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Sri Lanka tem maior manifestação desde início de protestos contra o governo

09/04/2022 09h53

Dezenas de milhares de pessoas se manifestaram neste sábado (9) na capital Colombo contra o presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, acusado de ser responsável por uma crise econômica sem precedentes no país, marcada por uma alta inflação e a escassez de combustíveis.

Respondendo às convocações nas redes sociais, manifestantes marcharam ao longo do calçadão à beira-mar no distrito de Galle Face, no centro de Colombo, agitando bandeiras do Sri Lanka e cartazes exigindo a saída do chefe de Estado. Esta foi a maior manifestação desde o início do movimento de protestos, de acordo com jornalistas da AFP que cobrem o movimento.

A passeata foi pacífica, mas as forças antidistúrbios, equipadas com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo, se posicionaram em frente à sede da presidência, localizada no percurso da manifestação. "Todos nós temos dificuldades para viver. O governo deve sair e deixar que uma pessoa capaz lidere o país", gritou um idoso no meio da multidão.

As Igrejas Anglicana e Católica do Sri Lanka também convocaram manifestações. O próprio cardeal Malcolm Ranjith, líder dos católicos do país, estava à frente de uma passeata em Negombo, um subúrbio ao norte de Colombo. "Todo mundo deve sair às ruas até que o governo saia. Esses dirigentes devem sair. Eles destruíram este país!", declarou o clérigo.

Mesmo as classes patronais, que apoiaram Rajapaksa durante suas campanhas eleitorais, se somam agora ao descontentamento geral. Em um comunicado conjunto, 23 federações da indústria, representando grande parte do setor privado do Sri Lanka, pediram uma mudança de governo e afirmaram que milhões de empregos estão em risco com a crise. "O atual impasse político e econômico não pode durar mais. Precisamos de um governo interino no máximo em uma semana", revelou Rohan Masakorala, líder da poderosa associação da indústria da borracha.

Na fila há cinco dias

O Sri Lanka, com 22 milhões de habitantes, está passando por uma profunda crise econômica, marcada por escassez de alimentos e combustível, cortes de energia, inflação galopante e dívidas abismais. Neste sábado, a maioria dos postos de combustíveis em todo o país estava sem gasolina e os poucos que permaneceram abertos estavam lotados. Em Panadura, um subúrbio de Colombo, alguns motoristas estavam na fila para abastecer há cinco dias, de acordo com a mídia local.

Na opinião dos economistas, a crise, iniciada devido à pandemia de Covid-19, que privou o país da atividade turística, foi agravada por uma série de más decisões políticas. Na última quinta-feira (7), foi nomeado um novo gestor para o Banco Central, Nandalal Weerasinghe. No processo, a instituição monetária elevou a taxa básica de juros para 14,5%  - um aumento recorde de 7 pontos percentuais  - em uma tentativa de "estabilizar" a rupia, que perdeu mais de 35% de seu valor em um mês.

"Estamos tentando limitar os danos", comentou Nandalal Weerasinghe, nesta sexta-feira (8), durante sua primeira entrevista coletiva. "Nós não teríamos sido forçados a fazer um aumento tão acentuado se as taxas tivessem sido aumentadas gradualmente, durante um longo período", argumentou ele, prometendo relaxar os controles introduzidos por seu antecessor nos mercados de títulos.

O antigo gestor do Banco Central do país, Ajith Cabraal, é alvo de uma denúncia que também o responsabiliza pela crise. Ele teve seu passaporte confiscado e deve enfrentar os tribunais no próximo dia 18.

O governo reconhece que esta é a pior crise econômica desde a independência do país, em 1948, e pede ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mas as negociações podem se prolongar até o final do ano.

(Com informações da AFP)