Troca de comando do Exército: Lula enfrenta "crise de confiança em militares", diz imprensa europeia
A imprensa europeia repercute neste domingo (22) a demissão do comandante do Exército brasileiro, Júlio César de Arruda, a primeira baixa do novo governo. O ministro da Defesa José Múcio oficializou a saída do militar na noite de sábado (21), após se reunir com Lula. Segundo o ministro, a demissão ocorreu devido a uma "fratura no nível de confiança" após a invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília, há duas semanas.
O jornal britânico The Guardian afirma que Arruda teria impedido a polícia de prender golpistas que se alojaram em um acampamento perto do quartel general do Exército em Brasília, na noite do ataque. "Acredita-se que essa controversa decisão tenha permitido que dezenas de criminosos de direita escapassem da detenção depois de saquearem o palácio presidencial, a Suprema Corte e o Congresso do Brasil", escreve o correspondente do diário no Rio de Janeiro, Tom Phillips.
The Guardian explica que o ex-presidente Jair Bolsonaro passou décadas "cultivando laços" com as forças de segurança do país, por isso conta com um significante apoio do setor. "Vários militares teriam encorajado e participado da insurreição pró-Bolsonaro, enquanto Lula disse suspeitar que os manifestantes receberam ajuda interna que lhes permitiu invadir o palácio presidencial", destaca a matéria.
Para o jornal espanhol El País, a demissão do chefe do Exército brasileiro ocorreu "de maneira inesperada" devido à "uma crise de confiança em militares", poucas semanas após Arruda ter assumido o cargo, em dezembro. A correspondente do diário em São Paulo, Naiara Galarraga Gortázar, afirma que o comandante foi substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, célebre por suas declarações em defesa da democracia e do resultado das urnas, durante discurso realizado na última semana.
A matéria sublinha que Lula "quer limpar o governo de bolsonaristas radicais" e indica que os serviços de inteligência não o avisaram sobre a preparação de "um ataque violento às instituições". "Mais de 1.500 pessoas foram detidas e o Supremo Tribunal Supremo investiga se Bolsonaro incentivou a invasão", afirma o El País.
No entanto, para o jornal português Público, a demissão de Arruda pode agravar as tensões entre Lula e as Forças Armadas. Desde os ataques de 8 de janeiro, o líder petista vem tecendo duras críticas aos militares, o que provoca reações negativas dentro das forças de segurança brasileiras.
O diário português também indica que Tomás Miguel Ribeiro Paiva era cotado para assumir o comando do Exército desde o início, "mas alguns membros do PT temiam que sua grande capacidade de articulação o tornasse numa força independente". O Público lembra o que ocorreu com Eduardo Villas Bôas, escolhido por Dilma Rousseff no final de 2014, "o artífice da volta dos militares à política".
Lula em visita à Argentina
O presidente brasileiro dá início neste domingo à primeira visita internacional de seu terceiro mandato. Na Argentina, Lula participará da sétima reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e se reunirá com o presidente Alberto Fernández na segunda-feira (23).
Para o diário francês Journal du Dimanche, "Lula está colocando o Brasil de volta no mapa depois do governo Bolsonaro". A matéria explica que, ao viajar a Buenos Aires, o líder petista quis manter a tradição da primeira visita de um presidente brasileiro recém eleito ao grande parceiro sul-americano. "O peronista é também um amigo e fiel aliado, e não será tarde demais para marcar o retorno do Brasil ao cenário internacional, abalado por quatro anos de populismo e por uma tentativa de golpe há quinze dias", publica o jornal.
O Journal du Dimanche ressalta também que, depois da Argentina, Lula viajará ao Uruguai. "A segunda etapa da 'normalização'", diz a matéria, está prevista para ocorrer em Brasília, onde o chefe de Estado brasileiro receberá o chanceler alemão, Olaf Scholz. Em seguida, em 10 de fevereiro, Lula viajará à Washington, onde se reunirá com o presidente americano, Joe Biden.
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