ocorreu na véspera de discussões na Turquia entre os ministros das Relações Exteriores russo e ucraniano. Este é o primeiro encontro entre os chanceleres dos dois países desde o início da invasão russa da Ucrânia, há duas semanas.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que condenou um "crime de guerra", compartilhou vídeos mostrando a destruição do prédio, onde funcionava uma maternidade e um hospital pediátrico, em Mariupol, porto estratégico no Mar de Azov (sudeste). Nas imagens podem ser vistos destroços, folhas de papel e cacos de vidro espalhados pelo chão do edifício.

 A Casa Branca, por sua vez, denunciou o uso "bárbaro" da força contra civis, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, chamou o ataque de "imoral".

O bombardeio ocorreu enquanto as mulheres davam à luz no hospital, que acabava de ser reequipado, informou um membro da administração militar da região de Donetsk.

O governo russo não negou o ataque, mas afirmou que "batalhões nacionalistas" ucranianos estavam usando o hospital como base de disparos.

Os nove dias de cerco de Mariupol já mataram 1.207 pessoas, disse a prefeitura na noite de quarta-feira.

Em seu último relatório, divulgado na quarta-feira, a ONU estimou que 516 civis foram mortos na Ucrânia e mais de 800 ficaram feridos desde o início da invasão, que já deixou mais de dois milhões de refugiados.

Rússia tenta cercar Kiev

O Estado-Maior ucraniano indicou na última noite que as forças russas continuam a "operação ofensiva" para cercar Kiev. Ao mesmo tempo, as cidades de Izium, de Petrovske, Hrouchouvakha, Sumy, Okhtyrka, ou as regiões de Donetsk e Zaparojie também são atacadas.

Colunas de tanques russos estavam a apenas 15 km de distância na quarta-feira, perto de Brovary, periferia da capital. A 30 km desta localidade, também ocorreram combates na região de Rusaniv, disseram soldados ucranianos.

"As colunas de tanques russos tomaram duas aldeias a poucos quilômetros de distância. Eles atiram para assustar as pessoas e forçá-las a ficar em casa para que as forças ucranianas não os bombardeiem", disse um morador.

O chefe da administração militar da região de Sumy, na fronteira com a Rússia, Dmytro Jivitsky, declarou que duas mulheres e um menino de 13 anos foram mortos em um bombardeio noturno em Velyka Pysarivka. Ele também anunciou que três corredores humanitários, com diferentes pontos de partida, devem ser abertos nesta quinta-feira para retirar os moradores da região para a cidade de Poltava.

A Rússia e a Ucrânia negociaram na quarta-feira um cessar-fogo para permitir a abertura de corredores humanitários em torno de áreas atingidas nos últimos dias pelos combates, que forçaram os civis a permanecerem por dias escondidos em porões.

Pelo menos 35.000 civis puderam deixar na quarta-feira Sumy, Enerhodar e áreas próximas à capital Kiev, anunciou o presidente Zelensky na noite de quarta-feira.

Conversas

Nesta quinta-feira, os chanceleres russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Dmytro Kuleba, são  recebidos pelo ministro turco Mevlut Cavusoglu em Antalya (sul), um balneário popular entre os turistas russos.

Na quarta-feira, Kuleba assegurou em um vídeo no Facebook que faria tudo para que as "conversas (fossem) tão eficazes quanto possível", mas adiantou que tinha "expectativas limitadas".

"Não tenho grandes esperanças, mas faremos tudo para tirar o máximo proveito disso", disse ele, acrescentando que "tudo dependerá das instruções que Lavrov receber antes dessas negociações".

Esta é a primeira vez desde o início da guerra em 24 de fevereiro que Lavrov deixa a Rússia, cada vez mais isolada pelas sanções ocidentais.

EUA: deputados aprovam assistência militar de US$ 14 bilhões

Os deputados americanos adotaram na noite de quarta-feira um novo orçamento federal que prevê um envelope de quase US$ 14 bilhões para a crise ucraniana. O texto, que propõe medidas econômicas, humanitárias e também a entrega de armas e munições para Kiev, deve agora ser votado no Senado.

O FMI também aprovou uma ajuda de emergência no valor de US$ 1,4 bilhão para a Ucrânia.

Na quarta-feira, Washington rejeitou definitivamente a oferta da Polônia de entregar seus aviões MiG-29 aos militares dos EUA para posterior entrega à Ucrânia. O governo americano considera que a oferta de Varsóvia poderia provocar uma escalada russa. Desde o início, os Estados Unidos e seus aliados tentam ajudar a Ucrânia, evitando o envolvimento direto da Otan no conflito.

Após duas semanas de guerra, os efeitos das sanções ocidentais aumentam a cada dia na Rússia, com um número crescente de multinacionais que se retira do país após a invasão da Ucrânia. As mais recentes foram as gigantes japonesas de videogames Sony e Nintendo que anunciaram a suspensão de vendas e serviços para a Rússia.

(Com informações da AFP)