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Irmã de Villavicencio, assassinado no Equador, denuncia uma conspiração

O candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio falou em um encontro político em Quito, Equador, antes de ser morto em 9 de agosto de 2023. Imagem: REUTERS/Karen Toro

10/08/2023 15h02Atualizada em 10/08/2023 15h52

Um dia após o assassinato do jornalista e candidato à eleição presidencial no Equador, a família de Fernando Villavicencio denuncia, nesta quinta-feira (10), uma conspiração. O presidente Guillermo Lasso manteve a votação marcada para daqui a dez dias, enquanto outros candidatos pedem união e cobram ações do governo. Professora ouvida pela RFI aponta suspeitas sobre o interesse do narcotráfico em calar o jornalista.   

O Equador vive momentos de incerteza após o assassinato, na noite de quarta-feira, do jornalista de profissão, cujo principal feito foi ter colaborado com investigações que acabaram enviando para o banco dos réus o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). Em suas reportagens, Villavicencio revelou a existência de uma vasta rede de corrupção no país envolvendo o ex-chefe de Estado e seus funcionários, acusados posteriormente pela justiça de terem recebido suborno de empresários.

Um estado de emergência de 60 dias foi decretado no país, após a morte do candidato e segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a presidência. Fernando Villavicencio, que concorria pelos movimentos de centro Construye e Buena Gente, foi morto a tiros ao deixar um centro esportivo onde havia realizado um comício, na zona norte de Quito, a capital equatoriana.

As reações foram fortes desde o crime. O presidente Guillermo Lasso disse que estava "indignado e chocado". Ele garantiu que esta morte não ficará impune. Em um discurso em vídeo, o chefe de Estado anunciou algumas medidas. "Dada a gravidade dos acontecimentos que abalaram o Equador, assinarei dois decretos: o primeiro estabelecendo três dias de luto nacional em homenagem à memória de um patriota e o segundo decreto para declarar estado de emergência por 60 dias".

Neste momento, as Forças Armadas estão mobilizadas em todo o território nacional para garantir a segurança dos cidadãos.

Família denuncia conspiração

A irmã da vítima, Patrícia Villavicencio, "responsabiliza o governo" por esta crise que o país enfrenta. "Ao senhor ministro do Interior, onde está a segurança?", pergunta ela. "Perdemos um líder, o líder do país! Acabaram matando a democracia! Eles acabaram matando o homem que lutou 20 anos por todos vocês. Eles não queriam que o governo expusesse a corrupção", continuou. "E é isso que acontece quando nós, equatorianos, levantamos nossas vozes. Meu irmão era aquele líder, aquele homem valente. Eles são covardes! Maldito seja este governo, eles não fizeram nada para protegê-lo! É uma conspiração! Corrêa assassino! Corrêa assassino", concluiu.

Logo após o crime, houve uma reação de outros candidatos e jornalistas para suspender a campanha política nesse momento de luto nacional.

O candidato presidencial de direita do Equador, Otto Sonnenholzner, pediu calma e união entre as diferentes correntes políticas do país. "Convoco a todos com urgência a deixarmos a campanha de lado. Chamarei um por um para que juntos discutamos o futuro de nosso país e possamos tomar decisões, pois sozinhos não conseguiremos nada", continuou. "Nós equatorianos merecemos viver em paz, esse é nosso direito e nossa função como candidatos é mostrar união. Não queremos mais reuniões com o governo, nós exigimos ações do governo", finalizou.

Narcotráfico internacional

Para Emmanuelle Sinardet, professora de civilizações latino-americanas na Universidade de Paris-Nanterre, um dos principais beneficiados com a morte de Villavicencio são os carteis de drogas. Em entrevista à RFI, ela explica que "o assassinato brutal não é uma surpresa e faz parte de um ambiente de violência que existe há dez anos no país".

A violência em pleno processo eleitoral no Equador também resultou no assassinato de um prefeito e de um candidato a deputado. Antes das eleições locais realizadas em fevereiro no país, dois candidatos a prefeito foram assassinados.

Sinardet destaca que o jornalista morto tinha grande popularidade. "Era um jornalista de investigação contra a corrupção dentro da política e tinha uma reputação de defensor da honestidade e integridade, que lhe causaram ameaças de morte, com inimigos na direita e na esquerda", observa. "Alguns fazem ligação entre esse assassinato e uma espécie de complô político, eu penso que é mais provável que a ordem tenha vindo nos narcotraficantes, pois ele denunciava um narco-Estado e as relações de criminosos dentro dos órgãos públicos", diz.

O Equador tem enfrentado nos últimos anos um aumento do crime relacionado ao tráfico de drogas, o que quase dobrou a taxa de homicídios para 25 por 100 mil habitantes em 2022. Massacres ocorridos em prisões deixaram mais de 430 detentos mortos desde 2021.

A professora ainda explica que "o Equador se tornou um país de trânsito para a droga que parte para os Estados Unidos e a Europa a partir do porto de Guayaquil, com presença de cartéis internacionais que disputam o controle desse território para a exportação da cocaína".

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