Como é o Baluchistão, terra 'sem lei' e violenta onde trem foi sequestrado
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O Baluchistão, a maior e mais pobre província do Paquistão, virou notícia nesta semana devido ao sequestro de um trem por militantes separatistas.
Região tem conflitos, contrabando e petróleo
O Baluchistão é uma região do Paquistão que faz fronteira com o Irã e o Afeganistão. A região concentra embates entre as forças de segurança do Paquistão e grupos que se rebelam contra o governo local. Historicamente, o Baluchistão tem sido assolado pela seca e pelo desemprego.
Nesta região árida reside o povo balúchi, cuja população é estimada em 10 milhões de pessoas. A maioria delas vive no Paquistão, uma parcela no Irã, e uma minoria no Afeganistão.

Apesar de ser uma região pobre, o Baluchistão tem grandes reservas de petróleo e minerais como ouro e cobre. A província abriga, ainda, canteiros de obras chineses, referentes a projetos internacionais nos setores de energia e transporte. Há também grande atividade de contrabando na região, especialmente de combustível.

A exploração do local seria um dos motivos para a região ser cenário frequente de ataques promovidos por separatistas. Os grupos militantes do Baluchistão alegam estar lutando por uma participação maior na riqueza oferecida pelos recursos naturais encontrados na região.
Desde 2014, os separatistas atacam projetos relacionados com o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). O projeto faz parte da Nova Rota da Seda Chinesa, e boa parte dele é realizada justamente no Baluchistão.
Grande parte da região não está sob controle governamental, e separatistas balúchis não são os únicos que usam o Baluchistão como base para suas atividades. Governos ocidentais já acusaram o Paquistão de fornecer aos líderes talibãs um refúgio seguro no local. Também há relatos de atividades de um grupo aliado ao Estado Islâmico no Baluchistão.
As forças de segurança do Paquistão combatem há décadas os insurgentes desta província. Os grupos rebeldes acusam as autoridades de permitir que estrangeiros explorem seus recursos naturais sem que isso beneficie a população. De acordo com a ONG Anistia Internacional, em 2021, pelo menos 19% de todas as execuções no Irã foram de membros da minoria balúchi.
A presença de militantes que dizem buscar um Estado independente para o povo balúchi começou por volta de 1948, após a divisão da Índia britânica, que levaria à criação da Índia, do Paquistão e de Bangladesh. Os constantes conflitos e a violência ali presentes fazem com que o Baluchistão seja considerado uma terra "sem leis" por especialistas, segundo a rede britânica BBC.
O que aconteceu

Homens armados fizeram de reféns cerca de 450 passageiros de um trem. Segundo as autoridades paquistanesas, após uma explosão provocada na ferrovia, o Jafar Express ficou parado pouco antes de um túnel cercado por montanhas. O trem viajava de Quetta para a cidade de Peshawar, no norte do país, quando foi atacado. Algumas pessoas que conseguiram escapar precisaram caminhar durante horas por um terreno montanhoso para fugir do local.
Uma operação em larga escala das forças de segurança do país deu fim ao sequestro. Os reféns foram liberados depois de mais de 30 horas de confrontos. Parte dos reféns foi solta na própria terça-feira, e o restante no dia seguinte. 21 reféns morreram, inclusive o maquinista, segundo o porta-voz militar, Ahmed Sharif Chaudhry. Todos os 33 sequestradores foram mortos na operação.

O ataque foi reivindicado pelo Exército de Libertação do Baluchistão (BLA, na sigla em inglês), o principal grupo separatista da região. Integrantes do BLA explodiram um trecho da ferrovia, espalharam homens-bomba entre os passageiros e ameaçaram executar reféns, a menos que as autoridades cumprissem um prazo de 48 horas para a libertação de prisioneiros políticos, ativistas e pessoas desaparecidas da etnia balúchi que, segundo o grupo, haviam sido sequestradas pelos militares.
Considerado uma organização terrorista pelo governo do Paquistão, o BLA se tornou conhecido em 2000, depois que reivindicou a autoria de uma série de atentados contra as autoridades paquistanesas. Nos últimos meses, o Exército de Libertação do Baluchistão intensificou suas atividades usando novas táticas para provocar um alto número de mortos e feridos e atacar os militares do Paquistão.
*Com informações da AFP
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