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Ministro francês lança livro com trechos eróticos e vira alvo de críticas e memes

Bruno Le Maire, ministro de Economia da França - TT News Agency/Reuters
Bruno Le Maire, ministro de Economia da França Imagem: TT News Agency/Reuters

RFI*

02/05/2023 15h13

O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, virou meme após o lançamento de um livro, ocorrido na última quinta-feira (27). A obra "Fugue américaine" (Fuga Americana, em tradução livre), assinada pelo ministro, tem trechos eróticos que originaram piadas e críticas nas redes sociais.

O título é dedicado ao pianista Vladimir Horowitz, e conta a história de dois irmãos, Franz e Oskar Wertheimer, que viajam a Cuba para assistir a um dos seus concertos. Durante a viagem, suas vidas viram do avesso.

Foi uma página da obra que chamou a atenção do público. Na passagem, um dos protagonistas do romance descreve sua excitação sexual em termos explícitos. Suas falas circularam nas redes sociais, provocando uma onda de sarcasmo e zombaria.

"Seria preciso um novo Alfred Jarry para escrever Ubu Rei. Ele também poderia escrever Ubu à Bercy [sede do ministério francês das Finanças]", disse ironicamente no domingo (30) o deputado François Ruffin, em referência ao escritor burlesco e absurdo.

Para ele, o ministro das Finanças não deveria ter "um minuto, uma hora, uma semana do seu tempo para se dedicar a escrever um livro", no momento em que os franceses vivem "grandes preocupações com a inflação".

Coincidentemente, a publicação do livro de Le Maire aconteceu ao mesmo tempo em que o rebaixamento do rating financeiro da França pela agência americana Fitch era anunciado.

"A política não seria suficiente"

Autor de 13 livros, cinco deles publicados nos últimos quatro anos, Le Maire insiste em sua dupla carreira, política e literária. "Se só existisse a política, sem essa liberdade que dá a criação literária e romântica, a política não seria suficiente", explicou durante uma entrevista na semana passada à AFP.

Solicitados pela imprensa para comentar a crise política e social em meio às manifestações do 1º de Maio contra a reforma da Previdência, os líderes do Governo não escaparam de perguntas sobre a página mais "crua" da mais recente obra de Le Maire.

"Isso mostra que, por trás dos ternos dos ministros, há sentimentos", respondeu na BFMTV e na RMC o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, um pouco constrangido. Ele admitiu que não leu o livro, apenas a passagem erótica que "o fez sorrir".

"Ele organiza seu tempo como quer", declarou o à LCI o líder do partido Movimento Democrático, François Bayrou, afirmando que ele também escreveu livros enquanto ocupou o cargo ministerial. O político centrista não disse se leria "Fugue américaine" e teve o cuidado de não comentar a qualidade literária da obra.

Em sua conta no Instagram, o escritor Nicolas Mathieu, Prêmio Goncourt 2018, afirma ver "um pouco de excesso" nas críticas à passagem erótica do romance. "Que trecho desse tipo não pareceria ridículo quando fora de contexto, isoladamente?", questiona o autor antes de propor, com ironia, melhorar o estilo da obra.

Outras polêmicas

A nova polêmica atinge o governo francês em meio a manifestações contra a reforma da Previdência e outras críticas ao seu modelo de comunicação. A secretária de Estado do país, Marlène Schiappa, já havia provocado críticas após ilustrar a capa da revista Playboy.

A aparição da ministra na primeira página da revista masculina, ilustrada por algumas fotos, desagradou a primeira-ministra Elisabeth Borne, que reclamou. Ela teme dar a impressão de estar à frente de um governo disperso em sua comunicação.

A esse contexto soma-se o efeito desestabilizador de uma entrevista concedida no final de março pelo presidente Emmanuel Macron à revista infantil Pif.

As publicações logo assumiram também uma conotação de questionamento político. "O governo não estaria dessincronizado com os ânimos do país, mergulhado na crise previdenciária, marcada por novas manifestações nesta segunda-feira por ocasião do 1º de Maio?", se perguntam os posts.

*Com informações da AFP