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Campanha de Bolsonaro tentar amenizar discurso do presidente e conter desgaste de ataques a jornalista

15/09/2022 05h03

O quartel general da campanha de Jair Bolsonaro tem quebrado a cabeça para calibrar o discurso do presidente e criar uma agenda positiva, com vistas a atrair o voto dos indecisos. Mas, ao mesmo tempo, tem de trabalhar para minimizar os danos de polêmicas protagonizadas pelo candidato e seus apoiadores.

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Esta semana, enquanto definem a viagem de Bolsonaro ao velório da rainha Elizabeth II, assessores do governo avaliam com a equipe econômica como é possível conter a reação negativa ao corte de 50% da verba de programas como Farmácia Popular e Mais Médicos. Outro fato com impacto negativo foi a polêmica em torno de um eleitor de Bolsonaro que negou uma marmita a uma mulher carente, por ela ser eleitora de Lula. Após o caso cair nas redes sociais, a diarista Ilza Ramos Rodrigues foi agraciada com várias doações.

Além disso, casos de agressão por intolerância eleitoral tem se repetido, como a discussão entre dois colegas de trabalho em Mato Grosso, na semana passada, que terminou com a morte de um apoiador de Lula, com golpes de faca e machado, por um eleitor de Bolsonaro.

O mais recente desgaste, que gerou uma enxurrada de críticas, veio de um parlamentar bolsonarista que, a exemplo do presidente, atacou a jornalista Vera Magalhães durante um debate na TV. O episódio, amplamente condenado até por Eduardo Bolsonaro (PL/SP), acaba dificultando o diálogo com o eleitorado feminino, disse à RFI o cientista político Ricardo Ismael, da PUC/Rio.

"A maneira como o presidente tratou a jornalista no primeiro debate dos presidenciáveis foi muito negativa, ainda mais para ele, que precisa quebrar a rejeição entre as mulheres. E agora, um deputado que apoia o presidente ataca também verbalmente a jornalista num debate em São Paulo. Essas situações alimentam a interpretação de que os bolsonaristas têm dificuldade de ouvir as mulheres, de conversar e debater com elas de igual para igual", disse Ismael.

Funeral da rainha

Em meio a tantas polêmicas, o presidente decidiu marcar presença no enterro da monarca britânica e confirmou às autoridades inglesas a sua participação e a da primeira-dama, Michele, na cerimônia. "A repercussão que ele pode ter com isso é dizer que não está isolado, especialmente se ele conseguir se encontrar com o Rei Charles III. Mas talvez isso não tenha peso na busca por voto dos indecisos", afirma Ismael. 

Já a equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer crescer não só sobre os 20% de eleitores que afirmam ainda não terem decidido em quem votar no dia 2 de outubro, mas também sobre os eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Para o petista, o voto útil representa uma tentativa de liquidar o pleito no primeiro turno, para evitar surpresas na segunda etapa.

"Isso é terrorismo eleitoral. Então o povo sofrido, faminto, não pode ter a liberdade de escolher em quem votar num sistema de dois turnos? Isso é terrorismo do Lula e PT. E nós temos de combater o fascismo corrupto da direita e da esquerda", criticou Ciro. 

Já Lula pediu empenho de seus eleitores para que rebatam informações de adversários, especialmente Jair Bolsonaro, nas redes sociais. "Faltam só 18 dias. Nós precisamos estar preparados para rebater as fake news que eles vão espalhar, como foi em 2018. É a maior fábrica de notícias falsas já vista. Será preciso um trabalho de militância. Não pensem que a responsabilidade é só minha e do Geraldo Alckmin", afirmou o ex-presidente.

Um ou dois turnos?

Bolsonaro também discursou nessa quarta-feira e falou da proximidade do Dia D para sua campanha. "Temos pela frente, daqui a poucos dias, uma encruzilhada. Tivemos momentos semelhantes em 2018. O outro lado tentou tirar a gente da jogada. Sofremos um atentado, mas vencemos", falou o candidato à reeleição.

As últimas pesquisas apontam uma possibilidade de vitória em primeiro turno de Lula dentro da margem de erro, embora o quadro mais provável revelado nos levantamentos é de uma eleição decidida no segundo round.

"Eu acredito que haverá segundo turno, entre outros motivos, porque os eleitores de Ciro e Tebet não parecem dispostos a ceder. Eles querem mostrar que não vão votar nos dois que lideram, ao menos não no primeiro turno", avalia o analista político Ricardo Ismael. "E num segundo turno o ex-presidente Lula é favorito diante da maior rejeição de Bolsonaro. Mas teremos cerca de um mês a mais de campanha, se houver mesmo segundo turno. A situação pode se polarizar mais, mas, ainda assim, Lula sai como favorito."