Expedição científica no Brasil do século 19 inspira artista brasileira que expõe na Europa

A artista brasileira Aline Xavier acaba de encerrar em Paris uma residência artística de seis meses na Cité Internationale des Arts (Cidade Internacional das Artes), no bairro do Marais. Da França, ela seguiu para a Alemanha onde inaugura a partir do dia 20 de abril uma exposição sobre o naturalista alemão Langsdorff, que chefiou uma importante missão cientifica no Brasil no século 19.

Em Paris, Aline Xavier participou de um novo programa de residência pluridisciplinar na Cité Internationale des Arts que foi encerrado com a exposição "Passeios selvagens". A mostra reuniu o trabalho dos dez artistas envolvidos no programa que tinha como temática principal a transição ecológica e a crise climática. "Foi um programa que me interessou principalmente pela interface entre arte e ciência", conta artista.

A mineira apresentou uma peça e uma performance, intituladas "Escrever a Voz dos Animais". Para criar os trabalhos, ela se baseou no sistema de zoofonia inventado pelo francês Hercule Florence (1804-1879), para documentar as vozes dos animais que ele viu no Brasil no século 19.

"Florence foi com Langsdorff ao Brasil. Não só ele, mas outros artistas renomados, como Rugendas, por exemplo. E ele ficou impressionado com os sons dos animais que ouviu, principalmente na Amazônia, e criou esse invento, a "zoofonia," que é uma maneira de anotar o canto dos animais. E isso, quando não tinha gramofone ou a Bioacústica, que hoje é um campo da ciência", relata.

A artista recriou as partituras musicais de Florence usando, por exemplo, um guarda-roupa original da Normandia do século 19, que tem quase a mesma idade que o inventor francês, encontrado no Mercado das Pulgas de Paris.

"Contraexpedição"

Os trabalhos que fazem referência a Hercule Florence integram um projeto maior que Aline Xavier batizou de "Contraexpedição" e que resgata a missão científica do naturalista alemão Langsdorff, realizada de 1822 a 1829, e que teve um papel importantíssimo na história do Brasil.

O médico e naturalista Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852) morou no Brasil por quase 20 anos. Ele chegou em 1813 como cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro. Este ano se comemora os 250 anos de seu nascimento. Esse projeto já levou Aline Xavier à Rússia, onde estão os arquivos da expedição, e de Paris, ela seguiu para a Alemanha para a inauguração de uma grande exposição, no 20 de abril, que comemora os 250 anos do naturalista.

A artista faz um paralelo com o fato de quase não haver mais "indícios de Langsdorff" na cidade onde ele passou grande parte da vida, e a perda de memória do naturalista alemão no final de sua vida. "Ele contrai malária na Amazônia e quando volta para a Alemanha não se lembra de nada", afirma, enfatizando que "o homem que dedicou a vida para inventariar, morre sem absolutamente nenhuma memória".

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A obra da artista pluridisciplinar dialoga com o patrimônio, a memória, e tem também um lado político, militante, de estar sempre alertando principalmente para os riscos das mudanças climáticas. Eu venho de uma trajetória de documentário e cinema. Então, essa ideia de catalogar ou de inventariar ideias permeia muito meu trabalho. E quando eu olhei para essa história, que foi a da expedição Langsdorff, o que me chamou atenção foi essa riqueza na documentação da nossa exuberância natural brasileira, que é algo que já está perdido. Eu encontrei um Brasil que não existe mais", revela.

Clique na foto principal para assistir à entrevista completa.

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