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Polêmicas sobre Catar como sede da Copa são conhecidas há mais de doze anos

21/11/2022 05h24

A Copa do Mundo no Catar traz à tona algumas importantes contradições no relacionamento entre países. A escolha da FIFA em realizar o mundial no Catar foi tratada como polêmica desde que o anúncio foi feito há 12 anos. A decisão da FIFA se baseou na argumentação de que o mundial deveria ser disputado em uma região que nunca havia sediado o evento antes.

Thiago de Aragão, analista político

O Catar levou porque, no final das contas, apresentou um plano bilionário de investimento para adequar a Copa num ambiente que não possui tradição em sediar exemplos multiculturais como a Copa do Mundo. Esse acaba sendo um dos principais problemas.

O Catar não tem leis que garantam igualdade de tratamento entre homens, mulheres, homossexuais e imigrantes levados ao país para colaborar na construção da infraestrutura necessária para realizar o maior evento esportivo do planeta.

Nem mesmo os Jogos Olímpicos despertam as paixões que vimos ao longo da história das Copas do Mundo. Assim, o fato de um país que exibe uma infraestrutura do futuro, misturado a interpretações históricas e sociais do passado, faz com que o Catar não seja o país ideal para sediar a Copa. 

O noticiário nos próximos 30 dias vai se revezar entre resultados dos jogos e demonstrações de como o Catar não é um país adepto ao nosso entendimento de Direitos Humanos. Isso tem uma importância grande de conscientização. É importante que o mundo entenda que a sede da Copa não divide os mesmos valores de inclusão, igualdade e respeito ao próximo, que foram os elementos-chave de inspiração para a criação da própria FIFA.

Devemos criticar o Catar por ainda ter leis contra homossexuais, pelo tratamento dado a trabalhadores imigrantes e pela exclusão das mulheres de diversas facetas da sociedade? Claro que sim. No entanto a FIFA e todos aqueles que sabiam que o mundial seria no Catar desde 2010, e só agora resolveram expressar o descontentamento em relação ao país-sede, também merecem críticas.

Obviamente, me incluo nesse grupo. Tudo que o mundo vem questionando e criticando em relação à Copa do Mundo já é sabido há 12 anos. Por que a ênfase não foi dada antes quando algo de concreto ainda poderia ter sido feito? 

Protesto monocromático

Sendo a Copa do Mundo o maior evento esportivo do planeta, todas as críticas e revoltas por parte de países participantes tendem a ser mínimas. A Dinamarca, por exemplo, vai "protestar" contra a violação de direitos humanos de trabalhadores, usando um uniforme monocromático.

Certamente, todos aqueles que trabalharam 18 horas por dia, durante anos, na construção dos estádios, respiram aliviados com o protesto dinamarques. Como era esperado, nenhum país abriu mão de participar da Copa como forma de protesto. No fim, há sempre um cuidado muito grande em criticar coisas que são relacionadas a paixões.

A maioria dos países participantes possuem, em seus governos e na sociedade, indivíduos que carregam pesadas críticas ao Catar. No entanto, a esmagadora maioria possui uma paixão pelo futebol que acaba neutralizando a legitimidade e a extensão das críticas. Nesse aspecto, eu também faço uma mea culpa.

Somos uma civilização movida pela eventologia. O que está acontecendo agora se torna a coisa mais importante do universo até, amanhã, deixar de ser. Isso nos inibe a atacar os grandes problemas da humanidade como desigualdade, racismo, fome, pobreza entre outras mazelas. Essas mazelas se tornam urgentes e deixam de ser, à medida que os olhos do mundo focam nelas.

Com o desvio do foco, os problemas estruturais de sempre seguem existindo, no aguardo de soluções inesperadas. Após o fim do Mundial, a Dinamarca irá fazer algo a mais do que uma camisa monocromática? Algum governo de um país importante usará sua influência para tentar mudar algo? Ou jogaremos a culpa na FIFA por ter premiado o Catar como palco? A FIFA pode ser uma instituição cínica com uma história controversa, mas o problema já existia e seguirá existindo com Mundial ou sem Mundial.

A vantagem, é que a Copa do Mundo sendo no Catar, muitas pessoas passam a aprender um pouco mais sobre as diferenças globais nos tratamentos dados à mulheres, homossexuais, trabalhadores imigrantes, negros e todos aqueles que sofrem discriminação por capricho.