Em Lisboa, Jornada Mundial de Juventude reúne milhares de fieis e recebe críticas pelos custos
Começa nesta terça-feira, 1 de agosto, a Jornada Mundial da Juventude. Liderados pelo papa Francisco, cerca de um milhão e 200 mil católicos, de 151 países, se reúnem em Lisboa, que tem sido alvo de críticas pelo uso dos cofres públicos para arcar com as despesas.
Caroline Ribeiro, correspondente da RFI em Lisboa
A JMJ é considerada o maior evento internacional realizado pela Igreja Católica e retorna depois de uma parada mais longa de 4 anos, por causa da pandemia. As autoridades locais definem a Jornada como o maior evento público já realizado em Portugal.
A programação oficial vai dos dias 1° a 6 de agosto e os mais de 313 mil peregrinos inscritos são hospedados em prédios da Igreja Católica, escolas, acampamentos e casas de famílias voluntárias por todo o país.
O Itamaraty estima a participação de vinte mil brasileiros e lançou uma cartilha com orientações para a viagem, estadia e segurança durante o evento. O consulado do Brasil em Lisboa vai ter atendimento telefônico exclusivo para emergências durante a Jornada e recomenda que os participantes se protejam das altas temperaturas registradas neste período com chapéus, protetor solar e muita hidratação.
Agenda do Papa
Essa vai ser a terceira Jornada comandada pelo papa Francisco. A primeira foi a do Brasil, em 2013, logo após assumir a liderança da Igreja católica.
Aos 86 anos, Francisco vai estar em Lisboa pessoalmente durante cinco dos seis dias de evento, após enfrentar alguns problemas de saúde. No último mês de junho, passou por uma cirurgia no intestino para reparar uma hérnia. Antes, em março, ficou hospitalizado para tratar uma bronquite. Nas duas ocasiões houve dúvidas sobre o estado de saúde dele para a agenda em Portugal, que vai ser intensa.
Além dos momentos em que vai conduzir as celebrações religiosas mais importantes da Jornada, o papa vai ter encontros com o presidente e o primeiro-ministro de Portugal, com a liderança católica do país, vai visitar a cidade de Fátima, famosa pelas aparições de Nossa Senhora, e tem um encontro com vítimas de abuso sexual por membros da igreja.
Neste domingo, o papa pediu que todos rezem por ele. "Peço a todos que me acompanhem em oração na minha viagem a Portugal. A partir da próxima quarta-feira, na Jornada Mundial da Juventude, os jovens de todos os continentes viverão a glória do encontro com Deus e com os irmãos guiados por Nossa Senhora", declarou Francisco durante a recitação do Angelus, na Praça São Pedro, em Roma.
Críticas
Com todos os preparativos, que implicam grandes obras de infraestrutura e gasto de dinheiro, a Jornada Mundial da Juventude tem sido alvo de críticas.
O coordenador da Jornada lisboeta, bispo Américo Aguiar, afirmou, ainda em janeiro, que a igreja vai arcar com cerca de € 80 milhões em despesas.
Não há um número fechado com relação ao uso de dinheiro público, mas o governo português estima um gasto de € 36 milhões (quase R$ 188 milhões). A Câmara Municipal de Lisboa, órgão que equivale à prefeitura, já disse que vai gastar até € 35 milhões. A cidade vizinha, Loures, que também faz parte da programação, vai tirar até € 10 milhões dos cofres municipais.
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Quero receberOs gestores justificam que toda a infraestrutura da JMJ vai ficar como legado para os portugueses e serve de vitrine para o país. Em entrevista à rede de TV SIC neste sábado (29), o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, disse que o evento "não tem preço".
"Um milhão de pessoas durante sete dias em Lisboa. Que gastem € 20 ou € 30 euros por dia, são € 300 por estadia. A multiplicar por um milhão são € 300 milhões. Que outro evento em Lisboa teve esse retorno?", indagou Moedas.
Greves e protestos
Mas são muitos milhões e muitas reclamações, especialmente quando Portugal enfrenta algumas crises, como de habitação e com profissionais de várias categorias do setor público.
Médicos e enfermeiros vão estar em greve durante alguns dias da Jornada, além de funcionários da companhia ferroviária nacional e dos aeroportos. Além disso, várias forças de segurança vão fazer um protesto na frente da presidência da República enquanto o presidente estiver recebendo o Papa.
Na última quinta-feira (27), o artista plástico português Bordalo II fez uma ação que ganhou repercussão internacional. Bordalo conseguiu entrar na área do palco principal da JMJ e instalou um tapete, no estilo "tapete vermelho", feito com reproduções gigantes de notas de € 500. O artista batizou a obra de "caminho da vergonha".
"Num estado laico, num momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar a tour da multinacional italiana. Habemus Pasta", escreveu Bordalo II em suas redes sociais.
O palco que recebeu o protesto artístico, no Parque Tejo, já tinha sido alvo de críticas por causa do alto custo da construção. O orçamento inicial de € 4,2 milhões baixou para € 2,9 milhões, pagos pela Câmara Municipal de Lisboa, depois da pressão pública quando o gasto foi revelado, em fevereiro deste ano.
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