O dia seguinte: ucranianos desarmam minas e documentam crimes em Kherson
Depois da euforia pela reconquista da cidade de Kherson, os ucranianos retomam a rotina da realidade da guerra. Ainda neste sábado (12), eles já começaram as operações de localização e desarmamento de minas, reparação de infraestruturas danificadas, mas principalmente a documentação de "crimes" atribuíveis a Moscou na maior cidade do sul, cuja perda constitui um grande revés para o Kremlin.
Para Kiev, o Ocidente está a caminho de uma "vitória conjunta" sobre a Rússia após a reconquista de Kherson, onde o hino nacional ucraniano voltou a soar desde sexta-feira (11), após a retirada das tropas russas. Kherson, anexada no final de setembro por Moscou, foi a primeira grande cidade a cair após a invasão russa lançada no final de fevereiro.
O chefe da administração militar ucraniana da região de Kherson, Yaroslav Yanouchevych, publicou diversos vídeos no sábado em que declara estar "muito feliz por estar aqui [em Kherson] hoje, neste momento histórico". Ele acrescenta que tudo está sendo feito para "voltar à vida normal". Atrás dele, pessoas reunidas na praça principal comemoram o retorno das forças ucranianas à cidade.
Não muito longe, na aldeia de Pravdyné, os vizinhos recebem de braços abertos os moradores que regressam. Alguns não conseguem conter as lágrimas. "Entendemos que os russos partiram porque nossos soldados estavam chegando. Chorei de felicidade, porque a Ucrânia finalmente foi libertada", conta Svitlana Galak, 43, que perdeu sua filha de 15 anos em um bombardeio na aldeia.
Seu marido, Viktor, 44, não quer nem ouvir falar dos russos: "Não queremos que voltem e atirem em todo mundo. Vamos viver como antes. Vivíamos em más condições, mas era a Ucrânia".
"Estamos todos muito felizes"
"Estamos todos muito felizes", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na noite de sábado, quando também relatou destruição significativa na região. "Antes de fugir de Kherson, os ocupantes destruíram toda a infraestrutura essencial - comunicação, abastecimento de água, aquecimento, eletricidade", ele continuou, acrescentando que 2 mil artefatos explosivos já foram neutralizados.
Em sua opinião, as forças armadas ucranianas recuperaram o controle de quase 60 localidades na região de Kherson. O exército está aplicando "medidas de estabilização", informou o Estado-maior na noite de sábado, acrescentando que "representantes da administração militar retornaram a Kherson e já atuam por lá".
Após oito meses de ocupação pelas forças russas, os programas de televisão nacionais podem ser assistidos novamente em Kherson. E o fornecedor de energia da região anunciou que está trabalhando para restabelecer o fornecimento de eletricidade.
Cerca de 200 policiais também foram enviados a Kherson para retirar bloqueios nas estradas e documentar "os crimes dos ocupantes russos", informou o chefe da Polícia Nacional, Igor Klymenko, em comunicado.
Ele também alertou os moradores da cidade sobre a presença de artefatos explosivos deixados pelas forças russas, os previnindo a "se moverem com cautela". De acordo com Klymenko, um policial foi ferido durante uma operação de desarmamento de minas em um prédio em Kherson.
Uma mulher e duas crianças também ficaram feridas em uma explosão perto de seu carro no vilarejo de Mylove, região de Kherson, de acordo com a polícia, que ainda relatou bombardeios russos no distrito de Berislav.
"No caminho certo"
"Somente juntos podemos prevalecer e expulsar a Rússia da Ucrânia. Estamos no caminho certo", declarou o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kouleba, no sábado, durante uma reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, à margem de uma cúpula do sudeste asiático, em Phnom Penh, no Camboja.
A retirada russa de Kherson marca "um novo fracasso estratégico" por parte de Moscou, disse o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, em comunicado no sábado. Jake Sullivan, conselheiro de Segurança nacional do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou a tomada da cidade pelo exército de Kiev de "vitória extraordinária", "notável".
Esta retirada russa é a terceira em escala desde o início da invasão, em 24 de fevereiro. Recentemente, a Rússia teve que desistir da tomada de Kiev diante da feroz resistência dos ucranianos, antes de ser expulsa de quase todas as regiões de Kharkiv (nordeste) em setembro.
Na sexta-feira, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que havia concluído a "reinstalação" de suas unidades da margem direita (oeste) do rio Dnieper, onde Kherson está localizada, para a margem esquerda, garantindo que não sofreu nenhuma perda ou abandono de equipamento militar.
"Alvo número um"
De acordo com Moscou, "mais de 30 mil" soldados russos e "quase 5 mil unidades de armamentos e veículos militares foram removidos" da margem ocidental do Dnieper. Na noite de sábado, foi na margem leste do rio, no distrito de Kakhovka, que uma ordem de retirada foi emitida pelas autoridades locais pró-Rússia para seus funcionários, para que se deslocassem para a região russa de Krasnodar, perto da Crimeia.
"Hoje, o governo é o alvo número um dos ataques terroristas das Forças Armadas da Ucrânia. Por isso, por ordem do governo da região de Kherson, como órgão de poder, estamos nos retirando para um território mais seguro, de onde poderemos continuar a governar a região", escreveu no Telegram esta administração pró-Rússia, que também pede aos "residentes" que se retirem.
O Estado-maior do exército ucraniano avançou por sua vez na noite de sábado, quando as forças russas estavam no processo de "reforçar o equipamento de fortificação das linhas defensivas na margem esquerda do Dnieper".
A retirada carrega um tom de humilhação, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, reivindicou no final de setembro a anexação de quatro regiões ucranianas, incluindo a de Kherson.
Ameaça nuclear
No sábado, ele conversou com seu colega iraniano, Ebrahim Raisi, em um momento em que Teerã parece ser um grande aliado de Moscou em sua intervenção na Ucrânia. Os dois líderes colocaram "ênfase na intensificação da cooperação nas esferas política, econômica e comercial", informou o Kremlin.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, por sua vez, lançou uma ameaça de uso de armas nucleares. "Por motivos óbvios a todas as pessoas razoáveis, a Rússia ainda não fez uso de todo seu arsenal de possíveis meios de destruição", escreveu ele no Telegram, acrescentando: "Há um tempo para tudo".
(Com informações da AFP)
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