Milhares de pessoas protestam contra crescimento da extrema direita na França

Milhares de pessoas participaram de manifestações neste sábado (15), na França, contra o crescimento da extrema direita, que poderá chegar ao poder graças às eleições legislativas antecipadas de 30 de junho e 7 de julho.

No total, foram registadas 145 mobilizações em toda a França por parte de fontes policiais, especialmente em Paris, Nantes, Marselha, Rennes, Toulouse e Grenoble.

A CGT - Confederação Geral do Trabalho relatou que as manifestações tiveram a presença de 640 mil pessoas em toda a França - incluindo 250 mil em Paris. Já o Ministério do Interior e a polícia contaram 217 mil manifestantes no país, incluindo 75 mil na capital francesa.

Os manifestantes marcharam sem confrontos expressivos, mas foram relatadas tensões em Nantes e Paris no final da manifestação, que decorreu a partir da Praça da República até a Praça da Nação. Sete pessoas foram presas em Paris, principalmente por danos, informou a polícia local.

No total, 21 mil policiais foram mobilizados no país.

Cinco sindicatos, CFDT, CGT, UNSA, FSU e Solidaires, apelaram à mobilização após a decisão surpresa do presidente Emmanuel Macron de dissolver a Assembleia Nacional na noite de uma severa derrota para a maioria presidencial. A Force Ouvrière, a CFE-CGC e a CFTC, "apolíticas", não aderiram ao chamado.

"Este é um momento histórico, estamos potencialmente num ponto crucial para a democracia, é absolutamente necessário que todos se mobilizem", destacou Marylise Léon, secretária-geral da CFDT, no início da marcha parisiense.

A bandeira sindical proclamava: "Por um futuro unido, pelo progresso social - Juntos contra a extrema direita!"

Para Léon, "a questão é mobilizar quem não vota" com foco nas eleições antecipadas.

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A taxa de abstenção ficou em 48,5% na França durante as eleições europeias de 9 de junho.

Entusiasmo pelo RN

A secretária-geral da CGT, Sophie Binet, convidou os eleitores de direita a se oporem ao partido de extrema direita Reunião Nacional, "uma impostura social", segundo ela. A agora possível chegada da extrema direita ao poder é "uma ameaça existencial para toda a democracia", disse ela.

As sondagens mostram o Reunião Nacional (RN), vencedor das eleições europeias com 31,37% dos votos, bem na liderança para as eleições legislativas.

De acordo com o último estudo divulgado sábado pela OpinionWay-Vae Solis para o jornal Les Echos e Radio Classique, o RN receberia 33% das intenções de voto se o primeiro turno acontecesse no domingo, a "Nova Frente Popular", uma aliança de esquerda (25%) e "Juntos pela República" (maioria presidencial), teria 20%.

Segundo o instituto que realizou a pesquisa de intenção de voto, observa-se "um entusiasmo com o partido de extrema direita tão marcado entre os homens como entre as mulheres, que atinge todas as faixas etárias e estatutos socioprofissionais". A enquete foi online e realizada nos dias 12 e 13 de junho com 1.011 pessoas, antes do acordo selado pelos partidos de esquerda França Insubmissa (LFI), o Partido Socialista (PS), a Europa Ecologista (EELV) e o Partido Comunista (PCF).

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"Contra a extrema direita, nas ruas e nas urnas", podia ler-se na manifestação parisiense numa faixa da SOS Racisme, associação fundada em 1984 para lutar contra o racismo e o anti-semitismo.

Diversas organizações da sociedade civil estiveram representadas, assim como jovens, que compareceram em grande número, com slogans contundentes como "Juventude irrita a Frente Nacional" (ancestral do RN).

"MENTIRAS"

Carol-Ann Juste, 22 anos, estudante em Paris, participou de uma manifestação pela primeira vez.

"Aqui estamos numa virada política, estamos preocupados em ver a 'desdemonização' do RN, em ver que as pessoas estão aderindo e ouvindo as mentiras deste partido que tem uma herança puramente racista e xenófoba", explicou. 

"Viemos lutar para manter um país de direitos humanos, um país acolhedor, de liberdade, de tolerância, de bondade", acrescentou.

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Na Praça da Bastilha, três ativistas subiram no monumento central e abriram uma faixa onde se lia: "Fazemos um juramento solene de permanecer unidos para desarmar Macron e a extrema direita".

Entretanto, a união da esquerda com a "Nova Frente Popular" já se mostra abalada por lutas internas. A decisão do LFI de não investir para as eleições legislativas em figuras partidárias muito críticas ao seu líder, Jean-Luc Mélenchon, foi citada nas passeatas, onde este último foi convidado a "não estragar tudo", no que se refere à aliança.

Os líderes da "Nova Frente Popular" marcharam em Paris.

"As coisas são muito simples hoje, ou são os 'fascistas' ou nós. Se você está aqui, é porque escolheu o seu lado. Mas agora, são todos os outros que precisam ir e encontrar: aqueles que estão cansados ??de votar, quem não sabe, quem tem medo", lançou Marine Tondelier, secretária nacional da EELV.

"É importante mostrar que estamos mobilizados e que o RN não é a maioria, e também opor-nos a Emmanuel Macron e às suas políticas que enfraqueceram muito a educação", disse Cécilia Lormeau, professora de 34 anos, que pretende votar na Nova Frente Popular.

"Vamos acabar com reformas conservadoras, que são contrárias à igualdade. Estou preocupada com os meus alunos de origem imigrante, com deficiência. Queremos que todos os alunos tenham sucesso", acrescenta.

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Amadou Sall, um cidadão mauritano de 25 anos que aguarda a autorização de residência e trabalha na preparação de encomendas, teme pelo seu futuro, "quando vejo como eles (o RN) falam dos estrangeiros".

(Com AFP)

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