Ativista brasileira de Brumadinho recebe Prêmio de Direitos Humanos em Paris

A jovem Marina Paula Oliveira, 28 anos, militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, que luta pelos direitos das vítimas da barragem de Brumadinho, foi a primeira homenageada da noite, nesta quinta-feira (7), no Quai d'Orsay, equivalente ao Palácio do Itamaraty francês. Ela foi laureada com o Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que é concedido há 35 anos pela Comissão Nacional Consultiva de Direitos Humanos da França (CNCDH).

Por Luiza Ramos da RFI

O prêmio, que visa apoiar ações individuais e coletivas para defesa e proteção dos direitos humanos em todo o mundo, este ano abordou a temática 'Defensores do meio ambiente e acesso à água' e cinco países foram agraciados com diplomas e medalhas: Uganda, Kosovo, México, Perú e Brasil.

Os laureados, às vezes ameaçados em seus próprios países por causa de suas ações em favor dos direitos humanos, são colocados sob a proteção diplomática das embaixadas francesas no exterior.

Marina Paula Oliveira disse em entrevista à RFI que por conta das ameaças e intimidações que já sofreu por seu ativismo em Brumadinho, chegou a entrar no programa de proteção francês ainda em 2022 e enfatiza a importância de obter apoio para dar continuidade ao seu projeto.

"Eu sei que nós não somos casos especiais, mas a gente vai buscando junto com organizacões parceiras maneiras de nos proteger para continuar nessa luta, pois a luta não é opcional. A gente tem que continuar fazendo ela, mas existem formas de continuar fazendo ela e tentar minimizar riscos e assim temos tentado fazer nos últimos anos", declara a jovem.

O caso de Brumadinho

Marina se tornou uma ativista ambiental e defensora dos direitos humanos desde o rompimento da barragem de mineração de Brumadinho, sua cidade natal, em 25 de janeiro de 2019.

A barragem, que recebia os resíduos das operações de mineração da Vale, desmoronou, varrendo toneladas de lama contaminada e matando quase 300 pessoas, dentre eles vários conhecidos e amigos dela, relembrados com fotografias em uma camiseta mostrada durante seu discurso diante do ministro das Relações Exteriores, Olivier Brecht, e do presidente da CNCDH, Jean-Marie Burguburu.

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Em um gesto impactante, a jovem ativista também mostrou uma garrafa pet contendo o barro que tomou lugar na região: "A gente não teve muita escolha. É a nossa vida, a nossa comunidade, os nossos amigos, então a gente teve que lutar, entender as violações de direitos humanos que estavam acontecendo e seguem acontecendo até hoje", denuncia.

Ela conta ainda que precisou se unir a outros ativistas da causa de Brumadinho para "organizar demandas e denúncias em âmbito estadual, nacional e internacional". "E isso só é possível com muito trabalho coletivo, porque somos muitos, somos quase um milhão de atingidos de 26 municípios da bacia do rio Paraopeba", detalha.

Quase cinco anos após a tragédia, Marina Paula Oliveira é doutoranda em Relações Internacionais e lançou recentemente seu livro "O preço de um crime socioambiental: os bastidores do processo de reparação do rompimento da barragem em Brumadinho".

Responsabilização e reparação

A internacionalista revela à RFI se sentir "muito honrada" com a homenagem concedida pela França, mas "ao mesmo tempo é triste saber que ainda é necessário ter este tipo de premiação para defender direitos que são tão básicos e simples na vida de todo o mundo", lamenta.

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"A visibilidade que a gente gostaria alcançar é justiça, responsabilização criminal das empresas envolvidas, no caso a Vale e a Tüv Süd, empresa alemã que apresentou a certificação de estabilidade da barragem, e a partir disso, também demandas concretas de reparação integral para as comunidades que até hoje seguem sem reparação", enfatiza.

Ao recordar que Brumadinho hoje conta com cem crianças órfãs, Marina se emociona e compara diretos humanos ao amor. Ela torce para haver mais empatia para haver justiça. "O poder do amor é muito transformador (...) eu fui capaz de me transformar pela dor e pelo amor à comunidade (...) e para poder construir esse mundo mais solidário, a gente vai precisar de todas as pessoas", conclui.

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