Portos franceses se transformam em pontos de entrada de cocaína na Europa e governo anuncia medidas

Os principais portos franceses se transformaram em pontos de entrada de droga na Europa, principalmente de cocaína. O governo francês anunciou, nesta sexta-feira (8), medidas para lutar contra o tráfico que, segundo o especialista Michel Gandilhon, não serão suficientes.

O governo francês anunciou na sexta-feira que quer fortalecer a luta contra o tráfico nos portos franceses. O ministro delegado do Tesouro francês e encarregado das alfândegas, Thomas Cazenave, esteve no porto de Dunquerque, o terceiro do país, no norte da França (a aproximadamente 300 km de Paris), e anunciou um reforço com a contratação de 25 agentes alfandegários suplementares, aquisição de 10 scanners móveis e uma formação para lutar contra a corrupção entre os funcionários dos portos.

Para Michel Gandilhon, especialista associado ao departamento de Segurança e Defesa do Cnanm (Consertorio Nacional das Artes e Profissões), membro do conselho de orientação cientifica do ObsCl (Observatorio da Criminalidade Internacional) e autor do livro "Drugstore, drogue illicite et trafic en France" (Drugstore, droga ilícita e tráfico na França), as medidas anunciadas não estão à altura do problema.

O especialista explicou à RFI que a maior parte da cocaína que entra atualmente na Europa passa pelos portos e o canal preferido dos traficantes passou a ser "o contêiner".

Na França, a atividade em geral nos portos aumentou, devido a uma saturação de outras entradas europeias como Antuérpia, na Bélgica, e Roterdã, na Holanda. O porto de Dunquerque triplicou o número de contêineres descarregados em seus cais entre 2010 e 2022, passando de 250.000 a 754.000 de acordo com dados publicados no jornal Le Parisien.

O aumento da atividade faz com que o interesse do crime organizado por esses pontos de entrada aumente e que estejam sujeitos ao tráfico.

Ainda é difícil afirmar que os portos franceses são mais utilizados que antes pelos traficantes de droga, mas as estatísticas mostram que as apreensões aumentaram. "Sobretudo no porto da cidade do Havre. Há 10 anos, em 2021, eram apreendidos uma centena de quilos de cocaína. Em 2021, foram apreendidas 10 toneladas", salienta Gandilhon. 

Além do porto do Havre, a aproximadamente 200 km a noroeste de Paris, e de Dunquerque, outro porto usado para entrada de droga é o de Marselha, no sul da França. 

"O tráfico está aumentando porque a produção de cocaína quintuplicou na Colômbia, principal produtor da droga. Alcançamos atualmente níveis recordes, então tem mais cocaína que passa (pelos portos)", diz. Além disso, o trabalho da polícia se intensificou. "E como os serviços de polícia e as alfândegas são cada vez mais orientados para a questão dos portos, descobrimos cada vez mais cocaína", diz.

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Corrupção

De acordo com uma nota da alfândega francesa obtida pelo jornal Le Parisien, "diversas redes criminosas do Havre têm como patrocinadores regulares membros da Mocro Maffia", uma quadrilha holandesa poderosa e violenta, mandante de uma dezena de assassinatos nos Países Baixos, entre eles a de um jornalista, e de uma tentativa de sequestro do ministro da Justiça belga.

O mesmo documento afirma que a corrupção nos portos seria "subestimada" e revela diversas atividades ilegais, como fugas de informação sobre controles planejados, inspeções de carregamentos canceladas ou voluntariamente negligenciadas, permissão de acesso a zonas específicas, deslocamento de carregamento, impedimento de investigações e de procedimentos judiciais.

O ministro Thomas Cazenave anunciou planos de formação de agentes públicos para lutar contra a corrupção. Mas de acordo com Michel Gandilhon, "não são somente os agentes das alfândegas que são corruptos, são sobretudo os trabalhadores dos portos, porque a cocaína é desembarcada sobretudo pelos trabalhares portuários, a profissão alvo dos traficantes", explica.

"Hoje sabemos que um trabalhador do porto que sai com um saco de um quilo de cocaína pode ser remunerado em até € 1.000 (R$ 5.300), um operador de guindaste que vai mover um contêiner pode receber várias dezenas de milhares de euros, assim como uma pessoa que realiza um trabalho técnico e que pode recrutar um traficante ou um cúmplice de traficantes para trabalhar no porto", afirma.

Além do pagamento de propina, existe também pressão feita por grupos criminosos sobre os trabalhadores. "Ainda que o dinheiro seja o principal motivador, existem também pressões, chantagens, ameaças sobre familiares. Então, eventualmente, e tivemos exemplos, recentemente, de casos de trabalhadores que não queriam colaborar e foram ameaçados de sequestros ou torturados. Então as pressões exercidas pelas quadrilhas são intensas sobre estas pessoas", diz.  

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