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Depois de décadas, Israel admite usar drones armados para ataques direcionados

21/07/2022 11h49

Em uma grande mudança de discurso, o Exército Israelense passou a admitir usar aeronaves armadas não tripuladas, os chamados drones ofensivos, em seus ataques aéreos, a exemplo das operações que mataram líderes do Hezbollah e do Hamas.

Por Michel Paul, correspondente da RFI em Jerusalém

A informação sempre foi marcada por uma certa dualidade - podendo ser considerada amplamente conhecida, mas sempre preservada em sigilo pelas forças israelenses. Apenas agora os militares israelenses decidiram admitir usar drones armados para ataques direcionados. Informação que por 30 anos foi classificada como "confidencial de defesa" pelas autoridades militares do país.

Nesta quarta-feira (20) o órgão censor das Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) permitiu finalmente divulgar o que aparentemente todos já sabiam. "Entende-se que não há impedimento em tornar público o uso de UAVs [veículo aéreo não tripulado, em tradução livre] em ataques feitos pelas IDF como parte de suas atividades operacionais", revelou o censor em uma mensagem.

Em parte, o sigilo se justificava pela adesão de Israel, em 1991, às diretrizes do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), um acordo político multinacional e informal entre 35 países que tem como objetivo limitar a proliferação de mísseis e de suas tecnologias relacionadas. Os drones armados se enquadrariam nessa categoria, obrigando Israel a omitir sua utilização, assim como suas operações de venda.

De acordo com o The Jerusalem Post, os esquadrões de drones do país participam de cerca de 80% de todas as operações de voo das Forças Aéreas Israelenses. Pelo menos quatro esquadrões de drones estariam situados na Base Aérea de Palmahim, ao sul de Tel Aviv, de onde decolam 70% das operações aéreas militares.

Yitzhak Rabin

A introdução dos drones como arma estratégica de combate no Exército acontece em 1990, sob a decisão do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin, com a intenção inicial de destruir os tanques inimigos com o menor número possível de perdas humanas. Uma decisão supostamente motivada pela Guerra árabe-israelense do Yom Kippur, em outubro de 1973.

Mas os drones ofensivos israelenses acabariam por ser empenhados também na eliminação de líderes do Hezbollah e do Hamas, mais especificamente do palestino Ahmed Jabari, em Gaza, em 2012.

Ainda que disponha de uma grande diversidade de modelos de drones armados, o tipo mais utilizado pelas Forças de Defesa Israelenses é o Hermes 450, capaz de pairar sobre alvos por horas e fornecer ataques precisos no momento determinado.

Pioneiro neste campo de atuação, o Estado judeu vendeu recentemente cerca de 140 drones armados do tipo Heron para a Alemanha e acaba de concluir uma transação com o Marrocos para o fornecimento dos chamados "drones suicidas" Harop, com alcance de até 1 mil km. Este veículo aéreo de combate não tripulado é apelidado de "munição de ladrão".