Paris comemora 80 anos da libertação do nazismo e homenageia apoio de republicanos espanhóis

Em meio ao clima de festa dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, Paris recorda neste domingo (25) os 80 anos da libertação da cidade da ocupação nazista, que durou 1.500 dias durante a Segunda Guerra Mundial. Em uma cerimônia oficial, o presidente Emmanuel Macron destacou "o combate sem fim contra o ódio" que deve ser promovido ainda hoje. 

 

Em 25 de agosto de 1944, a maior parte da 2ª Divisão Blindada comandada pelo general Leclerc entrou na capital ocupada pelos alemães e após uma semana de greves, barricadas e batalhas de rua lideradas pela resistência.

Oitenta anos depois, um "desfile militar e popular" percorreu um dos itinerários seguidos pelo batalhão no sul da capital francesa. "É maravilhoso que 80 anos depois, ainda haja tanto entusiasmo (...) É importante conhecer tudo, todo o seu sacrifício", disse à AFP Bénédicte de Francqueville, 88 anos, última filha viva do general Leclerc.

Na cerimônia oficial, a tocha dos Jogos Paralímpicos Paris 2024 foi acolhida. Em seu discurso, o presidente francês recordou o "aspecto universal da operação francesa" que resultou na libertação, com a atuação da resistência interna, da 2ª Divisão Blindada e o apoio dos Estados Unidos, do cônsul sueco na época e do governador militar alemão.

"Nós nos lembramos da ajuda dos Aliados e da maneira na qual eles combateram, lado a lado, americanos e franceses. Daqueles que têm a França como pátria e daqueles que, nascidos fora, tinham a liberdade como um ideal", disse Macron, na praça Denfert Rochereau. 

Como foi a libertação de Paris

A liberação de Paris ocorreu quase quatro três meses depois do Desembarque aliado na Normandia, ocorrido em 6 de junho de 1944. No dia 15 de agosto, os aliados atracam também pelo sul, na Provença, mas a chegada à capital ainda parecia distante. Os parisienses então organizam uma revolta popular, a começar pelo comando da polícia.

No amanhecer de 19 de agosto, 3 mil policiais franceses à paisana tomaram a caserna da île de la Cité, no centro de Paris, onde os bombeiros já estavam rebelados e haviam erguido a bandeira tricolor quatro dias antes. É o início da insurreição de Paris, em meio a uma greve geral lançada na cidade no mesmo momento.

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Seis dias de combates contra as forças alemãs transformaram a capital num campo de batalha, mas segundo os historiadores, os 20 mil soldados nazistas, mal equipados, pouco resistiram à empreitada. Apenas 167 policiais franceses perderam a vida, apesar da ordem de Adolf Hitler ao general Von Choltitz de reduzir Paris a ruínas - missão que ele decidiu, de última hora, desobedecer.

A vitória se consolidou com a chegada das primeiras tropas aliadas nas ruas da capital, em 24 de agosto. Um dia depois, o general De Gaulle desfilaria, triunfante, na avenida Champs Elysées, aplaudido pela multidão.  

A comemoração é celebrada este ano em um contexto de ascensão da extrema direita na União Europeia e na França, enquanto a Ucrânia enfrenta seu terceiro ano de combates com a Rússia.  Claire Rol-Tanguy, filha do coronel Rol Tanguy, que dirigiu as forças francesas em Paris, declarou que estas cerimônias são necessárias porque têm "ligações com a atualidade, que nos permitem mostrar que não há fatalidade", disse. "Resistir, às vezes é muito difícil, mas no final vencemos", comentou.

As homenagens também são populares: bandas marciais, músicos e dançarinos já se apresentaram no sábado para relembrar o clima de Paris no dia 24 de agosto de 1944, quando os primeiros soldados da 2ª DB chegaram.

Homenagem a republicanos espanhóis

Paris também prestou homenagem aos 160 homens da 'Nove', a 9ª companhia do regimento em marcha do Chade, em sua maioria republicanos espanhóis, que sob o comando de Leclerc e do capitão Raymond Dronne, foram os primeiros a entrar a capital.

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Apesar do seu papel ativo na libertação de Paris, só na década de 2000 é que estes homens foram reconhecidos. Após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), eles continuaram lutando no norte da África, na França e na Alemanha para derrotar o nazismo.

"Ao libertar Paris, estes homens marcaram o início da libertação da França e do continente europeu (...), da história europeia, da história das nossas liberdades", celebrou no sábado a prefeita parisiense, Anne Hidalgo.

A história deles foi esquecida durante décadas. Depois da guerra, a França marcada pela colaboração do regime de Vichy com a Alemanha nazista tentou apresentar a libertação de Paris como um ato dos franceses.

"Paris indignada! Paris destruída! Paris martirizada! Mas libertada, libertada por si mesma, libertada por seu povo, com a colaboração dos exércitos da França", gritou, em 25 de agosto de 1944, o general Charles de Gaulle, líder da França Livre.

Os descendentes dos exilados espanhóis continuam sua luta pela memória da 'Nove' e "de todos os estrangeiros que permitiram esta vitória da liberdade e da paz" na França, nas palavras de Véronique Salou, da associação 24 de agosto de 2024.

Com AFP

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