Eleições legislativas: coalizão macronista se divide diante de estratégia de bloqueio da extrema direita

A campanha para o segundo turno das eleições legislativas começou sob fortes divisões na segunda-feira (1°). A coligação governamental não esconde sua resistência diante da necessidade de se aliar à esquerda para formar uma frente republicana. O objetivo é barrar o avanço da extrema direita e evitar que o partido Reunião Nacional obtenha uma maioria absoluta na Assembleia Nacional.

"Emmanuel Macron está inaudível enquanto seu campo se divide", destaca o site do jornal Le Monde, que evoca a dificuldade de alguns membros do governo de estender a mão à aliança de esquerda Nova Frente Popular. Na noite de domingo (30), após o anúncio da vitória histórica do partido de extrema direita Reunião Nacional, o presidente francês fez um apelo a uma "grande união democrata e republicana". 

Logo depois, o primeiro-ministro Gabriel Attal discursou e pediu que membros da coligação macronista abandonassem suas candidaturas em zonas eleitorais onde não têm chances de vencer a extrema direita para deixar o lugar a concorrentes de outras formações políticas, principalmente de esquerda.

Segundo um balanço do Le Monde, até a noite de segunda-feira (1°), mais de 180 candidatos abandonaram a corrida, 121 da esquerda e 60 do campo governamental. O diário destaca que alguns membros da coligação governamental e do próprio Executivo se recusam a ceder o espaço a candidatos do partido da esquerda radical França Insubmissa, o qual classificam como "extremista". Durante uma reunião convocada por Macron na segunda-feira, ministros originários da direita defenderam um bloqueio tanto ao Reunião Nacional como à França Insubmissa, equiparando as duas legendas. 

Falta de unanimidade

"Desista, prove que você resiste", diz o jornal progressista Libération em sua manchete, estampada com uma foto de Macron. Fazendo um trocadilho com a letra de uma célebre música da cantora francesa France Gall, o diário evoca a estratégia no segundo turno para fazer frente à extrema direita, mas que parte do campo governamental tem dificuldades de seguir. Libé afirma que diante do perigo do Reunião Nacional, candidatos da esquerda estão participando do movimento "sem hesitar", "mas os macronistas também têm de se sacrificar", afirma, ressaltando que a falta de adesão do campo governamental "só aumenta a confusão". 

O jornal Le Figaro diz que a ideia da "frente republicana" não é unânime entre a alta cúpula do governo, mesmo diante do fracasso da coligação de Macron no primeiro turno das eleições legislativas, que conseguiu apenas 20,76% dos votos. "É preciso dizer que as desistências da esquerda estão salvando um grande número de candidatos macronistas", reconhece o diário. 

Em entrevista ao jornal, o ministro da Economia, Bruno le Maire, diz assumir a derrota do último domingo e expressa seu desejo de evitar que a extrema direita obtenha a maioria absoluta na Assembleia Legislativa. No entanto, confirma sua oposição a uma abertura ao partido da esquerda radical França Insubmissa, que classifica de "divisório e antissemita". "Devemos combater o Reunião Nacional com nossos valores e nossas convicções, não com os valores do França Insubmissa", sublinha.

Responsabilidade e compreensão

"Tempo de responsabilidade" é a manchete do jornal La Croix, que faz um apelo ao abandono de candidaturas para um bloqueio da extrema direita. Ao mesmo tempo, reconhece que "o Reunião Nacional se tornou o partido mais representativo da população francesa". Por isso, segundo o diário, é preciso que, não abrindo mão da defesa de valores, os governos respondam aos problemas que levam parte do eleitorado a escolher a extrema direita hoje: desemprego, baixos salários e poder aquisitivo, sentimento de abandono e a desconfiança nas promessas republicanas. 

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