Lula brilha na COP27, mas deixa o Egito sem responder sobre viagem em jatinho
Depois de três dias de uma intensa agenda de encontros na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, deixa o Egito na manhã desta sexta-feira (18), sem conversar com a imprensa - e sem explicar a viagem até o pais árabe a bordo de um jatinho do empresário José Seripieri Junior, dono da Qualicorp.
Lúcia Müzell, enviada especial a Sharm el-Sheikh
O milionário, preso em 2020 devido ao envolvimento com caixa dois para a campanha de José Serra em 2014, é amigo do petista. Além disso, o balanço de emissões em plena viagem para uma conferência sobre o clima causou desconforto; sobretudo junto à imprensa internacional, que repercutiu o caso. Uma viagem em uma aeronave privada, na qual cabem apenas 12 passageiros, despeja pelo menos dez vezes mais CO2 na atmosfera do que um avião de carreira.
Desde a chegada do presidente eleito ao balneário egípcio, os jornalistas presentes na COP27 tentam questionar Lula sobre a "carona" - que gerou mal-estar em uma viagem que tinha tudo para ser lembrada apenas pelo retorno triunfal do Brasil nas grandes conferências internacionais. Em São Paulo, o vice-presidente eleito, Gerlado Alckmin, tentou minimizar a polêmica, afirmando que o avião não foi "emprestado", mas o "proprietário está indo junto para a COP".
"Ele também vai participar da COP, está indo junto, não tem empréstimo, estão indo juntos no mesmo avião", afirmou Alckmin. O nome de Seripieri Junior, porém, não figurava na lista de mais de 500 nomes credenciados na comitiva brasileira no evento, a segunda maior da conferência.
Encontros com figurões do clima
Nestes três dias, Lula foi a grande estrela da COP27, com centenas de pessoas se acotovelando para conseguir acesso às salas onde o recém-eleito discursou. Após quatro anos de negacionismo climático de Jair Bolsonaro, o mundo tinha sede de ouvir que "o Brasil está de volta" com uma postura construtiva nas negociações sobre o combate às mudanças climáticas.
Nesse aspecto, o petista foi impecável. Reiterou os compromissos mais ambiciosos do Brasil na pauta climática, a começar pelo combate implacável ao desmatamento e outros crimes ambientais "em todos os biomas" brasileiros, e não apenas na Amazônia. Ressaltou ainda que "o Lula cobrador" dos países ricos também está de retorno, para exigir que as promessas feitas há mais de uma década sobre o financiamento climático aos países em desenvolvimento sejam enfim cumpridas.
Em Sharm el-Sheikh, Lula teve uma agenda de chefe de Estado. Encontrou-se com todos os pesos-pesados da conferência, a começar pelo americano John Kerry e o chinês Xie Zhenhua, ambos enviados especiais para as questões climáticas de seus países. Na sequência, reuniu-se com nomes como o presidente da COP27, o ministro egípcio Sameh Shoukry, o chefe de política climática da União Europeia, Frans Timmermans, os ministros da Alemanha e da Noruega, Annalena Baerbock e Espen Barth Eide, encerrando a agenda com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Entretanto, a pedra que entrou no sapato do presidente eleito a bordo do luxuoso jatinho Gulfstream causou incômodo ao longo de toda a viagem - ao ponto de Lula evitar responder às perguntas dos repórteres sobre o tema. A assessoria do petista chegou a marcar uma coletiva de imprensa, aberta aos jornalistas estrangeiros, ao final da rodada de reuniões bilaterais, na noite desta quinta-feira (17). Porém, a coletiva foi cancelada de última hora, devido aos "atrasos" na agenda oficial do futuro presidente, alegou a assessoria petista.
"Paciência" se dólar subir e bolsa cair
O cancelamento ocorreu também na sequência das reações dos mercados financeiros a falas de Lula sobre o respeito ao teto de gastos no Brasil. Pela manhã, ele voltou a defender o descumprimento da regra de ouro do equilíbrio fiscal em nome da "responsabilidade social" e acrescentou que "paciência" se o dólar aumentar e a bolsa cair.
"Se o teto de gastos fosse para discutir que a gente não vai pagar a quantidade de juros para o sistema financeiro que a gente paga todo o ano, mas a gente fosse continuar mantendo as políticas sociais básicas. Mas não", argumentou Lula. "Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, (...) você não mexe em um centavo do sistema financeiro. Você não mexe um centavo daquele juro que os banqueiros têm que receber", complementou.
Resultado: de fato, a Bovespa caiu 2%, o dólar subiu a R$ 5,50. No fim do dia, os economistas Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha divulgaram uma carta aberta a Lula, na qual refutam os argumentos do petista e lamentam a tomada de posição do presidente eleito, cuja eleição eles apoiaram.
Antes de voltar ao Brasil, Lula faz uma escala de dois dias em Lisboa, onde deverá se encontrar com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, Antônio Costa. Na quinta-feira, o ex-chanceler Celso Amorim antecipou que ele deve fazer uma viagem à Argentina nas próximas semanas, antes da posse em 1º de janeiro.
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