Exército ucraniano pode já ter lançado grande ofensiva contra a Rússia, dizem especialistas
Após semanas de preparação, o Exército ucraniano pode ter finalmente lançado sua grande ofensiva para tentar romper as defesas russas, mas as autoridades ucranianas continuam sem dar informações sobre suas ações, usando o sigilo como estratégia. Na região de Kherson, a ocupação russa informou que o número de mortos na inundação causada pelo rompimento da barragem ucraniana de Kakhovka aumentou para oito.
Os russos afirmaram nesta sexta-feira (9) ter repelido uma ofensiva ucraniana na região de Zaporíjia e ter infligido grandes perdas a Kiev.
O centro americano de análise Institute for the Study of War (ISW) é um dos apostam que a contraofensiva ucraniana começou, esclarecendo que não espera apenas "uma operação", mas uma série de ações coordenadas, como é o caso atualmente.
"Visto o emprego de equipamentos ocidentais, parece que a ofensiva ucraniana está em curso", acredita o analista americano Michael Kofman, citado pelo jornal britânico The Financial Times.
Há semanas Kiev organiza sua ofensiva aumentando as ações inovadoras para preparar o campo de batalha, como ataques de drones em Moscou e ataques por terra em território russo.
A Ucrânia corre riscos maiores que a Rússia: menos populosa, amputada de uma parte de seu território, com seus habitantes cotidianamente sob fogo e ataques russos e usando material militar ocidental. As autoridades sabem que não terão muitas ocasiões de expulsar os russos e reconquistar os territórios ocupados.
"A pressão é muito forte sobre os ucranianos e nós talvez tenhamos uma reviravolta na guerra", analisou na quarta-feira um oficial francês, à agência AFP, ao comentar as diferentes ações preparatórias ucranianas - que fazem, segundo ele, parte da ofensiva.
"Eu tenho o sentimento de que eles vão ir com tudo. Se conseguirem, estarão em posição para negociar. Mas se não conseguirem, em menos de dois anos haverá eleições americanas, alguns estoques (de armas ocidentais) chegaram a níveis críticos. Eles sabem que a situação ficará tensa", avaliou o militar. "Se não conseguirem, a negociação será feita em condições menos favoráveis. Os ucranianos sabem disso e apostam forte neste momento", disse.
Na região de Zaporíjia, onde os Russos dizem ter evitado um ataque, "a linha de frente está fortalecida, mas menos que na região de Donetsk". "Se você chega a Melitopol, atinge um objetivo estratégico: você corta a linha de frente em duas. Todos os indícios convergem para esta região", indicou no início da semana à AFP o historiador militar francês Michel Goya.
Estratégia militar
Ao longo do front de batalha, os russos mobilizaram "aproximadamente seis linhas defensivas", explicou uma fonte militar francesa à AFP. Na zona de Zaporíjia, alguns russos chamaram o esquema de "linha Fabergé", em referência às famosas peças de joalheria em formato de ovos, realizados no século 19 para os czares.
"A primeira linha são pontos de apoio que permitem ver o que acontece. A segunda é mais para parar um ataque, está muito minada. Depois é a artilharia, os primeiros carros para contra-atacar, e finalmente as reservas e os postos de comando e a logística", detalha o militar, explicando que tudo isso se estende por aproximadamente 30 quilômetros.
Para os ucranianos, "as operações iniciais da contraofensiva poderiam ser as mais difíceis e mais lentas", segundo o ISW. "Derrotas iniciais devem ser previstas" antes de conseguir abrir brechas em linhas de defesa bem estabelecidas, consolidadas há meses pelos russos.
"Não consigo imaginar um dos dois lados capaz de ter vantagem sobre o outro", disse uma fonte de um serviço de inteligência ocidental na semana passada.
Rússia e Ucrânia devem usar a propaganda a seu favor, o que vai dificultar a avaliaçõ de sucesso ou fracasso das ações.
Outro elemento que aumenta a pressão sobre os ucranianos são as ofertas de mediação e negociação vindas de países não ocidentais, inclinados a pressionar para o fim rápido da guerra, que tem consequências negativas para muitas economias do mundo.
A China, aliada de Moscou, já se ofereceu para mediar uma saída do conflito, e na próxima semana uma delegação de muitos chefes de Estado africanos viajará a Kiev e a Moscou para tentar trabalhar pela paz.
A Ucrânia tem dois princípios fundamentais, explicou o ministro de Relações Exteriores do país, Dmytro Kuleba, ao centro de pesquisas britânico RUSI: as propostas não devem implicar em concessões territoriais da Ucrânia e não devem levar ao congelamento do conflito - o que, segundo ele, se resumiria ao reconhecimento das conquistas russas.
Explosão
O instituto sismológico norueguês (Norsar) detectou "uma explosão" vinda da região da barragem ucraniana de Kakhovka no momento da destruição do local na terça-feira (6), disse uma autoridade sênior nesta sexta-feira.
Este anúncio, que não aponta a origem da explosão, sustenta a ideia de que a barragem hidroeléctrica localizada numa zona sob controle russo não cedeu devido aos estragos sofridos durante os bombardeios dos meses anteriores.
O número de mortos nas inundações na parte ocupada pela Rússia da região de Kherson aumentou para oito, e a subida das águas pode durar mais 10 dias, conforme a ocupação russa informou nesta sexta-feira. "No total, 22.273 casas em 17 localidades estão inundadas. Segundo as previsões, o aumento das águas pode durar mais 10 dias", indicou Vladimir Saldo, chefe da parte ocupada da região de Kherson, pelo Telegram.
Segundo ele, 5,8 mil pessoas foram evacuadas desde terça-feira (6) de áreas inundadas sob ocupação russa e 4 mil pessoas estão ameaçadas com cortes de água potável. Saldo também acusou o exército ucraniano de bombardear a região, "o que dificulta o trabalho dos socorristas".
A Rússia, por sua vez, bombardeou a cidade de Kherson e a parte da região sob controle ucraniano, segundo jornalistas da AFP no local.
Russos e ucranianos acusam-se mutuamente pela destruição da barragem de Kakhovka. A água vazada do reservatório inundou a região de Kherson. Nenhuma fonte independente até agora foi capaz de dizer o que causou o rompimento da barragem, que fica na zona ocupada pela Rússia.
Para Kiev, a Rússia propositalmente inundou a região para impedir a ofensiva massiva ucraniana que estava em andamento há meses. Moscou falou de "sabotagem" ucraniana para fins militares.
Com informações da AFP
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