Mudanças climáticas favorecem o tráfico de seres humanos, aponta relatório da ONU
A mudança climática está agravando o tráfico de seres humanos em todo o mundo. Esta é a conclusão de um relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), publicado na terça-feira (23). A agência analisou dados coletados em 141 países, no período de 2017 a 2020.
A análise se baseia em 800 processos judiciais. A multiplicação dos desastres climáticos, que promove o deslocamento de milhões de pessoas, é uma das "principais causas" do tráfico de seres humanos.
Com o tempo, "regiões inteiras se tornarão inabitáveis", o que "afeta desproporcionalmente" as comunidades pobres que vivem principalmente da agricultura ou da pesca. Essas pessoas encontram-se "privadas dos seus meios de subsistência e forçadas a fugir de suas comunidades", tornando-se "presa fácil" dos traficantes, explicou Fabrizio Sarrica, autor do documento.
Filipinas: tráfico humano aumentou após ciclone Haiyan, em 2013
O relatório cita tufões devastadores nas Filipinas, ou mesmo em Bangladesh, país que é muito exposto a ciclones e tempestades. Em ambos os países, os pesquisadores observaram um aumento dos casos de tráfico, com, por exemplo, a organização de "grandes campanhas de recrutamento" para os mais pobres, geralmente em trabalhos forçados.
Giulia Serio, especialista do UNODC, explica que depois do ciclone nas Filipinas, as autoridades nacionais identificaram um número muito grande de vítimas de tráfico. "Um número excepcional em relação aos anos anteriores", destaca. "Nossa análise aponta como as pessoas afetadas tiveram de fazer escolhas muito difíceis para garantir suas vidas e encontrar meios de sobrevivência em outras partes do país. E nessa situação, se viram diante do crime de tráfico", afirma.
O levantamento cita o caso das Filipinas, onde mulheres são exploradas como trabalhadoras domésticas. De acordo com o relatório, "elas são recrutadas nas Filipinas e depois enviadas para outros países onde têm de trabalhar como empregadas domésticas, ou até mesmo serem vítimas de prostituição forçada ou exploração sexual", completa
Guerras e Covid-19
Gana, vítima de secas e inundações, e a região do Caribe, sujeita a furacões e elevação do nível do mar, também estão na linha de frente do tráfico de pessoas.
Outro terreno fértil para os traficantes são os conflitos armados. Se África é de longe o continente mais afetado, o órgão da ONU aponta para uma situação potencialmente "perigosa" na Ucrânia. Ao mesmo tempo, a agência da ONU saúda as medidas tomadas pelos países da União Europeia para acolher e proteger os milhões de refugiados da guerra.
O número de vítimas, no entanto, caiu em 2020, como um efeito da pandemia de Covid-19, que tornou menos óbvia a identificação de casos. Com o fechamento temporário de locais abertos ao público (bares, discotecas, etc.) devido a restrições sanitárias, certas formas de tráfico, em particular a exploração sexual, deslocaram-se para "lugares menos visíveis e ainda menos seguros", conclui a ONU.
(Com informações da RFI e AFP)
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