Topo

Ucrânia: Washington pede zona desmilitarizada em torno de usina nuclear de Zaporíjia

11/08/2022 15h24

Os Estados Unidos pediram nesta quinta-feira (11) que a Rússia cesse todas as operações militares dentro e ao redor de usinas nucleares na Ucrânia e afirmaram que apoiam o pedido de Kiev por uma "zona desmilitarizada" em Zaporíjia, novamente bombardeada.

"Lutar perto de uma usina nuclear é perigoso e irresponsável", declarou um porta-voz do Departamento de Estado americano, acrescentando que "os Estados Unidos continuam pedindo à Rússia que cesse todas as operações militares dentro e ao redor de usinas nucleares e devolva o controle total à Ucrânia".

Os Estados Unidos "apoiam os apelos ucranianos por uma zona desmilitarizada dentro e ao redor da usina nuclear", disse ele.

O local da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, foi novamente bombardeado nesta quinta-feira, com a Ucrânia e a Rússia acusando-se mutuamente.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também alertou para o risco de uma "catástrofe" pouco antes de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre o assunto, a pedido da Rússia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu o estabelecimento de uma zona desmilitarizada em Zaporíjia, onde as tropas russas assumiram o controle em 4 de março, logo após o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

"A situação está piorando, substâncias radioativas estão localizadas nas proximidades e diversos sensores de radiação foram danificados", observou a empresa estatal ucraniana Energoatom após esses ataques.

Toneladas de resíduos radioativos

"Atualmente, nenhuma contaminação foi detectada na estação, e o nível de radioatividade é normal", afirmou Evguéni Balitski, chefe da administração civil e militar instalada nesta região do sudoeste da Ucrânia, salientando que lá estão armazenadas "muitas toneladas" de resíduos radioativos.

"Cinco novos ataques foram relatados nas proximidades de um depósito de substâncias radioativas", informou a Energoatom, apontando para as forças russas.

Um oficial pró-Rússia, Vladimir Rogov, membro da administração regional instalada por Moscou, por sua vez, culpou "os combatentes do [presidente ucraniano] Zelensky", evocando cinco disparos de diversos lançadores de foguetes e peças de artilharia pesadas na margem direita do Dnieper, o grande rio que atravessa a região, no mesmo local e em termos idênticos.

"A grama pegou fogo em uma pequena área, mas ninguém ficou ferido", afirmam as declarações russas e ucranianas, que relataram cinco outros projéteis caindo perto de um quartel de bombeiros localizado não muito longe dali.

Diversos atentados em que as duas partes também rejeitam a responsabilidade, sem que seja possível verificar essas declarações de fontes independentes, já haviam ocorrido no território da usina no final da semana passada, levantando temores de um desastre nuclear.

Catástrofe

Os ataques também continuaram durante a noite de quarta (10) para quinta-feira na linha de frente, inclusive nas proximidades dessas instalações altamente sensíveis.

"Infelizmente, em vez de uma desescalada, incidentes ainda mais perturbadores foram relatados nos últimos dias, incidentes que, se continuados, podem levar a uma catástrofe", revelou o secretário-geral das Nações Unidas, nesta quinta-feira, referindo-se à situação dentro e ao redor da fábrica.

"Deve ficar claro, qualquer dano a Zaporíjia ou a qualquer outro local nuclear na Ucrânia, ou em qualquer outro lugar, pode causar consequências catastróficas não apenas ao redor, mas para a região e muito além. Isso é totalmente inaceitável", insistiu.

"Pedi a todos que usassem o bom senso e a razão", acrescentou Guterres, instando a "cessar imediatamente" todas as atividades militares perto da usina, não "visá-la" e não usar seu território "no contexto de operações militares", se pronunciando a favor da criação de um "perímetro desmilitarizado para garantir a segurança da área".

O Conselho de Segurança da ONU está reunido em regime de urgência nesta quinta-feira para discutir a questão a pedido da Rússia. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou que seu diretor-geral, Rafael Gross, informaria este órgão sobre "a situação de segurança e proteção nuclear" em Zaporíjia, bem como seus "esforços para chegar a um acordo sobre uma missão de especialistas da AIEA ao local o mais rápido possível".

"A Rússia agora é um Estado terrorista e está mantendo a usina nuclear como refém, chantageando com o desastre nuclear", declarou Zelensky nesta quinta-feira em um discurso em uma conferência de doadores europeus em Copenhague. A Rússia pode causar ali "a maior emergência radioativa da história (...). E as consequências podem ser ainda piores do que as [do acidente de 1986] de Chernobyl", acrescentou.

(Com informações da AFP)