Jamil Chade

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França faz ofensiva contra acordo 'iminente' entre Mercosul e UE

Depois de 24 anos de negociações, diplomatas da União Europeia e Mercosul iniciam nesta terça-feira (26) o que pode ser a rodada final de tratativas para tentar fechar um acordo comercial sem precedentes entre dois blocos. Mas uma ofensiva orquestrada pela França tenta impedir que o tratado seja concluído.

As reuniões, segundo fontes europeias, ocorrerão em Brasília até o dia 29, ainda que membros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva tenham tentando manter sigilo. O Itamaraty se limitou a dizer que o encontro ocorre na capital federal, sem dar detalhes de datas.

Fontes da UE confirmaram ao UOL que os encontros estão sendo tratados como "decisivos", principalmente diante de chegada da presidência de Donald Trump nos EUA em 2025. Para alguns negociadores brasileiros, o processo está "muito próximo" de uma conclusão. Entre diplomatas espanhóis, o tratado é dado como "iminente".

Quem negocia em nome da UE é a Comissão Europeia, mas uma aprovação final depende dos governos nacionais. Para os europeus, um dos possíveis cenários seria fechar o acordo até sexta-feira, no âmbito técnico, e permitir que um acordo seja oficialmente anunciado entre os dias 5 e 6 de dezembro, na cúpula do Mercosul.

França lidera oposição e instrumentaliza Carrefour, Greenpeace e Parlamento

O processo, porém, ocorre num momento de tensão. Nas ruas de diversos países europeus, a perspectiva de uma abertura para os produtos agrícolas do Mercosul levou agricultores a fechar estradas e realizar protestos violentos.

Ainda no ano passado, o presidente da França, Emmanuel Macron, alegou em encontro com Lula que um acordo poderia aprofundar a irritação dos produtores franceses e joga-los no colo da extrema direita. Ou seja, optariam por um discurso nacionalista nas eleições de 2025. Na França, a extrema-direita tem adotado uma postura contrária ao acordo.

Nesta terça-feira, o governo Macron ainda convocou o Parlamento francês para uma reunião especial para debater o acordo. A meta, segundo diplomatas, é mostrar que existe uma quase unanimidade das forças políticas no país contra o tratado.

A data escolhida coincide com o início da negociação final e a audiência é vista como uma manobra para intimidar os negociadores da Comissão Europeia, em Brasília.

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Já foi determinado que o primeiro-ministro Michel Barnier será o primeiro a subir à tribuna para anunciar sua oposição. Um abaixo-assinado com 150 mil nomes ainda será entregue pelo Greenpeace, pedindo que o Parlamento vote uma moção de censura contra a UE.

Enquanto isso, a diplomacia da França tenta organizar um bloco dentro da UE para tentar impedir que o acordo, mesmo assinado pela Comissão Europeia, possa ser ratificado.

O governo da Polônia, que enfrentaria a concorrência agrícola do Mercosul, anunciou na sexta-feira (22) que não topa um acordo. O primeiro-ministro francês ainda viajará para a Itália e espera fechar acordo com Giorgia Meloni no dia 5 de dezembro para criar um front contra o acordo.

Ciente de seus interesses exportadores na América do Sul, a Itália hesita entre uma postura protecionista e a ambição por não perder mercados para a China para suas máquinas, equipamentos e carros.

Alemanha, Espanha, os países escandinavos e Portugal são os principais aliados do Brasil na busca por um acordo.

Em paralelo, a empresa Carrefour anunciou que não mais comprará mais carne do Mercosul, atitude que foi vista como demonstração da tensão nas negociações e recados velados a cada um dos lados.

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Nos últimos meses, o governo brasileiro obteve concessões importantes por parte dos europeus, retirando do compromisso de abertura do Mercosul setores como saúde. Isso teria um impacto em compras governamentais e forçaria o Brasil a abrir as licitações do SUS para fornecedores estrangeiros de remédios.

Mas o Brasil exige que as medidas ambientais criadas pelos europeus e que puniriam com tarifas quem desmatar sejam adiadas. O temor do Mercosul é que, depois de negociar um acesso a 60 mil toneladas de carnes para o mercado da UE, os europeus adotem novas tarifas em 2025 justificando o protecionismo com base em medidas de proteção ambiental.

O Brasil, portanto, quer um mecanismo que permita regular esse aumento de tarifas e compensar com elevações de barreiras também para carros e outros produtos exportados pelos europeus.

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