Prisão de CEO do Telegram e suspensão da X mostram que democracias podem agir contra abusos de redes sociais

No espaço de apenas alguns dias o cerco se fechou em torno de duas plataformas, X e Telegram, que atravessam uma crise sem precedentes, segundo o jornal francês Le Figaro, nesta terça-feira (3). O indiciamento de Pavel Durov, CEO do Telegram, em Paris e a suspensão da rede social X, o antigo Twitter, no Brasil, mostram que grandes democracias começaram a agir contra os abusos das redes sociais. 

Nunca antes a Justiça de duas democracias tinha tomado tais medidas contra redes sociais, sublinha o jornal, citando a suspensão do antigo Twitter no Brasil, por ordem do ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, "figura importante na luta contra a desinformação". Um golpe para a rede social, que tem no país um quarto de seu mercado mundial, com 22 milhões de usuários, lembra.

Le Figaro destaca que a suspensão da rede social acontece em um contexto político tenso, já que em um mês serão realizadas eleições municipais que vão permitir medir a relação de forças entre o campo do presidente Lula, que apoia a suspensão do X, e a direita, que fez do dono da rede social, Elon Musk, seu aliado. O ato do ministro do Supremo lembra que em todas as democracias, o fechamento de uma plataforma pode acontecer, salienta o jornal.

Prisão espetacular

Na França, a medida tomada foi ainda mais espetacular, com a prisão do dono do Telegram, Pavel Durov, ao aterrissar em Paris, em 26 de agosto, vindo do Azerbaijão.

Na semana passada, o empresário russo, que também tem nacionalidade francesa, foi indiciado e colocado sob controle judicial, por cumplicidade na disponibilização e administração de uma plataforma que permite transações ilícitas, difusão de imagens pornográficas com menores e tráfico em quadrilha. A Justiça francesa também acusa Durov de se negar a cooperar com as autoridades do país.

Ao contrário da disputa entre Musk e Moraes, a prisão de Durov foi repentina. Enquanto outras redes como TikTok ou X são objetos de queixas em Bruxelas e na França, este não era o caso do Telegram.

De acordo com especialistas entrevistados pelo Le Figaro, em ambos os casos, esta é a primeira vez que a Justiça vai tão longe. Durante cerca de vinte anos, os Estados observaram a inovação atravessar fronteiras e pareciam impotentes diante dos abusos. Eles não têm mais a mesma modéstia de antes. As fronteiras reapareceram no mundo digital. A Internet está se fragmentando. Diante do aumento do poder das plataformas, todos podem policiar, afirma o jornal.

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