Comitê vai selecionar atletas russos e bielorrussos que vão participar dos Jogos Olímpicos de Paris

Os 32 atletas russos e 15 bielorrussos ainda estão sendo escolhidos pelo chamado Comitê de Revisão de Atletas Individuais Neutros para os Jogos Olímpicos de 2024. Eles não poderão participar da cerimônia de abertura e só competirão individualmente, sem bandeira e hino.

Os atletas russos e bielorrussos foram submetidos à verificação das federações esportivas internacionais e de um comitê especializado do COI (Comitê Olímpico Internacional). A Federação Internacional de Atletismo, por exemplo, decidiu no ano passado que russos e bielorrussos não participariam das competições.

Os membros dessas comissões examinam os perfis dos atletas e verificam se eles não têm conexão com os militares e demonstram neutralidade política em relação à invasão da Ucrânia. Mas alguns deles conseguiriam driblar essas exigências, como o lutador russo Arslan Bagayev e a ciclista bielorrussa Anna Tserakh, segundo o site Base of Ukrainian sport.

Pavel Latushka, político exilado da oposição e ex-funcionário de alto escalão do regime de Lukashenko, está acompanhando de perto essas qualificações:

"O esporte é uma ferramenta a serviço do regime de Lukashenko e melhora a imagem do ditador", ressalta. "O esporte na Belarus está conectado a estruturas militares e serviços especiais, ministros, vice-ministros do Interior, comandante de tropas e o presidente da KGB, que são, ao mesmo tempo, líderes de federações esportivas".

Na Rússia também existem times de futebol que estão ligados ao Exército, como o CSKA, ou à polícia, como o Dínamo. Mas outros esportes, como o ciclismo ou o tênis, têm poucas relações com o governo, de acordo com Sylvain Dufresse, professor da Universidade de Nantes e especialista em esportes russos e soviéticos. 

"Essas federações e seus atletas têm receitas que não dependem do Estado. É o oposto em relação a outras disciplinas em que a renda e a situação dos atletas dependem de patrocinadores próximos ao governo ou de subsídios do Estado", explicou.

Atletas recusaram convites

Vários atletas, aliás, recusaram convites por conta própria, como o ciclista Alexander Vlasov, ou o bicampeão olímpico de natação em Tóquio nos 100 e 200 m costas, Evgeny Rylov. Ele disse que preferia desistir das Olimpíadas para não "se rebaixar ao nível dos 'provocadores ocidentais'", um termo usado com frequência pelo Kremlin.   

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Esse comportamento também pode ser ditado pelo "medo de mobilização e represálias da mídia contra esses atletas que ousam participar dos jogos sob uma bandeira neutra. Na imprensa russa, há um debate sobre o interesse de participar desses jogos em condições que os líderes russos consideram humilhantes", diz Sylvain Dufraisse.

"Não temos nada a ver com o Ocidente. O COI está fazendo exigências vergonhosas aos atletas russos", escreveu o jornal on-line pravda.ru em 1º de julho, exaltando eventos alternativos como os Jogos do Brics, que aconteceu em Kazan no mês passado, reunindo atletas do bloco formado atualmente pela África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã e Rússia.

Nikita Nagornyy, campeão olímpico de ginástica por equipes em Tóquio, também não estará presente nos Jogos Olímpicos. Líder do movimento juvenil patriótico Yunarmia ("Exército da Juventude"), criado por iniciativa do Ministério da Defesa russo, ele está sob sanções dos EUA  por causa de seu apoio ao ataque à Ucrânia.

A federação russa de judô, esporte do presidente Vladimir Putin, também decidiu não enviar nenhum atleta à Paris 2024, uma forma, segundo Dufraisse, de "se alinhar com a posição do Kremlin". 

A lista final dos atletas russos e bielorrussos será anunciada em 8 de julho. Para o COI, é "importante que um certo número de atletas participe", enfatiza Sylvain Dufraisse.

"Isso possibilitará desafiar a visão de Vladimir Putin de que as federações internacionais e o COI estão discriminando os russos por motivos étnicos, e estão politizando o esporte, afastando-se dos valores olímpicos. Receber atletas russos e bielorrussos para o COI é uma forma de mostrar seu ecumenismo e defender uma visão universal do esporte, por isso é muito importante para o COI", acrescenta.

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