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Com urnas itinerantes, moradores do Donbass votam em plebiscito sobre anexação do território à Rússia

26/09/2022 10h47

Desde sexta-feira (23) e até terça-feira (27), os habitantes dos territórios ucranianos conquistados recentemente pelo Exército russo e das duas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk participam de um referendo sobre sua anexação à Rússia. Em Donetsk, urnas são improvisadas em calçadas ou levadas diretamente às casas dos moradores.

Anissa El Jabri,enviada especial da RFI à Ucrânia

Para votar em Donetsk não foram instaladas seções eleitorais ou estabelecido um horário. Por medida de segurança, de acordo com as autoridades russas locais, são os voluntários da Comissão eleitoral que irão ao encontro dos eleitores.

Lyubov Porokhina, que vota em uma seção recém-instalada em um parque, disse à RFI ter sido avisada que os agentes da Comissão estavam no local. "Não foi fácil chegar aqui. Uma das minhas amigas, que vive a dois blocos de meu prédio, me ligou e disse que a Comissão eleitoral tinha chegado à casa dela. Eu fui, mas depois me disseram para vir aqui. É muito sigiloso, mas é para respeitar as regras de segurança", diz a eleitora.

Voto nada secreto

Autoridades e moradores temem que as urnas sejam alvos de ataques nos lugares onde estão. Um policial ficará presente no local onde Lyubov vota como precaução suplementar. Ele carregava a urna transparente enquanto os voluntários se encarregavam de checar os nomes nas listas de votantes e das cédulas eleitorais, grandes folhas de papel A4 onde está escrita a pergunta: "Você quer fazer parte da federação da Rússia?", com duas possibilidades de resposta: "sim" e "não".

O voto não é secreto e é feito diante de vizinhos e dos membros da comissão eleitoral. Para escrever, os moradores colocam as cédulas em um banco ou sobre os joelhos. Através das urnas transparentes é possível ver uma maioria de respostas "sim".

Logo após, a comissão se dirige a uma residência. Apesar da preocupação com a segurança, os agentes preferem ir sem uniformes e armas. "Os policiais se preocupam pela segurança, mas não queremos que as armas intimidem as pessoas", explica uma voluntária da comissão.

No apartamento onde chegam os três voluntários, três vizinhas idosas se reuniram para esperar. Em frente às pessoas presentes, elas marcam o "sim" na cédula.

Voto sem sentido

Em Lyman, cidade em Donetsk onde quase todos os civis morreram ou fugiram, brigadas móveis propõem o voto, mas, para alguns habitantes, o plebiscito não faz sentido.

"Isso não mudará nada para nós", diz uma moradora. "Teriam que ter pensado nisso antes. Não agora, não quando as casas estão destruídas, quando as crianças não têm mais nada, quando corpos estão apodrecendo na floresta", disse.

"Eu tinha um trabalho, tinha tudo e agora eu sou apenas uma sem-abrigo. Eu não tenho dinheiro, nem comida, apenas papel higiênico no meu bolso. É tudo! Por que esse conflito? Para quem? Quem precisa disso? Não pediram nossa opinião, nem das crianças", disse.

A pressão russa nesta cidade é particularmente forte, já que é um cruzamento ferroviário importante de onde sai o rio Oskil, que as forças ucranianas conseguiram atravessar em diferentes lugares.