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Sobrevivente relata explosão em barco que naufragou na Itália; ao menos 8 crianças morreram

26/02/2023 11h18Atualizada em 27/02/2023 08h06

Uma das testemunhas do naufrágio de um barco na costa da Calábria, sul da Itália, que deixou pelo menos 62 mortos na manhã de hoje, relatou uma explosão a bordo antes da tragédia. Um dos homens que trabalha no resgate confirmou que algumas das vítimas tinham marcas de queimaduras.

O naufrágio provocou a morte de dezenas de imigrantes, em sua maioria vindos do Paquistão, Irã, Afeganistão e Síria. Até o momento, as equipes de resgate tinham retirado do mar 62 corpos —entre eles o de oito crianças mortas, e cerca de 80 sobreviventes.

O naufrágio aconteceu na madrugada do domingo, quando o barco tentava alcançar a costa da cidade de Cutro para desembarcar. A embarcação era uma das centenas que se arriscam nas águas do mar Mediterrâneo todos os anos carregando a esperança de refugiados de chegarem a União Europeia a partir da Turquia.

Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas estavam no barco no momento do naufrágio, os relatos variam entre 180 e 250 migrantes, segundo a imprensa local.

A maioria dos sobreviventes tinha menos de 30 anos, segundo informações da rádio italiana RAI.

Na tarde deste domingo, as equipes continuavam o resgate. O fim das buscas, no entanto, parece longe. O mar agitado e o vento atrapalham o andamento dos trabalhos, de acordo com o Corpo de Bombeiros.

As autoridades temem que o número de mortos desta tragédia possa chegar a cem.

Explosão dentro do barco

As autoridades italianas foram alertadas de que havia um barco de migrantes com problemas na costa calabresa por uma ligação anônima por volta das quatro horas da manhã.

Contudo, não havia informações precisas sobre os problemas da embarcação já que a pessoa ao telefone tinha dificuldades para se comunicar em inglês.

Desde a manhã de domingo, equipes de bombeiros, policiais e a Cruz Vermelha fazem buscas no mar e ao longo da praia por corpos e sobreviventes. Nas imagens divulgadas pela polícia italiana é possível observar pedaços de madeira espalhados ao longo da praia.

Alguns dos migrantes já tinham alcançado a praia a nado, mas muitos seguiam nas águas geladas quando as equipes chegaram, segundo a imprensa local.

As equipes policiais e de resgate tentam reunir informações sobre o acidente a partir de relatos dos sobreviventes. Uma testemunha afirmou que houve uma explosão no barco, com várias pessoas queimadas, antes do naufrágio.

Em entrevista à rádio italiana, um dos homens que trabalham no resgate confirmou haver marcas de queimaduras em alguns dos corpos resgatados.

Das 80 pessoas resgatadas com vida, 21 tiveram de ser enviadas para o hospital, entre elas um menino de 9 anos.

Entre as vítimas, muitas mulheres e, ao menos, oito crianças. O corpo de um bebê de poucos meses morto foi encontrado. A sala de esportes da cidade de Cutro foi improvisada para receber os corpos da tragédia.

A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido de extrema direita Fratelli d'Italia, expressou "profunda dor" e salientou ser "criminoso a saída ao mar de uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo com uma previsão de tempo ruim".

Rota de entrada

A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam para a Europa.

Roma critica há vários anos o número de chegadas a seu território. De acordo com o ministério do Interior, quase 14.000 migrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5.200 no mesmo período no ano passado.

O presidente italiano, Sergio Mattarella, afirmou neste domingo que é imprescindível o empenho da União Europeia para resolver esta crise.

Extrema-direita italiana acusa ONGs de ajudar imigração ilegal

O governo de extrema-direita critica as ONGs que trabalham no resgate de migrantes, acusando esses grupos de estimularem as viagens e de encorajarem a continuidade do trabalho dos traficantes.

Recentemente uma lei que reduz a capacidade de trabalho dessas ONGs foi aprovada no país. A nova lei limita os navios humanitários a fazerem apenas um resgate por saída ao mar, o que, segundo os críticos da medida, aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo.

"É inaceitável do ponto de vista humano e incompreensível. Por que estamos aqui testemunhando tragédias que podem ser evitadas?", reagiu a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) em seu Twitter.

A travessia do Mediterrâneo é considerada a mais perigosa do mundo para os migrantes.