Wálter Maierovitch

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Opinião

Eleições podem mudar paisagem democrática e republicana da França

Nesta semana, depois dos bons ventos britânicos, ciclones e tsunamis poderão arrasar a França e mudar a sua paisagem democrática e republicana.

Confirmadas as pesquisas, o nacionalismo de Marine Le Pen, herdado do pai antissemita e condenado processualmente pelo seu nazismo, chegará ao parlamento.

Atenção: isso na nação da Revolução Francesa, com o seu magnífico lema da "liberté, egalité, fraternité". Na terra dos enciclopedistas Diderot e D'Alembert, da literatura de tantos geniais escritores espalhados em diferentes escolas da literatura, de Hugo, Chateaubriand, Musset, dos jusfilósofos como o barão de La Brède e de Montesquieu.

Com isso, o mercado financeiro europeu sofrerá abalos, a sustentação ocidental à Ucrânia ficará minada, a Otan enfraquecerá, o sanguinário Putin ganhará musculatura europeia e a gestão dos arsenais nucleares franceses virará incógnita.

A lembrar, por outro lado, que os vazios cofres do partido radical de Le Pen ficaram recheados com dinheiro doado por Putin, em operação realizada por bancos russos.

No meio da ventania direitista radical, uma voz lúcida definiu o quadro político. A frase é do primeiro-ministro polonês Donald Tusk, um dos responsáveis pela virada do jogo fascista na Polônia: "Amam Putin, o dinheiro e o poder sem controle. Estão no poder ou estão à sua procura na Europa ocidental e oriental".

VOTO JUDEU: Le Pen

Os judeus franceses vivem um dilema. Em quem votar?

Evidentemente, todos os judeus franceses têm a memória da parte da França colaboradora com o nazismo. A do governo fantoche do traidor marechal Philippe Pétain e o seu Estado de Vichy, nascido em 10 de julho de 1940, com aprisionamento de judeus, apenas por serem judeus. Mais ainda, o apoio incondicional a Hitler, na França de Pétain.

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Era a França de Vichy com o republicano general De Gaulle a combater e ter como inimigo Pétain.

Marine Le Pen é antissemita. Como se diz no popular, uma antissemita "de carteirinha", que agora esconde e ataca o terrorismo para atrai o voto dos judeus franceses, como ficará abaixo exposto, quando se analisará a posição de Jean-Luc Mélenchon, o radical da esquerda francesa.

Como política e a mostrar ética ambígua e de ocasião, Le Pen acenou na campanha positivamente aos judeus, quis esconder o antissemitismo, como coisa do passado e de alguém em evolução democrática, contra o terrorismo do Hamas, e a abraçar o republicanismo onde todos são iguais perante as leis.

Le Pen quis passar borracha no antissemitismo, um parasita grudado no partido Rassemblant National (RN), onde é a líder e lança o seu delfim, o jovem e iletrado Jordan Bardella, de raízes argelina e italiana, para primeiro ministro e a espera maioria absoluta para dividir, no sistema semipresidencialista francês, poderes com o presidente Emmanuel Macron.

Contradição: Le Pen é contrária ao voto dos que possuem dupla cidadania. Não quer misturas e, assim, despreza os avós imigrantes de ilustres franceses. Esqueceu-se de ser Bardella originário do Magrebe e da Itália.

Da mesma maneira como guardei a frase supracitada do premiê polonês, coloquei na minha hemeroteca uma meio óbvia, mas a merecer eterna lembrança: "Numa democracia, as eleições estão nas mãos dos eleitores".

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Será que algum judeu francês terá falta de memória e votará a favor da direita extremista liderada por Marine Le Pen?

VOTO JUDEU: com republicanos ou Macron

O ícone dos republicanos é o general De Gaulle. Atenção: combatente do nazismo, inimigo de Pètain, pela França livre e republicano de direita.

De Gaulle deve estar a girar na sepultura. Os seus republicanos (Les Républicains) foram traídos pelo presidente do partido, Eric Ciotti.

Ciotti apoiou no primeiro turno o partido de Le Pen. Está repetindo o apoio no segundo turno que termina amanhã, 7 de julho.

Os republicanos, do partido de centro-direita e que se rebelaram em respeito à memória de De Gaulle, chegaram a 6,6% dos votos, no primeiro turno. No geral, os republicanos alcançaram baixa votação e não existe mais a unidade que levou, no passado, às vitórias do general De Gaulle, de Pompidou, Chirac e Sarkozy.

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Macron, o grande perdedor das eleições europeias e o que dissolveu o parlamento para novas eleições, tenta unir os franceses contra Le Pen, ou melhor, a direita extremada.

Os judeus franceses oscilam. Alguns ainda têm a imagem do Macron como herói romântico, estudante brilhante do liceu Henry IV, entendedor da economia mas com a inflação tendo aumentado na sua presidência, europeísta e defensor da Aliança Atlântica (Otan) contra o perigo russo. Para outros, e a grande maioria dos franceses, Macron é arrogante, mitômano.

O certo é que muitos judeus não estão com Macron, mas estarão por uma unidade de combate a Le Pen e os seus radicais de direita.

VOTO JUDEU: Mélenchon e o apoio ao Hamas

A esquerda francesa foi medalha de prata na corrida eleitoral. Ficou em segundo lugar no primeiro turno. Caso consiga no segundo turno os votos do partidários do Ensemble de Macron, poderá bater o partido de Le Pen e aliados.

A frente contra Le Pen, espera-se, terá os votos dos centristas, de direita e esquerda, e dos progressistas.

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No primeiro turno, e disso aproveitou-se Le Pen, os judeus franceses assustaram-se com o radicalismo de Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical.

Mélenchon não considera o Hamas uma organização terrorista. Pior, entende ser o Hamas uma organização legítima de luta armada a favor dos palestinos. Com isso, Mélenchon justificou o ataque do Hamas de 7 de outubro passado, os reféns levados, os 1,4 mil mortos judeus, inocentes, e 3.400 feridos.

Para o segundo turno, a esquerda não radical esforçou-se, corretamente, em reprovar o terrorismo do Hamas e os excessos do sanguinário premiê Benjamin Benjamin Netanyahu, autor de crimes de guerra e contra a humanidade. Empunhou, corretamente, a bandeira dos dois estados para dois povos.

Os judeus, com a ensaiada mudança de postura da esquerda, mas sem deixar de olhar torto para o radical Mélenchon, deverá votar, na sua maioria na esquerda, contra Le Pen, agora em panos a camuflar o seu antissemitismo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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