França: últimas pesquisas apontam ligeira recuperação do bloco de Macron contra a extrema direita

A poucas horas do término da campanha para o segundo turno das eleições legislativas na França, no domingo (7), as pesquisas apontam um recuo das intenções de voto na extrema direita. Os candidatos da aliança de esquerda permanecem na segunda posição, enquanto o bloco de centro e centro-direita que apoia o presidente Emmanuel Macron registra uma ligeira recuperação e poderia 'salvar os móveis', depois da criticada dissolução da Assembleia dos Deputados pelo chefe de Estado.

Uma nova pesquisa OpinionWay divulgada nesta sexta-feira (5) aponta que a extrema direita e seus aliados obteriam entre 205 e 230 vagas na Assembleia Nacional, portanto longe dos 289 assentos que representam a maioria absoluta do plenário. 

A Nova Frente Popular de esquerda, que reúne socialistas, ecologistas, comunistas e candidatos da França Insubmissa, sigla de esquerda radical, ficaria com 145 a 175 deputados. Já o campo presidencial poderia conquistar entre 130 e 162 vagas na Assembleia Nacional, contra 250 antes da dissolução.

O instituto de sondagem Odoxa publica projeções semelhantes. O partido populista Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen e Jordan Bardella, pretendente ao cargo de primeiro-ministro, aparece com 210 a 250 cadeiras, à frente da aliança de esquerda, com 140 a 180 deputados - em ligeira queda -, seguida pelo bloco centrista, relegado à terceira posição, com 115 a 155 assentos no plenário de 577 parlamentares.

Essa recomposição do cenário que pode emergir das urnas no domingo é uma consequência das desistências de candidaturas entre os dois turnos. Os blocos de esquerda e de centro se uniram em uma "frente democrática", também chamada de "cordão sanitário republicano" no jargão político francês, para impedir que a extrema direita conquiste o poder.

Mas há incertezas em relação à participação dos eleitores, que alcançou 66% no primeiro turno, a maior desde 1997. Não é certo que os eleitores dos candidatos que se retiraram da disputa irão votar e ainda redirecionar seus votos para o concorrente da frente republicana.

Dos 76 deputados eleitos no primeiro turno, a maioria são do RN (39) e de esquerda (32), sendo apenas dois do partido do presidente e um da direita republicana. O rosto de Macron desapareceu dos santinhos de propaganda. A campanha foi pilotada pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, mais popular entre os franceses, que defendeu o programa do partido Renascimento sem fazer recomendação de voto.

A "urgência" é "impedir a todo custo" a chegada da extrema direita ao poder, reiterou nesta sexta-feira a líder dos Ecologistas Marine Tondelier, que apelou aos eleitores para que votem em opositores ao RN.

Cenário incerto 

Sem maiorias certas em nenhum dos blocos, várias hipóteses começam a surgir: de uma "grande coligação" entre a esquerda (sem o partido França Insubmissa), o partido no poder e os deputados de direita que não se aliaram ao RN, até um governo técnico. 

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A imprensa apontou, nos últimos dias, dezenas de candidatos do RN acusados de racismo, antissemitismo, complotismo e com passado judicial comprometedor

A fundadora do RN, Marine Le Pen, reeleita no primeiro turno num distrito do norte da França, criticou a formação de um 'partido único' contra a extrema direita, vendo as chances de conquistar a maioria se afastar. Jordan Bardella e Le Pen têm repetido que só têm a intenção de chefiar um governo de coabitação com Macron se dispuserem da maioria absoluta dos deputados, para poderem cumprir as promessas que fizeram aos eleitores. "Se não obtivermos a maioria absoluta no domingo, o país ficará bloqueado", escreveu Le Pen no X.

Incidentes de violência

Na reta final da campanha, a atmosfera se deteriora, com incidentes de violência em todo o país. De acordo com o ministro do Interior, Gérald Darmanin, 51 candidatos, suplentes ou militantes foram agredidos fisicamente desde 30 de junho, depois que a extrema direita venceu o primeiro turno com 33% dos votos, à frente da esquerda (28%) e do centro (22%). 

Os agressores são de diversas posições políticas, segundo o ministro, mas principalmente extremistas de direita e de esquerda. Ao menos 30 pessoas envolvidas nos atos de violência foram detidos pela polícia. 

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O governo francês antecipa a possibilidade de perturbações da ordem pública na noite de domingo, quando as projeções de resultados forem publicadas. O ministro do Interior anunciou que "30 mil agentes da polícia, incluindo 5 mil em Paris e nos seus subúrbios", estarão nas ruas para garantir a segurança.

O premiê Gabriel Attal já anunciou nesta sexta-feira que seu governo está disposto a continuar "o tempo que for necessário" para garantir a continuidade do Estado. A França sediará os Jogos Olímpicos de Paris a partir de 26 de julho.

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