Greve de roteiristas e atores de Hollywood expõe perigos do uso da inteligência artificial

Desde que a greve de roteiristas de Hollywood teve início, no começo de maio, além das reivindicações salariais e do pedido de pagamento de royalties por parte das plataformas de streaming, uma outra reclamação chamou a atenção do mundo: o uso da Inteligência Artificial nas artes. Isso porque, as novas tecnologias estariam começando a substituir os humanos no processo de escrita dos roteiros de séries e filmes.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

 

Com a adesão do SAG-AFTRA, o sindicato dos atores, à greve, ficou ainda mais claro que o problema da IA poderia se estender também a estes profissionais, já que suas atuações poderiam ser retocadas, e suas imagens recriadas e reproduzidas sem sua autorização, ou ainda pior, sem que eles recebessem um centavo por isso.

A greve dos roteiristas, que já dura mais de 70 dias, é considerada histórica por ser uma das primeiras manifestações da indústria do entretenimento contra o uso, ou a ameaça, da inteligência artificial.

Os roteiristas dizem que os grandes estúdios estão começando a substituir o seu trabalho através do uso de ferramentas semelhantes ao CHATgpt, que são capazes de criar ou recriar textos de forma automatizada.

Em uma das manifestações que ocorreram na última semana em Nova York, eu conversei com um dos roteiristas em greve. Glenn Eichler contou que "a inteligência artificial pode, por exemplo, criar uma trama com base em um milhão de outras tramas já existentes. Então, o que os produtores querem é fazer com que essas tramas passem a ser escritas através do uso de AI e que os roteiristas humanos deem seguimento a este trabalho como se estivessem reescrevendo algo e não criando algo original", detalha ele.

Este seria o fim da criatividade, segundo Glenn, que escreve para o The Late Show with Stephen Colbert , e junto a outros dezenas de profissionais fazia vigília em frente aos escritórios da Warner Bros na Big Apple.

No dia seguinte a esta manifestação, o sindicato dos atores anunciou que aderiu à greve. Representando cerca de 160 mil profissionais que movimentam 134 bilhões de dólares por ano, a adesão deste sindicato ao movimento dos roteiristas deu início a uma paralisação na indústria do entretenimento que não ocorria há 60 anos. A última vez que atores e roteiristas se uniram para lutar contra os estúdios por seus direitos, foi sob o comando do ex-ator e também ex-presidente, Ronald Reagan.

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Além do uso da inteligência artificial para substituir humanos no processo de escrita dos roteiros, ela poderia também representar um risco para os atores. Uma das atrizes que aderiram à greve e participaram do primeiro dia de protestos com a participação do SAG-AFTRA, Phoebe Jones, disse que uma das ameaças é a de que as imagens dos atores possam ser alteradas e até replicadas através de tecnologia.

Ela considera de suma importância que um dos maiores sindicatos de atores do mundo se levante contra essa ameaça e peça por melhores condições contratuais.

"Os profissionais que prestam serviço para o entretenimento merecem proteções básicas", completa.

Outras reivindicações

Uma outra reclamação está relacionada às plataformas de streaming, pois além do reajuste de salário defasado pelo aumento da inflação no país, os roteiristas exigem o pagamento de uma porcentagem pela exibição das obras nas quais trabalharam, já que atualmente não se leva em conta o quão exitosa foi uma produção e quantas reproduções esta teve na hora de calcular o pagamento desses profissionais.

Os grandes estúdios alegam falta de dinheiro na negociação por reajustes. Por isso, quando um dos chefes dos grandes estúdios disse à publicação Deadline que eles esperariam até que os roteiristas não tivessem mais dinheiro para pagar suas contas e fossem obrigados a aceitar o acordo proposto pela indústria, a união de atores resolveu que era hora de entrar na briga.

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2024 pode ser sem estreias e até mesmo sem Oscar

Segundo especialistas, a greve pode se estender até o ano que vem, prejudicando a produção de grandes sucessos como as séries  "White Lotus" e "Stranger Things", e filmes como "Gladiador" e "Mortal Kombat 2".

Além de afetar eventos de divulgação, como aconteceu no dia do anúncio da entrada dos atores na greve, com a interrupção da première de "Oppenheimer" no Reino Unido, e cerimônias de premiação, como o Emmy, marcado para o próximo mês de setembro.

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