Britânicos votam em eleições legislativas e Partido Trabalhista pode voltar ao poder após 14 anos

A votação começou nesta quinta-feira (4) e termina às 22h no horário local. As pesquisas de opinião indicam uma vitória folgada para o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer. Ele deve herdar do atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, um país mais pobre e desigual.

Por Yula Rocha, correspondente da RFI Londres

"Mudança" foi a palavra mais repetida durante as seis semanas de campanha por todos os candidatos britânicos, incluindo o atual premiê, Rishi Sunak, que busca a reeleição, e Nigel Farage, do Reform UK, da extrema direita. Este também é o slogan dos trabalhistas de Keir Starmer, que devem retomar o poder, há 14 anos nas mãos dos conservadores.

Os trabalhistas devem conquistar a maioria das cadeiras no Parlamento e poderão formar um governo sem necessidade de coalizão. Há também expectativa em relação ao nível da derrota dos conservadores, ao crescimento da extrema-direita e ao avanço dos liberais-democratas.

De acordo com as pesquisas, os conservadores vão perder os votos da classe trabalhadora do Norte da Inglaterra, conquistados em 2019. Já os eleitores conservadores mais ricos do interior do país devem migrar para os liberais-democratas.

Quando os britânicos são questionados sobre os principais problemas ou preocupações relacionados ao país, o sistema de saúde público lidera a lista, seguido do aumento do custo de vida. A política migratória também é essencial para 30% dos eleitores e é a principal bandeira da direita.

Keir Starmer foge das polêmicas 

Apesar da imagem séria e competente, Keir Starmer é desconhecido dos eleitores. Além de pouco carismático, o líder trabalhista é um político muito reservado. O ex-advogado de direitos humanos cresceu em uma família da classe trabalhadora e se posiciona como um candidato de centro-esquerda.

Durante sua campanha, ele evitou questões polêmicas. Starmer não condenou as ações de Israel na Faixa de Gaza, o que influenciou o voto de muitos eleitores muçulmanos e da esquerda tradicional, e apresentou uma política climática pouco ambiciosa. Ele evitou falar sobre o Brexit sempre que foi possível.

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Rejeição aos conservadores

O resultado das eleições legislativas no Reino Unido deve representar, principalmente, uma rejeição aos conservadores. Nos últimos 14 anos, os britânicos sofreram com a política de austeridade fiscal introduzida pelo ex-primeiro-ministro David Cameron e a saída traumática da União Europeia, que complicou a relação comercial com seus principais parceiros, os vizinhos do continente.

Em oito anos, os britânicos tiveram quatro líderes de governo: Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak. Durante a pandemia, os conservadores se envolveram em escândalos de corrupção e festas enquanto a população estava trancada em casa e não pôde sequer se despedir de seus pais, mães e filhos que morreram de Covid-19. O país ainda enfrentou a perda da Rainha Elizabeth II, que representava a estabilidade e continuidade do Reino Unido.

A quinta maior economia do mundo também está mais pobre e desigual e, atualmente, cerca de 30% das famílias com filhos vivem abaixo da linha de pobreza. Este é um dos legados deixados pela direita, que enxugou serviços públicos e benefícios sociais.

A contagem manual das cédulas de papel deve varar a madrugada e, se confirmadas as projeções, o líder trabalhista Keir Starmer deve se tornar o novo primeiro-ministro britânico nesta sexta-feira (5).

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