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Drama familiar de Arnaud Desplechin é o primeiro filme francês a entrar na competição em Cannes

20/05/2022 11h47

Mais dois filmes entram na competição oficial do 75° Festival de Cannes nesta sexta-feira (20): "Boy From Heaven" (Menino do Paraíso), do cineasta sueco de origem egípcia Tarik Saleh; e "Frère et Soeur" (Irmão e Irmã) de Arnaud Desplechin que é o primeiro dos quatro filmes franceses selecionados a entrar na disputa pela Palma de Ouro. Outra exibição marcante do dia será "Three Thousand Years of Longing", do diretor australiano George Miller, fora da competição.

O longa francês "Frère et Soeur" de Arnaud Desplechin é o primeiro dos quatro filmes franceses selecionados a entrar na disputa pela Palma de Ouro, estrelado por Marion Cotillard. O filme conta a história de uma atriz, Alice, e seu irmão, Louis, professor e poeta, interpretado por Melvil Poupaud.

Os dois se odeiam, não se veem há mais de 20 anos e se reencontram no enterro dos pais. Eles nem se lembram mais direito por que se detestam - o ódio estruturou e destroçou a família. 

Arnaud Desplechin assina com "Frère et Soeur" um novo drama sobre as neuroses familiares, que já tinha inspirado seu "Um Conto de Natal", de 2008. O cineasta participa com frequência de Cannes. O último longa é o sétimo de sua autoria selecionado no festival, em várias mostras, mas ele nunca foi premiado no evento até agora. 

Ele contou à imprensa francesa que escreveu "Frère et Soeur" depois da receptividade fria do público e da crítica de "Roubaix, une lumière", que concorreu à Palma de Ouro em 2019. "Eu estava muito infeliz porque os críticos não tinham entendido meu filme. Foi terrível e comecei a escrever 'Irmão e Irmã", disse ao canal BFMTV.

Thriller político-religioso

"Boy From Heaven", de Tarik Saleh, é um thriller político-religioso. Depois de ter tentado dissecar o início da revolução egípcia em "Cairo Confidencial", de 2017, o cineasta volta ao Egito para, desta vez, abordar as disputas políticas e religiosas na maior universidade do país. 

Adam, filho de um pescador, consegue entrar na Universidade do Cairo, uma das instituições de ensino do Islã sunita de maior prestígio no mundo. A morte inesperada do Grande Imã no seu primeiro dia de aula e a briga pela vaga na direção da instituição envolvem Adam, interpretado por Tawfeek Barhom, nas intrigas de poder da elite egípcia. É a primeira vez que Tarik Saleh concorre à Palma de Ouro.

O tapete vermelho mais espetacular desta sexta-feira sera provavelmente o da equipe de "Three Thousand Years of Longing" (Três Mil Anos de Esperando), do cineasta australiano George Miller, fora da competição. O longa, estrelado por Tilda Swinton, é uma história de gênio da lâmpada, baseada em um conto de A.S. Byatt, de 1994.

A personagem principal, Alithea Binnie, está em Istambul quando encontra um gênio, interpretado por Idris Elba. Como nas « Mil e Uma Noites », ele propõe satisfazer três pedidos dela em troca da sua liberdade. Mas Alithea sabe que histórias desse tipo acabam quase sempre mal e conta ao gênio seu passado extraordinário. Ele é seduzido pelo relato e ela acaba fazendo um pedido surpreendente.

George Miller quis filmar essa história porque ela "explora vários mistérios e paradoxos da existência". O diretor, vencedor de um Oscar, tem consciência de que "Three Thousand Years of Longing" vai dar uma imagem muito diferente de sua carreira, marcada entre outras obras, pelo thriller pós-apocaliptico Mad Max: Estrada da Furia, de 2015.

Documentário póstumo sobre Mariupol bombardeada

Nessa quinta (19) e sexta-feira, a exibição de "Mariupolis 2", documentário póstumo do diretor lituano Mantas Kvedaravicius, fora da competição, foi um momento de muita emoção. O filme sem narração ou música revela a vida sob as bombas na cidade portuária ucraniana sitiada, pelas tropas russas. 

O cineasta, que havia realizado "Mariupolis" em 2016, tinha voltado à Ucrânia no início da guerra, para reencontrar os personagens do seu primeiro documentário. Ele filmou, durante alguns dias no final de março, o dia a dia de um grupo de pessoas refugiadas no subsolo de uma igreja evangélica. Ao redor do local, muita destruição. Pela janela, ele filma a cidade alvo de um bombardeio intenso. O barulho das bombas é incessante e amedrontador.

Mantas Kvedaravicius morreu quando tentava deixar Mariupol, vítima do ataque das forças russas. A companheira dele conseguiu deixar a Ucrânia com as imagens que foram exibidas em Cannes. O documentário é um copião, um documento bruto das cenas filmadas pelo cineasta, e teria sido muito mais impactante se tivesse sido editado. Mas a pressa era grande para exibir as imagens em Cannes para denunciar a invasão russa na Ucrânia, como o evento tem feito desde a cerimônia de abertura, marcada pelo discurso do presidente Zelensky.