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Às vésperas da eleição na Turquia, imprensa francesa compara Erdogan a Putin

06/05/2023 08h26

As eleições gerais na Turquia, que terão seu primeiro turno em 14 de maio, são destaque nas revistas semanais francesas. As publicações analisam o contexto político do país e traçam um perfil do atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, cada vez mais ameaçado pela oposição, apesar de controlar o país com mão de ferro.

"Nunca um presidente esteve em uma situação tão frágil", resume a revista L'Obs. A reportagem conta como o chefe de Estado, reeleito em 2018 após uma carreira meteórica - Erdogan foi prefeito Istambul antes de se tornar chefe do governo e em seguida chefe de Estado -, vem perdendo aos poucos a sua popularidade. O líder carismático, que ficou conhecido ainda jovem como jogador de futebol, sofre agora em razão de sua má gestão da crise econômica, das denúncias de corrupção e de nepotismo.

"Apesar da propaganda [do governo] que coloca a culpa da crise no contexto internacional, muitos turcos já compreenderam que a inflação galopante é uma consequência das decisões desastrosas do presidente, que chegou a demitir três diretores do Banco Central em dois anos para impor seu ponto de vista", resume o texto. A revista aponta que as falhas de Erdogan ficaram ainda mais visíveis desde o terremoto de 6 de fevereiro, que expôs os limites do chefe de Estado, reforçando uma oposição coesa, unida a favor de um único candidato, o centrista Kemal Kiliçdaroglu.

No entanto, Erdogan continua exercendo um controle total sobre as questões de segurança e o aparelho eleitoral do país, aponta a publicação francesa, que chama a atenção para as dúvidas que podem surgir sobre os resultados desse pleito. L'Obs também alerta para o autoritarismo do presidente, que ordenou a prisão nos últimos dois anos de 60 mil pessoas apenas por terem criticado a sua gestão.

A revista Le Point também dá destaque para a eleição turca, com foto de Erdogan na capa, ao lado da manchete: "o outro Putin". A publicação traça uma comparação com o líder russo, afirmando que, como o chefe de Kremlin, o presidente turco "sonha com um império" e detesta o Ocidente. Em seus discursos de campanha, Erdogan denuncia o que qualifica de "forças imperialistas que querem bloquear a conquista turca, impõem o terrorismo e o modo de vida LGBTQIA+", resume a revista.

Le Point traz ainda uma lista dos cinco pontos em comum entre Erdogan e Putin. Ambos são saudosos dos impérios que foram seus países no passado, instrumentalizam a religião, governam de forma autocrática, não escondem suas ambições expansionistas e incentivam um sistema de oligarquia, aponta a publicação.

A revista comenta que os dois líderes se aproximaram nos últimos anos. Moscou conseguiu afastar Ancara do Ocidente e Putin vê com bons olhos a permanência de Erdogan no poder. Le Point ressalta a influência turca na região, sua posição estratégica nos fluxos migratórios e afirma: os resultados do pleito podem ter consequências que vão bem além das fronteiras turcas.