Brasil multiplica candidaturas indígenas, negras e trans nas eleições de 2022
Nesta eleição geral brasileira, o número de candidatos indígenas alcançou um recorde, com 178 pretendentes a cargos legislativos, o que representa 0,63% do número total. Uma dessas candidatas é a professora Claudia Baré, que mora na capital amazonense, Manaus. Frustrada com o fato de que os interesses de sua comunidade não tenham sido levados em consideração pelos representantes "brancos", a ativista indígena decidiu entrar na política. O mesmo fenômeno se repete com candidaturas negras e trans.
Claudia Baré faz sua campanha batendo de porta em porta em seu bairro, a comunidade do Parque das Tribos. Cerca de 2 mil indígenas se estabeleceram nesta área rural ao norte de Manaus. Entre os moradores do lugar está Janine, que recebe a candidata em sua casa: "Espero que este bairro melhore. Há falta de infra-estrutura, como escolas. As estradas às vezes estão em um estado que não permite a circulação de carros. E a partir das 21h, nenhum táxi entra aqui", ela diz, apoiada por Claudia Baré.
A candidata fundou esta comunidade em 2014 e conhece bem seus problemas. Faz apenas dois anos que as moradias das famílias indígenas foram conectadas à água potável da cidade. "Fiquei indignada com tantas coisas", testemunha ela. "Não há políticas públicas para nossa saúde e educação. Mas estamos começando a levantar nossa voz e a lutar por um mandato legislativo para poder mudar as práticas políticas existentes", declarou à RFI.
Claudia Baré, que está concorrendo pelo Partido dos Trabalhadores (PT), passa pela casa de Chicão e lhe entrega um panfleto com seu programa de governo. "É importante ter um candidato indígena que defenda nossos interesses", afirma Chicão. O vizinho lhe garante que votará nela nas eleições legislativas. Mas, para o cargo de presidente, ele dará seu voto a Jair Bolsonaro, como muitos indígenas desta comunidade.
Para conhecer melhor as opções de candidaturas dos povos originários, a iniciativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) promove candidatos a deputado federal em 12 estados e a deputado estadual em 15 unidades da federação na conta Instagram Campanha Indi?gena 2022, plataforma preferida dos novos candidatos das chamadas "minorias" brasileiras, que facilita o formato de "lives". O manifesto pode ser lido em sua integralidade, clicando aqui.
Vozes negras, femininas, periféricas e trans
Outras iniciativas da sociedade civil brasileira, cansada de ser subrepresentada em suas especificidades, também afloram nestas eleições gerais de 2022, como o coletivo Mulheres Negras Decidem, criado para promover a agenda liderada por mulheres negras na política institucional, "fortalecendo a democracia brasileira e usando como estratégia a superação da falta representatividade de mulheres negras nas instâncias de poder".
Em São Paulo, a campanha do #VotoAntirracista foi criada para "fomentar a candidatura de pessoas pretas", apresentando um rol de propostas de diversos candidatos. A campanha explica quais os papéis dos cargos públicos e realiza lives com candidatos negros, a maioria mulheres, para que as propostas sejam compartilhadas e o debate sobre representatividade no poder público alcance a população.
Enegrecer a Política é uma plataforma permanente, realizada com a participação de importantes organizações do movimento negro e de mulheres, com o objetivo de ocupar os espaços de decisão e de poder. Outra opção para quem deseja se informar melhor sobre candidaturas negras é a campanha Eu Voto Em Negra, que faz parte do Projeto Mulheres Negras e Democracia. A hashtag #EuVotoEmNegra é utilizada nas redes sociais para compartilhar opções de voto e propostas políticas.
Outra iniciativa importante é a Quilombo nos Parlamentos, da Coalizão Negra por Direitos, que promove pessoas ligadas ao movimento negro candidatas a cargos no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas em 2022, em todas as regiões do país.
Para homenagear as candidatas trans e travestis, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mapeou 79 candidaturas trans no país, no aniversário de 30 anos do Movimento Trans no Brasil. A proposta é valorizar essas candidaturas e "refletir sobre candidaturas que são lançadas propositalmente precarizadas pelos partidos". Para ter acesso a todas as candidaturas trans e travestis, além de conhecer o Manifesto pela TransPolítica, clique aqui.
As feministas não ficam atrás, e o projeto-ação Meu voto será Feminista, que desde 2018 fortalece a presença de feministas na política e ativa a cultura pelo voto em mulheres, lançou uma plataforma de candidaturas com grande oferta de debates e pautas diferenciadas.
(Com informações do enviado especial da RFI a Manaus, Achim Lippold)
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